Jornal Estado de Minas

AUDIOVISUAL

Dois anos de pandemia radicalizaram a revolução da TV


O panorama televisivo mudou irremediavelmente em dois anos de pandemia. A telinha continua dominando, mas a audiência se tornou volátil, a oferta está cada vez mais fragmentada e a luta entre redes e plataformas se intensificou.





“A pandemia mundial modificou, consideravelmente, o consumo dos meios de comunicação”, destaca o Observatório Europeu do Audiovisual em relatório sobre as tendências do setor.

Telespectadores europeus passaram 3h42min, em média, por dia, na frente da televisão em 2021, aumento de 3min em relação a 2019, conforme dados relativos a 36 países compilados pela Glance, que pertence ao grupo Médiamétrie, especialista em mercados televisivos internacionais.

Sucesso globalizado, seriado sul-coreano ''Round 6'' deu aos atores Lee Jung-jae (centro) e Jung Ho-yeon (direita) o respeitado prêmio SAG 2022 (foto: Netflix/divulgação)

CORRIDA COMPETITIVA

O trio “séries de TV de qualidade, intenso factual e eventos esportivos de alto nível” mantém os canais tradicionais na corrida pelo espectador, afirmou o vice-presidente da Glance, Frédéric Vaulpré, durante o encontro internacional dos mercados de televisão MIPTV, que começou na segunda-feira (4/4) em Cannes, na França.




Grupos tradicionais, que se dedicam à TV aberta, redobram os esforços para competir com as plataformas, exibindo seriados com elencos estrelados e roteiros elaborados.

É o caso de “Vigil”, série coproduzida pela BBC e pelo Arte, melhor estreia no Reino Unido em 2021, e de “HPI”, da rede francesa TF1 (exibida no Brasil como “Morgana: A detetive genial”), que obtém os melhores resultados de audiência na França desde 2005.

O consumidor evolui e escolhe os programas que quer ver, seus horários (ao vivo ou gravado) e a maneira como vai fazer isso – televisão, celular, tablet, ou computador.

Cresce a chamada pré-transmissão, ou seja, a oferta de programa exclusivamente on-line para assinantes antes de a atração ser transmitida em sinal aberto. “É uma tendência clara há alguns anos, que está se consolidando no Reino Unido”, afirma o relatório da Glance.

O canal britânico por assinatura Sky Atlantic já transmite 55% de seus programas dessa forma. “Todos estão organizando suas armas nesse mercado hiperdinâmico, em que se percebe grande vontade de descobrir novos conteúdos”, afirma Frédéric Vaulpré.





A concorrência é feroz entre as grandes plataformas norte-americanas. A Netflix continua na liderança, com 221,8 milhões de assinantes em todo o mundo, seguida de perto por Disney, Amazon e HBO.

Na corrida para propor conteúdos inovadores, as fronteiras culturais se diluem. O melhor exemplo disso é o sucesso planetário da série sul-coreana “Round 6”, que alcançou a audiência de 142 milhões de pessoas, apenas um mês depois de sua estreia na Netflix.

De acordo com a consultoria Ampère Analysis, a Netflix prevê, para 2022, 398 programas originais, um recorde.

Com 130 milhões de assinantes, a Disney já lançou 340 conteúdos originais fora dos Estados Unidos.

Por sua vez, a Amazon Prime Video, que tem cerca de 175 milhões de assinantes, acaba de finalizar a compra do lendário estúdio de cinema MGM. Seu catálogo chega a 56 mil títulos, contra os 20 mil que a Netflix pode oferecer.





Estrelada por Audrey Fleurot, a série ''HPI'', da rede TF1, bate recordes de audiência na França há 17 anos (foto: TF1/reprodução)

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Modelos de assinatura variam de acordo com os mercados. Como já fez a HBO Max, a Disney anunciou que, no final deste ano, oferecerá nos Estados Unidos uma opção para assinantes com publicidade.

Essa também é a proposta das chamadas FastTV, como PlutoTV (Viacom CBS) ou IMDb TV (Amazon), o que significa a “volta para o futuro”, ou seja, assistir à televisão de maneira gratuita, com anúncios.