Jornal Estado de Minas

CINEMA

'Filme do Galo' supera 3 mil espectadores no fim de semana de estreia


No lançamento, na semana passada, de “Lutar, lutar, lutar”, o documentário que repassa a história do Clube Atlético Mineiro, os diretores Sérgio Borges e Helvécio Marins Jr. fizeram um chamamento à torcida para que lotasse as salas de cinema, a fim de bater o recorde de público do cinema nacional para um filme sobre um clube de futebol. 





Borges diz que essa foi uma estratégia de divulgação que a equipe abraçou, em razão do bom momento do Galo na temporada, mas com algumas reservas, que dizem respeito ao cenário ainda de pandemia e à crise econômica.

Os resultados da primeira semana em cartaz são bons, conforme aponta, mas, pragmaticamente, não permitem vislumbrar a quebra do recorde, que pertence a “Bahêa minha vida” (2011), com 75 mil ingressos vendidos, seguido por “Fiel – O filme” (2009), com um público de 54 mil pagantes. 

“Lutar, lutar, lutar” atraiu, entre a quinta-feira passada (11/11) e o último domingo, um público total de 3.088 pessoas, dividido por 21 salas, com uma média de 140 espectadores por sala.

“Esse relatório diz respeito às principais salas e grupos que estão exibindo o longa, Cinemark, Cineart e Rede Itaú de Cinemas, no Rio de Janeiro, São Paulo e em Brasília, além de Belo Horizonte, onde também está no Belas Artes. Para fechar esse relatório, falta basicamente a maioria das salas do interior do estado, então a gente acha que pode chegar a 4 mil pessoas”, aponta Borges.





Ainda assim, ele aponta, o horizonte não permite vislumbrar uma quebra de recorde. “Pragmaticamente, dentro do que uma primeira semana diz em termos de projeção, é difícil pensar em bater recorde. O filme tem uma expectativa palpável de público de até 30 a 40 mil espectadores, que é uma fórmula que já ouvi por aí, de que a primeira semana representa 10% do que se pode alcançar”, afirma. Ainda assim, ele não descarta surpresas.

“A impressão que fiquei do público neste primeiro momento é muito boa, o filme consegue emocionar as pessoas, então o boca a boca pode levantar isso aí. A torcida está muito engajada com o time neste momento. Tento guardar uma certa humildade, mas fica latente aquele ‘Eu acredito’. De repente, ainda pode acontecer”, aposta.

TÍTULO 


Ele avalia que um bom sinal para uma trajetória vitoriosa que o longa venha a cumprir é que, para a segunda semana, o documentário está mantido em todas as salas em que estreou e ainda deve entrar em cartaz em novas salas em cidades do interior de Minas. 





“Isso significa um público interessado”, destaca. Ele acredita que a caminhada do Galo rumo ao título do Campeonato Brasileiro após 50 anos representa um estímulo a mais para o torcedor prestigiar o filme.

“O curioso é que o filme não foi feito pensando nesse contexto. Enfrentamos alguns obstáculos, tivemos alguns problemas para lançar, o que era para ter acontecido antes, mas chegou num momento ótimo, permite a gente pensar que pode funcionar como um presente para a torcida, com essa revisão histórica que ele propõe. O potencial é grande.”

*Estagiário sob a supervisão da editora Silvana Arantes

DE OLHO NO LANCE
Confira alguns dos aspectos abordados em “Lutar, lutar, lutar - O filme do Galo”, em cartaz nos cinemas

GOLEADA
O filme destaca os títulos eternizados no hino do Galo, mas 
pouco valorizados nos dias de hoje, como o Campeão dos Campeões (1937) e os Campeões do Gelo (1950), com arquivos raramente vistos. 




O 9x2 contra o Cruzeiro em 1927 - até hoje a maior goleada da história do clássico, constantemente lembrada por parcela da 
torcida – é outra surpresa.  

PRIMEIRO CAMPEÃO
Dadá Maravilha e Telê Santana protagonizaram uma história hilária na final do Brasileirão de 1971. O artilheiro alvinegro quase ficou de fora da final, após se contundir em um campeonato de pingue-pongue contra o lendário treinador Telê Santana, que ficou amargamente arrependido de prejudicar seu principal jogador, um dia antes da decisão. Mesmo sem estar 100%, Dadá fez o gol da vitória por 1x0 contra o Botafogo, que deu o título ao Atlético em pleno Rio de Janeiro. Histórias das caravanas de torcedores atleticanos que lotaram o Maracanã para assistir à final do primeiro campeonato brasileiro também fazem parte do documentário. 

