Jornal Estado de Minas

CINEMA

Veja como o 'durão' Clint Eastwood virou o sensível narrador da alma humana

 
Com quase sete décadas de carreira e mais de uma centena de filmes no currículo – como ator, diretor, produtor ou compositor –, Clint Eastwood, do alto de seus 91 anos, é um dos nomes icônicos da história do cinema. Depois de estrelar faroestes de Sergio Leone e filmes de ação de Don Siegel, ele abraçou a carreira de cineasta e lançou obras consagradas: “Menina de ouro”, “Gran Torino”, “As pontes de Madison”, “Sniper americano” e “Cartas de Iwo Jima”. É justamente essa faceta que a mostra “Clint”, em cartaz no Cine Humberto Mauro, explora.





Até 6 de março, 25 títulos serão exibidos. Bruno Hilário, gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado, observa que o foco no diretor não exclui o ator, pois Eastwood protagoniza boa parte de seus filmes. “Na medida em que foi se estabelecendo como diretor, ele deixou de atuar em filmes de outros cineastas, mas é presença constante em sua própria obra”, diz.

A polivalência é elemento marcante na obra de Eastwood. “É um desafio atuar, se dirigir e dirigir o outro. Meryl Streep já chamou a atenção para isso, disse achar impressionante a capacidade dele de não perder o foco, de estar nos dois lugares. Clint sempre teve consciência muito forte sobre como queria construir o personagem e como ia se dirigir”, aponta.

A imagem do caubói durão e implacável imortalizada por Clint Eastwood nos faroestes de Leone – que já integraram outros eventos do Cine Humberto Mauro – está, de certa forma, presente nos filmes que compõem a atual programação, pois essa persona nunca deixou de estar presente em sua trajetória, comenta Hilário.



ARQUÉTIPO DO MACHO

“Quando pensamos na figura que ele encarna, é muito arquetípica, muito específica. Ocupa o lugar do macho, da virilidade, do olhar profundo. Essa persona ficou imortalizada, mas foi sendo levada para outros lugares, ganhando contornos diferentes ao longo da carreira. Ele transitou do western para o drama, a comédia, o romance e para o filme de guerra sempre levando essa figura consigo”, ressalta.

Nesse trânsito por diferentes gêneros, o personagem arquetípico de Eastwood foi acompanhando o amadurecimento do cineasta e se aproximando de dramas mais humanos, menos fantasiosos e mais distantes do universo dos filmes de ação. Hilário considera que o processo de desconstrução do herói chega ao ápice nos filmes lançados nos anos 1990, como “Os imperdoáveis”, “Um mundo perfeito” e “As pontes de Madison”.

“A linha de desconstrução do herói está ligada a elementos de fragilidade dos personagens. Nos anos 1990, os personagens que ele encarna choram”, comenta.

Outra característica marcante do diretor são as estratégias formais adotadas por ele, como o uso da luz. “Creio que isso esteja na base do cinema dele. Clint faz uma apropriação muito inteligente da luz, porque ela está muito próxima da dramaturgia do filme. É interessante observar como os personagens que ele constrói, sempre às voltas com grandes conflitos éticos, com gestos que trazem resultados complexos, têm a luz auxiliando a dramaturgia, no roteiro. Em ‘Menina de ouro’ a boxeadora vivida por Hillary Swank só sai dos pontos escuros, da sombra, quando está no ringue, lutando”, aponta.




DECADÊNCIA E REFLEXÃO

Os títulos preferidos de Bruno Hilário foram lançados nos anos 2000. Além de “Menina de ouro”, ele cita “Gran Torino” e “Sobre meninos e lobos”. “Esses filmes têm um elemento estimulante, que é a forma como o cineasta coloca suas próprias questões. Em ‘Gran Torino’, ele elabora um lugar de reflexão sobre a decadência das figuras que interpretou no início da carreira com um personagem totalmente abandonado, desligado da comunidade, largado na velhice. Gosto muito desse momento”, diz.

Ele destaca também “O caso Richard Jewell” (2019) estrelado por Paul Walter Hauser, que retrata o atentado terrorista ao Parque Olímpico Centenário durante os Jogos Olímpicos de 1996 em Atlanta, nos Estados Unidos. É a história do segurança que encontrou uma bomba, alertou as autoridades e foi injustamente acusado de ter colocado o artefato explosivo no local.

“Clint não está no elenco, mas há atuações incríveis e passou meio batido, ficou pouquíssimo tempo em cartaz. Esse filme me fez chorar, não pelo tom melodramático, mas pela entrega dos atores. Tem ali um amor e uma crença inabaláveis na força do corpo do ator em cena. Incluí-lo na mostra é uma forma de devolver sua magnitude às telas”, conclui.



“CLINT”

Até 6 de março, no Cine Humberto Mauro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Capacidade: 133 lugares. Informações: (31) 3236-7400. A programação completa está disponível no site da Fundação Clóvis Salgado.

PROGRAMAÇÃO

HOJE (6/2)
18h: “Bird” (1988)

TERÇA (8/2)
15h: “Coração de caçador” (1990)
17h15: “Os imperdoáveis” (1992)
20h: “Um mundo perfeito” (1993)

QUARTA (9/2)
15h: “As pontes de Madison” (1995)
17h30: “Poder absoluto” (1997)
20h: “Meia-noite no jardim do bem e do mal” (1997)

QUINTA (10/2)
15h: “Crime verdadeiro” (1999)
17h30: “Cowboys do espaço” (2000)
20h: “Sobre meninos e lobos” (2003)

SEXTA (11/2)
15h: “A troca” (2008)
17h45: “Menina de ouro” (2004)
20h15: “Gran Torino” (2008)

SÁBADO (12/2)
15h: “Além da vida” (2010)
17h30: “Sniper americano” (2015)
20h: “A mula” (2018)