Jornal Estado de Minas

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Camila Queiroz está 'De volta aos 15' na pele de Maisa Silva

 


Anita tem 30 anos e chegou à idade adulta sem preencher alguns dos pré-requisitos para ser considerada uma pessoa que deu certo na vida. Perdida na profissão que escolheu seguir e nos relacionamentos amorosos que não deram certo, ela volta para sua cidade natal para o casamento da irmã. 





No quarto onde passou toda a adolescência, Anita encontra seu antigo computador, pelo qual ela acessa uma rede social de compartilhamento de fotos que, magicamente, a transporta para sua realidade de 15 anos atrás.

Esse é o mote da série brasileira "De volta aos 15", que estreia nesta sexta-feira (25/2) na Netflix. Para dar vida a Anita nas diferentes fases, a plataforma de streaming escalou Camila Queiroz, de 28 anos, e Maisa Silva, de 19. Trabalhando a distância devido à pandemia da COVID-19 – a primeira gravou no Rio de Janeiro, enquanto a segunda gravou em São Paulo –, as duas fizeram um trabalho intenso com as preparadoras de elenco e com a equipe de caracterização.

"Desde o princípio, foi uma troca muito genuína por parte das duas. A gente teve um 'match' muito verdadeiro. Criamos a Anita juntas. Foi um trabalho de muita escuta e troca. O fundamental foi ouvir e se observar", disse Camila, em coletiva de imprensa realizada virtualmente para a divulgação do filme, no início do ano.





O tema da série não é exatamente inédito. Esse tipo de viagem no tempo já foi explorado, por exemplo, no longa "De repente 30" (2004), de Gary Winick, no qual uma jovem vai parar no corpo de sua versão mais velha. "De volta aos 15" faz o caminho inverso: a versão mais velha vai parar no corpo da jovem.

Camila Queiroz diz que a construção da personagem única foi baseada em muito diálogo e troca entre as duas atrizes, embora tenham gravado em cidades distintas (foto: Netflix/Divulgação)

 
 

ADOLESCÊNCIA 

Por ser uma menina de 15 com a maturidade de quem tem 30, Anita lida com os problemas da adolescência de frente, sem se deixar intimidar. Quando os colegas de escola tiram sarro de seu cabelo crespo, ela fala sobre empoderamento e autoestima femininos. Ao descobrir que sua prima está namorando um "boy lixo", faz de tudo para separá-los. O problema é que mexer no passado gera consequências no futuro.

O texto é uma adaptação da série de livros de Bruna Vieira, baseados no blog que ela mantém até hoje na internet. Tanto Camila quanto Maisa já conheciam a versão original, que faz bastante sucesso entre o público jovem.





"Eu li os livros durante a pandemia, em 2020, em dois ou três dias. É uma história muito envolvente. Depois que você começa, não quer parar, e acho que a série conseguiu captar essa qualidade. A cada capítulo, o livro conseguiu manter dentro de mim aquela chama acesa de curiosidade para saber o que vai acontecer depois", comenta Maisa.

"Eu sou fã da Bruna (Vieira) nas redes. Quando me convidaram para o projeto, reagi como fã e depois me dei conta de que eu interpretaria uma versão mais velha da Maisa. Fiquei muito empolgada com isso. É a minha primeira série e estou logo fazendo uma personagem de livro que as pessoas já conhecem. Tem um peso nisso, uma responsabilidade", avalia Camila.
 

SAÍDA DA TV 

Esse é o primeiro projeto da atriz desde "Verdades secretas 2", obra do Globoplay e da TV Globo na qual ela reprisou a personagem Angel. Em novembro de 2021, a emissora anunciou que Camila não fazia mais parte da novela por ter feito "demandas contratuais inaceitáveis". Em dezembro, ela rebateu as acusações e disse que apenas queria saber se sua personagem se encerraria para organizar a vida e outros projetos profissionais – como "De volta aos 15" e o comando do reality "Casamento às cegas", ambos da Netflix.





