Jornal Estado de Minas

SUCESSO EM NOVELA

Evelyn Castro diz que Deusa é 'recado desse povo que pega lotação'


Uma coisa na vida de que a atriz Evelyn Castro não pode reclamar é a galeria de personagens que construiu ao longo dos últimos anos. De Uitinei, em “Apaixonados – O filme” (2016), seu cartão de visitas para o Porta dos Fundos, até Suzie, a produtora de eventos de “Juntos e enrolados”, em cartaz em Belo Horizonte, passando por Marraia, uma das filhas de Graça (Rodrigo Santana) no seriado “Tô de Graça” (Multishow), o que não falta são bons trabalhos,  incluindo musicais e participações em longas-metragens e séries. 





Mas é por Deusa, sua personagem na novela “Quanto mais vida, melhor”, em cartaz na faixa das 19h da Globo, que a atriz por ora derrete-se. “Ela é um presentaço”, afirma. “A Deusa é solar, por isso eu sabia que ela faria o público dar risada e tal, mas não imaginava que ela teria tanto espaço como teve. Entrei com uma proposta, e a Deusa foi se transformando em outra. E foi maravilhoso!”, diz ela, que, como todo o elenco da novela, já se despediu das gravações do folhetim. Por causa da pandemia, a emissora carioca optou por colocar no ar uma novela pronta.

Deusa é a empregada da mansão de Celina (Ana Lúcia Torre) e Daniel (Tato Gabus Mendes). Sem papas na língua, volta e meia solta algum petardo sobre a família. “Demos muita sorte em ter um autor (Mauro Wilson) e uma equipe de direção (Allan Fiterman assina a direção artística) tão ligados e tão antenados com a história. Graças a eles, a Deusa foi tendo o espaço dela junto com o Odailson (Thardelly Lima).”  O personagem, no caso, é o motorista da família, que faz de tudo para conquistar Deusa. 

A atriz nos bastidores das gravações do longa-metragem 'Tô ryca', com estreia prevista para a próxima quinta-feira (foto: Downtown/Paris/Divulgação )

SINTONIA FINA

Sobre o colega de cena, Evelyn é só elogios. “O Thardelly e eu escutamos muito bem um ao outro. Aliás, não sei quando na vida eu vou ter um parceiro como ele, que é tão incrível. Foi assim desde o teste para as personagens. Era um momento bem delicado, duas pessoas ali, nervosas, poderíamos atrapalhar um ao outro, mas isso não aconteceu. Não tivemos tempo de ensaiar, de passar o texto. A gente simplesmente se divertiu”, relembra.





Para a atriz, o sucesso de Deusa e Odailson está no fato de eles terem a característica do brasileiro de conseguir tirar leite de pedra. “A gente tem essa capacidade de fazer humor com as nossas desgraças assim, né? Temos uma grande capacidade de ser criativos. Deusa e Odailson são um recado desse povo que pega uma lotação, que ganha mal, que é maltratado no serviço, mas é feliz. Eles escolheram ser felizes.”

Se o sucesso de Deusa é surpresa para Evelyn, a paixão pelo ofício, que só começou a exercer há 10 anos, esteve sempre presente, desde a infância. Ela chegou a fazer curso de interpretação no Tablado, no Rio de Janeiro, mas, sem ninguém na família para orientá-la no ramo, foi-se perdendo, segundo conta. 

“Quando eu entrei para a igreja, voltei a cantar e a fazer teatro lá dentro”, recorda, dizendo que,  daí para a final do “Fama”, reality show de 2005 da Globo, foi um pulo. A trajetória como cantora, que passou por bandas do cenário carioca da época, seguiu até 2017, quando Evelyn preferiu focar na maternidade, no teatro, no cinema e na televisão. 





