Jornal Estado de Minas

NO FRONT

Músicos ucranianos trocam romantismo por hinos de guerra


A mensagem por trás da última música de Arsen Mirzoyan é simples: fique na Ucrânia e lute. “Não tenho mais medo/ não existo mais sem você/ e se este é meu país/ então é meu”, diz a letra.





O roqueiro ucraniano escreveu a canção quando estava no front, em Kiev, nos primeiros dias da invasão russa.

“Queria fortalecer os sentimentos daqueles que hesitavam entre ficar e fugir. Queria apoiar aqueles que decidiram ficar em Kiev”, diz ele, mostrando, em seu celular fotos de cadáveres, equipamentos russos destruídos e shows improvisados.

Desde o início da guerra, cantores e compositores se propuseram a canalizar a raiva e o impulso patriótico da população em hinos comoventes.


Yana Manuilova, DJ da rádio NRJ, toca 'canções de guerra' em seu programa matutino (foto: Sergei Supinsky/AFP)

DRONES

A música desempenha papel importante na luta contra os russos. O repertório varia de ode a drones fabricados na Turquia a mix de batidas populares do TikTok sobre tanques destruídos.




Artistas de estilos muito diferentes contribuem para o fenômeno: do black metal ao grupo Kalush Orchestra, que venceu o festival Eurovision.

“A vitória é muito importante para a Ucrânia”, afirmou Oleg Psiuk, líder da Kalush, após a competição.
 
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Houve músicos que largaram os instrumentos para pegar em armas. É o caso dos integrantes da banda de rock Antytila, que retornaram brevemente a Kiev em maio para tocar uma versão de “Stand by me” com Bono e The Edge, do grupo irlandês U2, no metrô da capital ucraniana.

Nas ondas do rádio, canções patrióticas falam da bravura dos defensores do país e da brutalidade da guerra.

Bono com Taras Topolia, vocalista da banda ucraniana Antytila, e The Edge em show no metrô de Kiev, em 8 de maio passado (foto: Sergei Supinsky/AFP)

FORÇAS

“Entendemos que se trata de uma guerra longa e precisamos de forças”, explica Julia Vinnychenko, diretora de programação da rádio NRJ. O lema dessa estação de Kiev mudou. Agora é “Coragem para a vitória”.





“Todas as canções estão relacionadas à guerra de uma forma ou de outra. Retratam diferentes humores, melancolia, tristeza, sofrimento, desejo de vitória”, explica a DJ Yana Manuilova sobre o repertório que seleciona para o programa da manhã.

“Estou muito impressionada com a rapidez com que os artistas ucranianos reagiram criativamente à guerra”, comenta Yana.

“O panorama mudou”, diz Danylo Khomutovsky, cofundador da rádio Aristocrats, que tem sede em Kiev. Antes, a maioria dos artistas evitava lidar com questões políticas. “Agora eles começaram a agir como se tivessem a responsabilidade de influenciar outras pessoas, centenas, milhares, milhões”, afirma.

Compositores passaram a criar canções com letras ultra-agressivas, elogiando o espírito de luta ucraniano. Uma das mais famosas é “Dont't fuck with Ukraine” (“Não foda com a Ucrânia”), de Max Barskih.

Canções de guerra transmitem o sentimento de triunfalismo, apesar do recente progresso militar dos russos no Leste do país.

Apesar da destruição, o show continua. Recentemente, em Kiev, o grupo Ocheretyanyi Kit tocou em cima de um tanque russo queimado. Uma das canções dizia respeito aos mísseis Javelin fornecidos pelos Estados Unidos.

“Neste momento, não podemos cantar canções de amor”, diz o vocalista Serguei Tiagnyriadno.