Jornal Estado de Minas

ARTE MODERNA

Semana de 22 é tema do Festival de Verão da UFMG, que começa amanhã (9)


A 16ª edição do Festival de Verão da UFMG, que tem início nesta quarta-feira (9/2) e prossegue até sábado (12/2), se debruça sobre duas questões que dialogam entre si. Ancorada sobretudo em palestras e debates, a programação, totalmente gratuita e on-line, tem como tema “Culturas em movimento: olhares da UFMG sobre a Semana de Arte Moderna”. Esse foi um modo de abarcar reflexões acerca da multiplicidade de saberes que constituem o campo de conhecimento das artes.





Transmitidos pelo canal Cultura UFMG, no YouTube, os encontros programados se equilibram entre a Semana de 22, com foco em suas ressonâncias no atual panorama cultural brasileiro, e no que a diretora-adjunta de ação cultural da UFMG e coordenadora do festival, Mônica Ribeiro, chama de pluriepistemologia. 

A abertura desta 16ª edição será marcada por uma homenagem ao artista indígena Jaider Esbell, falecido em 2 de novembro passado. A cultura e os saberes dos povos indígenas, aliás, também são uma tônica no Festival de Verão da UFMG deste ano.

Na homenagem que será prestada a Esbell, conduzida pela professora da Escola de Belas Artes Lúcia Pimentel, o público poderá assistir novamente à palestra “Rever Makunaíma”, que foi proferida pelo artista em 2021, durante o 53º Festival de Inverno UFMG. 





“A gente começou a pensar no ano passado a Semana de Arte Moderna de 1922 e principalmente as repercussões do modernismo brasileiro na atualidade, por meio de uma parceria com o projeto Minas Mundo, que envolve várias universidades e pesquisadores. No último Festival de Inverno, já propusemos discussões para abordar os mais variados aspectos da Semana de 22”, diz Mônica Ribeiro.

CONTRADIÇÕES E AUSÊNCIAS

Ela destaca que neste Festival de Verão 2022, a ideia é pensar, à luz da contemporaneidade, as provocações e reflexões postas naquele momento, há 100 anos, que promoveram uma série de impactos e desdobramentos. “Em diversos eventos feitos Brasil afora por conta do centenário da Semana de 22, fala-se não somente das ressonâncias, mas também das ausências e das contradições. Nossa proposta foi tensionar um pouco o que hoje conseguimos pensar a partir das reverberações do modernismo no Brasil”, aponta.

Foram convidados para esses debates majoritariamente professores e pesquisadores da própria UFMG ou vinculados de uma maneira contínua a ela, segundo a coordenadora. Mônica ressalva que não se trata, contudo, de uma discussão interna. A ideia é que a cidade possa conhecer o pensamento da universidade sobre essa temática.





“A UFMG é parte da cidade, a compõe, e temos aqui tanta gente com um histórico incrível e com potência artística. Precisamos trabalhar com o que temos, colocar na roda os nossos pares. A gente tem muita riqueza de pensamento e de produção de conhecimento. Queremos que isso seja para a cidade, o estado e o país”, diz.

Ela observa que o formato on-line permite um alcance muito maior, sobretudo porque, depois de realizados, os debates permanecerão disponíveis no canal Cultura UFMG.

Em cada um dos quatro dias do 16º Festival de Verão da UFMG, uma abordagem específica é proposta sobre a Semana de 22 ou a partir dela. Amanhã, após a homenagem a Jaider Esbell, a primeira roda de conversa será sobre as ressonâncias do modernismo no cenário contemporâneo, com os professores Nísio Teixeira, do departamento de Comunicação; Roberto Said, do departamento de Letras; e Maria Angélica Melendi, do departamento de Artes Plásticas. A mediação fica a cargo da própria Mônica, que também é professora do departamento de Belas Artes.

OS EXCLUÍDOS 

Na quinta-feira (10/2), especialistas e pesquisadores refletirão sobre os grupos, as comunidades e os modos de fazer que não foram contemplados pela Semana de Arte Moderna, como as artes negra e indígena. “Se no primeiro dia a gente observa como o modernismo impactou o fazer artístico e cultural do país, no segundo a gente vai justamente para a lacuna, para a fissura, o que não entrou, o que não foi representado. Podemos lançar um olhar sobre isso à luz das pautas sociais da atualidade”, diz a coordenadora.





Na sexta-feira (11/2), o célebre “Manifesto da poesia pau-brasil”, escrito por Oswald de Andrade em 1924, vai inspirar um dia dedicado a se pensarem as emergências culturais no contexto sócio-político contemporâneo. “Ver com os olhos livres”, uma das máximas presentes no documento, é interpretada aqui como a possibilidade de se praticar e fruir a cultura com base na alteridade e na diversidade.

Às 19h de sexta, haverá a palestra “Modernismo: uma questão de memória”, com a poeta, tradutora e professora do departamento de Letras da UFMG Vera Casa Nova. Em seguida, às 20h, uma roda de conversa com a pianista Ana Cláudia de Assis, professora da Escola de Música da UFMG; com o professor Marcos Alexandre, do departamento de Letras; e com Gabriela Guerra, artista, pesquisadora e doutoranda em educação pela UFMG, dá sequência ao tema. 

“Nessas rodas, a curadoria buscou contemplar pessoas de diversos campos do conhecimento. A ressonância é ampla, o modernismo impactou toda a cultura, não só o fazer artístico”, diz Mônica Ribeiro.