“Nunca pensei que conseguiria viver como atriz, até surgir o primeiro convite para o palco. Surgiu o teatro musical e eu falei: Opa! Peraí! Esse caminho aqui é novo, eu tenho um salário aqui, vamos ver se eu consigo! E foi indo! Comecei fazendo coro, depois teatro infantil  e fui direto para o adulto com o João Fonseca. Foi surreal”, diz.  Daí em diante, ela engrenou um espetáculo depois do outro. “‘Tim Maia – Vale tudo, o musical’ (2011) foi a grande explosão na minha mente. Pensei:  Epa, peraí, você é atriz!”

“Nem estou falando de religião. Cara, estou falando de algo que eu não sei nem explicar o que é, mas eu sou muito agraciada a Deus. A trajetória até ‘Apaixonados’ é uma colcha de retalhos que é a minha história”.  

Antes de “Tim Maia”, Evelyn  fez “Cássia Eller – O musical”, com o qual conheceu Lan Lan, que já namorava a atriz Nanda Costa, protagonista de “Apaixonados”. Foi Nanda quem a indicou para fazer um teste para o elenco. “Foram com a minha cara, fiz o filme, o Fábio (Porchat) viu o trailer e disse ‘essa garota tem a cara do Porta’”. 

Com Cacau Protásio em cena de 'Juntos e enrolados', em cartaz nos cinemas (foto: Kromaki/Divulgação)

TRIPLO DESAFIO 

Evelyn reconhece que sabe aproveitar as oportunidades nas horas certas. “A novela foi uma grande novidade porque até então eu só tinha feito participação no elenco de apoio; nunca tinha entrado como elenco da novela. Foi um puta desafio porque eu não tinha só a novela, continuo sendo do Porta dos Fundos. Estamos gravando a sexta temporada do ‘Tô de Graça’ (Multishow). Chegou um momento em que eu fiz os três (novela, seriado, filme) e isso foi extremamente cansativo. Eu sou mãe e sou mãe raiz, eu não tenho babá. Quando eu estou em casa, eu estou em casa”.

Capricorniana, Evelyn diz que faz jus ao signo. “Não entendo muito dessa coisa do Zodíaco, não. Mas se tem uma coisa que falam do Capricórnio com a qual eu concordo é que o capricorniano é workaholic, e eu sou. Quer me ver feliz é me ver nessa loucura. Quanto mais coisa eu faço parece que mais coisa eu quero fazer, quanto menos coisa eu faço, mais eu me sinto prostrada. Me dá uma depressão, uma melancolia, e eu não gosto.”





Evelyn testou positivo para a COVID-19 na semana desta entrevista. O filho ficou assintomático,  enquanto ela teve sintomas leves. “Fiquei muito grata por não termos complicações da doença. Tomei a (vacina) Janssen, dose única, então a minha segunda dose foi considerada também reforço, mas, se tiver que tomar umas quatro Janssen, eu tomo, porque eu vi a eficácia da vacina na minha pele, sabe? E com meu filho também, porque de alguma forma tenho certeza de que ele foi protegido disso também.”

A pandemia suspendeu a turnê do espetáculo “Quebrando regras: Um tributo a Tina Turner”, comédia estrelada por ela e mais dois atores. “Tivemos que suspender a turnê devido a toda essa loucura que a gente está vivendo, além do fato de minha sócia ter se casado e se mudado com o filho para a Alemanha. Ela está feliz, isso é o que importa.”

Evelyn e seu colega de cena Saulo Segreto procuram outra atriz para assumir o papel, enquanto esperam as coisas se estabilizarem. “Estamos vivendo uma situação muito delicada, com esse suspende e volta. É uma responsabilidade enquanto pessoa pública e eu acho que a gente tem que ter um certo cuidado, apesar de que cinema e teatro são os lugares com mais controle que a gente pode ver hoje em dia, com (verificação da) carteira de vacinação, distanciamento”, observa. “Tem a questão financeira. Teatro não se pagava antes, imagina agora com toda essa situação com lotação reduzida? Então, acho melhor a gente esperar, escolher o melhor momento para voltar.”