Jornal Estado de Minas

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Editora pede desculpas por apontar nome de suposto traidor de Anne Frank

A editora holandesa Ambo Anthos pediu desculpas por publicar um livro que identificou o suposto nome da pessoa que teria entregado Anne Frank e sua família aos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

 

A equipe de investigação do livro The Betrayal of Anne Frank: A Cold Case Investigation (publicado no Brasil pela HarperCollins com o título Quem traiu Anne Frank?: a investigação definitiva sobre a morte da autora do diário mais famoso do mundo) havia apontado que um judeu chamado Arnold van den Bergh teria sido responsável pelas detenções dela e da família.





 

Críticos, incluindo acadêmicos, disseram que as evidências para esta identificação são insuficientes, logo, que as acusações são infundadas.

Após as críticas, a editora holandesa escreveu em um e-mail interno para a autora do livro, a canadense Rosemary Sullivan, dizendo que deveria ter adotado uma "posição mais crítica" em relação à publicação.

 

"Aguardamos as respostas dos pesquisadores para as perguntas que surgiram e estamos postergando a decisão de imprimir outra tiragem", disse.

 

"Apresentamos nossas sinceras desculpas a qualquer um que possa ter se sentido ofendido pelo livro."

 

Anne Frank foi uma menina judia morta em 1945 no campo de concentração nazista de Bergen-Belsen, na Alemanha. Antes, ela ficou dois anos escondida com outros sete judeus, incluindo familiares, em um anexo em cima de um armazém na cidade de Amsterdã. Eles foram descobertos e todos foram deportados.





 

O diário da menina, publicado pela primeira vez em 1947, é o mais famoso relato em primeira mão da vida de judeus durante a guerra. Ele já foi traduzido para 70 idiomas.

 

A BBC pediu posicionamentos da editora Ambo Anthos; da autora do livro, Rosemery Sullivan; e da editora responsável pela versão na língua inglesa. Não houve retornos, por enquanto.

Versão com probabilidade de acerto 'em 85%'

Segundo o livro Quem traiu Anne Frank?, um tabelião judeu provavelmente entregou a localização do esconderijo dos Frank para salvar sua própria família.

 

A equipe de pesquisadores do livro, composta por historiadores e outros especialistas, incluindo um ex-agente do FBI (polícia federal americana), passou seis anos usando técnicas modernas de investigação, incluindo a inteligência artificial, para tentar desvendar o caso.





 

Segundo reportagem da emissora pública holandesa NOS, um dos pesquisadores do livro, Pieter van Twisk, disse estar perplexo com o e-mail e acrescentou que a equipe nunca afirmou ter feito uma descoberta indubitável. Ele disse que a versão tem "probabilidade de (acerto de) pelo menos 85%".

 

O tabelião foi membro do Conselho Judaico de Amsterdã, uma organização forçada a implementar a política nazista em áreas judaicas. O conselho foi encerrado em 1943, e a maior parte de seus membros foi enviada para campos de concentração.

 

Mas a equipe do livro descobriu que ele continuou morando normalmente em Amterdã.

 

A equipe de pesquisa diz que passou por conflitos para revelar que outro judeu era provavelmente o traidor da família Frank, mas apresentou a possibilidade de que Otto Frank, pai de Anne, sabia desta identidade e pode ter mantido isso em segredo.





 

Nos arquivos de um outro pesquisador, eles encontraram uma cópia de uma nota anônima enviada a Otto Frank identificando o suposto traidor.

 

Um dos investigadores disse ao programa 60 Minutes, da CBS, que o antissemitismo pode ter sido a razão pela qual a informação nunca foi divulgada: "Mas temos que ter em mente que o fato de ser judeu apenas significava que ele foi colocado em uma posição insustentável pelos nazistas para fazer algo para salvar sua vida".

 

Por outro lado, o Fundo Anne Frank, sediado na Suíça, se pronunciou à imprensa local dizendo que a investigação do livro estava "cheia de erros".

 

Professor da Universidade de Leiden, na Holanda, Bart van der Boom classificou a obra como uma "bobagem difamatória".

 

Johannes Houwink ten Cate, professor emérito de estudos do Holocausto na Universidade de Amsterdã, sentenciou que "para grandes acusações é preciso grandes provas".

 

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