A multiplicidade de saberes é o que dá o tom no último dia desta 16ª edição do festival. Uma roda de conversa sobre essa temática vai reunir os professores César Guimarães, da pós-graduação em comunicação da UFMG; Sônia Queiroz, do departamento de Letras, e Edgar Kanaykô, pertencente ao povo indígena xakriabá de Minas Gerais, mestrando em antropologia na UFMG, artista e fotógrafo.

De acordo com Mônica, trabalhar com os “saberes em trânsito” é algo movido pelo clamor presente tanto no “Manifesto da poesia pau-brasil” quanto no “Manifesto antropofágico”, também de autoria de Oswald de Andrade. “Nos interessa trabalhar com outros saberes que, naquele momento, em 1922, ficavam de fora. Hoje, a universidade se abre para isso, é a prática de uma pluriepistemologia que vai na contramão de um modelo hegemônico de saber. O encerramento do festival é um dia para se pensar a universidade como um território plural”, salienta. 

Intervenção urbana "Entidades", do artista indígena Jaider Esbell (1979-2021), no Viaduto Santa Tereza, em 2020. Ele será homenageado na abertura do festival e sua palestra "Rever Makunaíma", apresentada na edição passada do evento, ficará disponível

ABERTURA PARA SABERES

“Na atualidade, há um movimento de abertura para outros conhecimentos e saberes na academia. Já é possível a presença dos saberes científicos com as artes e com os saberes da tradição, configurando essa pluriepistemologia de que falamos. Durante esta edição do festival, vamos realçar essas várias vozes que compõem a universidade que desejamos”, complementa a coordenadora.





Ela aponta que o espaço aberto para a questão indígena, sua cultura e suas tradições, que vem sendo mantido ao longo dos dois últimos anos, é precisamente um reflexo desse desejo. “A gente vem fazendo essas parcerias de reflexão com os sujeitos indígenas há algum tempo, e mais fortemente a partir de 2020, quando o tema foi ‘Mundos possíveis – culturas em pensamento’. A partir da chegada da pandemia, a gente tem uma presença muito importante do pensamento indígena e do pensamento negro nas nossas ações de cultura. Isso tem, sim, sido objeto de uma atenção curatorial, porque reconhecemos a necessidade de se construir esse território plural com o compartilhamento dos mais diversos saberes”, afirma.

Ela aponta, a propósito, que a UFMG vai lançar este ano o livro “Mundos possíveis”, escrito a partir daquela edição de 2020 do festival, que traz o pensamento de diversos expoentes indígenas ao lado de vários outros intelectuais. “Estamos no rumo de viabilizar essas conversas, esse compartilhamento reflexivo.”

MAPA CULTURAL 

Outro título no prelo, com previsão de lançamento para este primeiro semestre, é “Mapa cultural da UFMG”, que foca na inserção das ações culturais da universidade em âmbito regional, nacional e internacional. “É uma forma de ver como a universidade impacta e dialoga com aquilo que nos está próximo, os bairros de Belo Horizonte, as cidades do interior de Minas. Reitero isto: a universidade compõe a cidade, faz parte da cidade, ela é a cidade também. É importante a gente praticar a pluralidade nos nossos diversos territórios, incluindo o epistemológico. A UFMG sabe disso, mas precisa mostrar isso”, diz Mônica.





No encerramento do 16º Festival de Verão UFMG, no sábado (12/2), às 20h30, haverá a exibição do videodocumentário “MEC – Movimento em cena”, com o intuito de ampliar e aprofundar a mostra coreográfica “Direito à cultura nas quebradas”, realizada em 2021 pela programação do 15º Festival de Verão UFMG. Idealizado por Celo Mendes, o vídeo conta com a concepção coreográfica de 14 artistas plurais e ativos na cena das danças da Grande BH.

16º FESTIVAL DE VERÃO UFMG

Com o tema “Culturas em movimento: olhares da UFMG sobre a Semana de Arte Moderna”. Desta quarta (9/2) a sábado (12/2). Programação gratuita, transmitida pelo canal Cultura UFMG, no YouTube

PALESTRAS E DEBATES

Confira a programação completa desta edição do festival

» QUARTA-FEIRA (9/2)
18h30: Solenidade de abertura oficial
19h: Homenagem a Jaider Esbell, com Lucia Pimentel, e reapresentação da palestra “Rever Makunaíma”, de Jaider Esbell
20h: Roda de conversa com Nísio Teixeira, Roberto Said e Maria Angélica Melendi

» QUINTA-FEIRA (10/2)
19h: Palestra: “Psicanálise literária: o campo do fora”, com Lucia Castello Branco
20h: Roda de conversa com Eduardo de Jesus, José Newton Meneses e Ricardo Aleixo

» SEXTA-FEIRA (11/2)
19h: Palestra: “Modernismos: uma questão de memória”, com Vera Casa Nova
20h: Roda de conversa com Ana Cláudia de Assis, Gabriela Guerra e Marcos Alexandre

» SÁBADO (12/2)
18h: Palestra: “Sobre beleza e possibilidades de salvar o mundo”, com Maurício Campomori
19h: Roda de conversa com César Guimarães, Edgar Kanaykõ e Sônia Queiroz
20h30: Videodocumentário “MEC – Movimento em cena”