Maisa Silva, por sua vez, não renovou o contrato com o SBT/Alterosa no final de 2020. Seu último projeto na emissora foi o "Programa da Maisa". Em 2021, ela retornou ao canal como participante do reality culinário "Bake off celebridades". Embora "De volta aos 15" seja sua estreia no formato de série, ela tem um projeto anterior com a Netflix, que a convidou para o elenco do filme "Pai em dobro" (2021), original da plataforma.

"As séries são um universo totalmente novo para mim. A gente fica mais tempo dedicada a uma história, mas não chega a ter a extensão de uma novela. Acredito que essa história está no formato certo. Ela tem muitas viradas e reviravoltas. Para ela ser completa, precisava ser uma série", avalia Maisa.

Como as gravações ocorreram durante a pandemia, foi necessário seguir rígidos protocolos sanitários. "Isso nos deu toda a segurança para continuar trabalhando nos períodos mais dificeis", comenta Camila. "A vontade era se ver mais, ficar mais perto, mas realmente não foi possível. Quando começamos a gravar, tudo fluiu muito bem. Não atrapalharam em nada o fluxo da nossa criação."





Maisa diz que a circunstância interferiu mais “na nossa vida pessoal”. A atriz afirma que, "em tempos normais, rolariam encontros entre o elenco, por exemplo. Para o trabalho em si, foi muito bom justamente pela nossa segurança e a de todo mundo da equipe. Quando você assiste à série, nem parece que ela foi gravada nesse período".

A história se passa majoritariamente no começo dos anos 2000. Em razão disso, esse período está impregnado no figurino, na trilha sonora e no comportamento dos personagens. Em "De volta aos 15", os jovens ainda utilizam o Orkut, adotam a estética emo e brincam com tamagoshis.

"Como eu não vivi a adolescência nesse período, tive a oportunidade de entrar em contato com todos esses elementos. Me joguei e aproveitei que a ficção estava me permitindo experimentar esse período", comenta Maisa.




 

SEXUALIDADE 

A série também aborda questões de gênero e sexualidade. Um personagem do passado aparece no futuro como uma mulher trans. Em outra passagem, dois personagens decidem transar, mas a condição para que isso aconteça é o uso de preservativo.

"Depois de ter assistido, eu fiquei pensando como teria sido importante para mim assistir a isso com 13, 14 anos e aprender sobre essas questões com leveza. Eu fui lidar com esse tipo de assunto depois dos 15, muito por conta da internet. A ficção tem um jeito muito bonito de tocar as pessoas e, no caso da nossa série, a representatividade está de forma leve, sem ser clichê. É natural", analisa Maisa.

"Eu acho superinteressante que a série não para para explicar a transição da personagem. É colocado de forma natural, não é uma questão. Dessa forma, deixa de ser um tabu. O nosso trabalho é comunicar e a gente tem que fazer essa comunicação de uma forma leve. Se eu pudesse ter assistido a algo assim na adolescência, tudo seria muito mais leve", afirma Camila.





Para ela, a grande moral dessa história está no fato de a protagonista não ter se encontrado ainda na vida, apesar de ter 30 anos. "Minha mãe com 30 anos já tinha três filhos e estava casada. A minha geração e a geração da Maisa não têm uma obrigação em relação a isso. Temos muito mais liberdade de escolha. Hoje, com 30, você pode ter cursado uma faculdade com a qual você se decepcionou, pode começar tudo de novo. A gente tem a chance de se conhecer e mudar 3600 o percurso da nossa vida", ela afirma.

"De volta aos quinze", o livro, tem uma continuação, "Depois dos quinze". Segundo as atrizes, ainda não dá para dizer se isso significa que uma segunda temporada vem por aí, mas elas não escondem a empolgação em continuar no projeto.

"Queremos muito que uma nova temporada aconteça. A série termina com um gancho muito bom que dá espaço para mais uma ou duas temporadas. Mas isso depende de como será a recepção dela nesse lançamento. Esperamos que dê tudo certo e que ela seja um sucesso", torce Camila.

“DE VOLTA AOS 15”

Série em seis episódios, com estreia nesta sexta-feira (25/2), na Netflix