(foto: Mauricio Val/VIPCOMM )

VIRA FOLHA? 
O passado cruzeirense da família de Alexandre Kalil é uma das histórias mais curiosas. Seu avô (imigrante árabe e torcedor celeste) era discriminado no bairro e se tornou próximo de uma familía de vizinhos formada por operários negros e apaixonados pelo Atlético. Pouco familiarizado com os estádios, ele deixava os vizinhos levarem Elias Kalil (pai de Alexandre) aos jogos para assistir ao rival na infância. O resto é história. Elias e Alexandre Kalil vieram a se tornar dois dos presidentes mais importantes da história do Galo.

VICE INVICTO
O filme conta em detalhes os bastidores, as polêmicas e os erros de arbitragem que impediram o Atlético de ser campeão brasileiro em 1977, quando perdeu o título brasileiro para o São Paulo nos pênaltis - sendo o único vice-campeão invicto da história do campeonato. Segundo Reinaldo, “foi o dia mais triste da história de Belo Horizonte''. O papel do regime militar e da Rede Globo na construção do Flamengo, que derrotou o Galo na final do brasileiro de 1980, também é lembrado. O ditador João Figueiredo (1918-1999) inclusive estava na arquibancada do Maracanã na grande final. Questionado sobre para qual time torceria, ele respondeu: “O Atlético é um time regional; o Flamengo, uma nação. Eu fico com a nação”.  

“REI, REI, REI, O REINALDO É NOSSO REI”
A atitude politizada de Reinaldo, o maior artilheiro da história do Atlético, é considerada um dos fatores que contribuíram para as inúmeras injustiças sofridas pelo clube durante a ditadura. O ídolo comemorava seus gols com o punho cerrado dos Panteras Negras, símbolo da luta antirracista e indício de oposição ao regime militar que governou o Brasil entre 1964-1985.



(foto: Mauricio Val/VIPCOMM )
A VINGANÇA É UM PRATO QUE SE COME FRIO
Após rever os absurdos erros de arbitragem na final do brasileiro de 1980 e na Libertadores de 1981 contra o Flamengo (quando o juiz José Roberto Wright expulsou cinco jogadores do Atlético), o torcedor alvinegro se delicia com a histórica classificação em cima dos cariocas, na semifinal da Copa do Brasil de 2014. Os mineiros reverteram o placar adverso de 3x0, redimindo o time de Reinaldo e companhia, com direito a muita emoção. “Vou festejar o teu sofrer” cantou a torcida, entoando a famosa música de Beth Carvalho  que é considerada o segundo hino do clube. A produção gravou o jogo no estádio, rendendo imagens emocionantes. 

R10
“Eu já tenho uma fama de doido, mas ainda não cheguei no estágio de rejeitar o Ronaldinho Gaúcho.” A frase do ex-presidente Alexandre Kalil lembra o clima da opinião pública na chegada de R10 a Belo Horizonte, em 2012, quando diversos jornalistas criticaram a contratação do astro, em baixa no Flamengo. Imagens de lances e gols marcantes de Ronaldinho com a camisa do Atlético são acompanhadas pelo funk “Ronaldinho é Galo”, de MC Pietro, que combina com o futebol arte desempenhado pelo ídolo, eleito duas vezes o melhor jogador do mundo pela Fifa. A “loucura” de Kalil, atual prefeito de Belo Horizonte, é vista como fator primordial para o sucesso. 

(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A. Press)

“EU ACREDITO!"
O documentário remonta a origem do lema “Eu acredito”, na semifinal da Libertadores de 2013, quando o Atlético precisava reverter o placar de 2x0 contra o Newell's Old Boys, da Argentina, no estádio Independência. Um apagão inesperado no segundo tempo da decisão encorajou a torcida a entoar o grito que incentivou a equipe na classificação para a final. Foi a primeira grande virada do Atlético na saga de 2013 e 2014. O “Eu acredito” embalou o time nos títulos inéditos da Libertadores e da Copa do Brasil, representando o espírito do torcedor atleticano, que tanto esperou por esse momento. 




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