Jornal Estado de Minas

Tradição com o pé direito

Ouro Preto abrirá calendário cultural de 2022 louvando ancestralidade

“Sankofa”, palavra da língua dos povos da África Ocidental que pode ser traduzida por “não é tabu voltar atrás, buscar o que esqueceu e ressignificar” simboliza o início o calendário cultural da cidade histórica Ouro Preto. O ano novo vai começar neste domingo (2/1) com as bênçãos do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, de nome A Fé que Canta e Dança, como forma de simbolizar a volta ao passado, trazendo à tona as raízes, saberes e costumes para 2022, é o que afirma o Capitão da Guarda de Moçambique Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, Kedison Guimarães.




 
A Festa do Reinado, realizada sempre no início do mês de janeiro, homenageia Chico Rei, trazido da região do Congo, na África, na condição de escravizado para trabalhar nas mineração do ouro da antiga Vila Rica. 

“A festa do Reinado sendo a primeira festa do calendário da cidade faz mostrar que o povo preto de Ouro Preto é ouro porque resistiu e lutou com toda inteligência e estratégia para que suas tradições permanecessem até hoje” ressalta o Capitão da Guarda.
 
Nos dias de homenagens, que vão até 9 de janeiro, é evidenciada a ancestralidade da cultura afro-brasileira por meio dos toques dos tambores, das cores e a alegria das guardas de Congo e Moçambique em Ouro Preto.




 
Para isso, o Capitão da Guarda de Moçambique e também diretor de Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria de Cultura e Turismo Ouro Preto, conta que acontecerão diversas oficinas de trocas de saberes como forma de deixar viva a memória dos primeiros moradores negros da antiga Vila Rica.
 
“Nessa busca de novos significados e trocas vamos oferecer durante a semana oficinas de construção de bonecas pretas, construção de capacetes de congos, de customização de turbantes e palestras sobre os Reinados Negros e de cantos sagrados com cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração”.
 
Na abertura, no dia 2 de janeiro, vão acontecer os momentos da celebração de fé com a apresentação dos dois grupos organizadores da festa, a Guarda de Congo e a de Moçambique.

Nesse rito haverá o pedido de benção na entrada da Igreja Matriz de Santa Efigênia, com derramamento de água de cheio na escadaria e nos fiéis presentes. Às 19h acontece a missa e bênção das bandeiras, logo após o levantamento das bandeiras de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito.




 
De acordo com a secretária de Cultura e Turismo de Ouro Preto, Margareth Monteiro, o evento em 2022 vai acontecer em formato reduzido, em decorrência da pandemia causada pela COVID-19.
 
"Nos anos anteriores vinham grupos visitantes e em 2022 será limitada apenas aos grupos locais, talvez com a participação da Guarda de Congo da cidade de Itapecerica, da qual aguardamos a confirmação”.
 
A Fé que Canta e Dança
 
De acordo com a Secretária de Cultura e Turismo de Ouro Preto, a Fé que Canta e Dança foi registrada em 2019 como Patrimônio Imaterial de Ouro Preto e tem a sua salvaguarda pelo Município. A festividade é organizada sob a responsabilidade da Associação dos Amigos do Reinado de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia (Amirei), representada por dois irmãos, Kedison Guimarães e Kátia Guimarães.
 
Os recursos destinados para realização do eventos são provenientes do Fundo de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Ouro Preto (Funpatri), por meio do ICMS Cultural que visa a preservação do patrimônio material e imaterial de Ouro Preto.

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