Jornal Estado de Minas

MORTE

Ator Milton Gonçalves morre aos 88 anos

O ator mineiro Milton Gonçalves morreu nesta segunda-feira (30/5), no Rio de Janeiro. Ele tinha 88 anos.
 
A notícia foi divulgada por familiares. Segundo eles, o ator morreu em casa, por volta das 12h30, por consequência de um problema de saúde que vinha enfrentando desde que teve um AVC, em 2020.





Na época, Milton chegou a ficar três meses internado e precisou da ajuda de aparelhos para respirar.

Durante toda a carreira, o ator participou de mais de 40 novelas na TV Globo, onde também fez programas humorísticos e minisséries. 

Ele esteve em grandes sucessos, entre eles: "Irmãos coragem" (1970); "A grande família" (1972); e "Escrava Isaura" (1976); "Carga pesada" (1979) e "Caso verdade" (1982-1986).

O ator foi indicado ao Emmy Internacional, depois de sua  atuação como Pai José na segunda versão da novela "Sinhá moça" (2006). 
 
Por conta da indicação, ele foi convidado para apresentar uma das categorias do prêmio, se tornando o primeiro brasileiro a cumprir essa função que, no caso, foi ao lado da atriz norte-americana Susan Sarandon. 





O ator em cena da novela "O tempo não para", da Globo, onde atuou por décadas (foto: TV Globo/Divulgação)
Seu último trabalho na TV foi na minissérie "Se eu fechar os olhos agora", de 2019. Antes disso, ele atuou na novela "O tempo não para", transmitida entre 2018 e 2019. 
 
Atualmente,  o ator pode ser visto na novela "A favorita" (2008-2009),  que está sendo reprisada no "Vale a pena ver de novo".
 

HISTÓRIA

 
Nascido em Monte Santo, no sudoeste de Minas Gerais, Milton Gonçalves se mudou, ainda na infância, para São Paulo, onde foi aprendiz de sapateiro, de alfaiate e de gráfico. Mas o gosto pela atuação se manifestou cedo e ele iniciou a carreira de ator em 1957, no Teatro Arena, na peça "Ratos e homens", de John Steinbeck.
 
A estreia no cinema veio um ano depois, em 1958, no filme "O grande momento", de Roberto Santos.
Na década de 1960, atuou em filmes como "Cidade ameraçada" (1960), "Cinco vezes favela" (1962), "Paraíba, vida e morte de um bandido" (1965) e "Toda donzela tem um pai que é uma fera" (1966). 




O ator em cena do longa "Rainha Diaba", um dos destaques em sua carreira no cinema (foto: Arquivo EM)

Em 1975, com o filme "Rainha diaba", lançado do mesmo ano, ele recebeu o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília. 

Milton Gonçalves ainda participou de produções que marcaram a história do cinema nacional como "Eles não usam black-tie" (1980), "O rei do rio" (!985), "O dia da caça" (2000) e "Carandiru" (2003). 

Junto com Célia Biar e Milton Carneiro, Gonçalves integrou o primeiro elenco de atores da Globo. Ele chegou à emissora a convite do ator e diretor Otávio Graça Mello, de quem fora companheiro de set no filme "Grande sertão" (1965), dos irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira.




 
Confira trailer do longa "Segurança nacional", no qual Milton Gonçalves interpreta o presidente do Brasil:


HOMENAGEADO 

 
Em 2015, na abertura da 10ª edição do CineOP - Mostra de Cinema de Ouro Preto, Milton Gonçalves recebeu homenagem pelo conjunto da carreira. Na ocasião, ele concedeu uma entrevista para o Estado de Minas em que falou sobre o papel do cinema em sua vida. 

"Estou na TV Globo desde 1965. Quando você olha todo o crescimento do audiovisual no Brasil, dá orgulho. Sinto que participei desse processo, que dei minha contribuição para ele", afirmou. 

Quando criança, ele era estimulado pela mãe a ir ao cinema. Mais tarde, quando virou ator, se deu conta da ausência de protagonistas negros na telona. 

"O cinema era o sonho de ser amado, respeitado, homenageado pelo público. Levei tempo para entender por que não havia heróis negros, por que éramos tratados como bobos”, avaliou Milton. 

"Queria ter feito mais filmes, mas não existiam personagens negros como protagonistas. O que havia eram participações ou o folclore, o que é complicado. Ser ator de cinema é ver o seu rosto na tela, o que é fantástico. É um salto qualitativo no sentido de integração sem humilhação", ele afirmou.





'MESTRE'


"Agradeço imensamente todos os caminhos que o senhor abriu pra nós. Me sinto privilegiado por ter te assistido em cena e testemunhado toda sua inteligência cênica, assim como me sinto honrado por termos nos encontrado tantas vezes no trabalho. Obrigado por ser inspiração e pelo seu pioneirismo. Receba meu mais caloroso aplauso", escreveu Lázaro Ramos, nas redes sociais, ao lamentar a morte de Milton Gonçalves. 
 
Ao relembrá-lo, Ingrid Guimarães chamou o ator de "mestre". "Um meste em sua arte e trajetória. A cultura desse país sente sua partida, Milton Gonçalves. Descanse", escreveu a atriz.  

A atriz e cantora Zezé Motta, que contracenou com Milton no especial "Quando você acredita, existe", exibido pela TV Globo, não poupou elogios ao colega. "Quando alguém de tanta importância se despede de nós, sempre me faltam muitas palavras, como agora... Milton Gonçalves era dos mais importantes atores que este país já teve. Milton faz parte da história da TV Brasileira. Um gênio, elegante, brilhante profissional."

Sônia Braga elogiou o artista e sua entrega em cena. "Querido Milton, você não foi apenas um grande ator. Era, sobretudo, um colega de cena generoso e amável, além de extremamente culto. Vai nos fazer uma falta imensa. Descanse em paz", escreveu.