Jornal Estado de Minas

ARTES VISUAIS

Lucas Pessôa vai comandar Inhotim e anuncia mudanças


A partir do próximo ano, o Instituto Inhotim ganha nova direção e novas diretrizes, incluindo a pauta ecológica em sua programação dedicada à arte contemporânea. Em janeiro, Lucas Pessôa assume como diretor-presidente na equipe que vai contar com Paula Azevedo como diretora vice-presidente e a curadora Julieta González como diretora artística da instituição.





Antonio Grassi segue no cargo de diretor-presidente até dezembro, viajando depois para Portugal, onde passa a atuar como consultor internacional do instituto, criado há 15 anos pelo empresário Bernardo Paz.

O museu de arte contemporânea e jardim botânico está instalado em área de 140 hectares em Brumadinho, a 60 quilômetros de Belo Horizonte. Ali estão plantadas 4,5 mil espécies de plantas vindas de todos os continentes.

PERFIL 

Os novos diretores explicaram a mudança do perfil do Inhotim. A ideia, segundo Julieta González, a nova diretora artística, é dinamizar o acervo com propostas que unam ecologia e arte. Atualmente, o instituto tem 560 obras de artistas de 38 países.





“Queremos convidar artistas que trabalhem com a natureza, pensando não só nas galerias que já existem no Inhotim como em seu jardim botânico, por meio de parcerias com instituições internacionais”, explica González.

A extensão do Instituto Inhotim e sua localização privilegiada – entre os ricos biomas da mata atlântica e do cerrado – possibilitam aos artistas, segundo Julieta González, a criação de “site specifics”, além de abrir espaço para a exibição permanente de obras de grandes dimensões.

“Isso vai possibilitar ao visitante uma experiência única que integra arte e natureza, como fizemos em museus estrangeiros como o MoMA de Nova York”, diz a curadora, referindo-se ao Museu de Arte Moderna nova-iorquino. Ela trabalhou com instituições centrais da arte contemporânea, como a britânica Tate Modern, em Londres, e o Museu de Arte de São Paulo (Masp).





Para implementar as mudanças e acrescentar galerias ao Inhotim, o reajuste no orçamento anual será inevitável. Atualmente, ele está por volta de R$ 40 milhões, segundo Lucas Pessôa, o novo diretor-presidente, mas pode ser ampliado com a nova estratégia de governança do instituto.

Há planos de construir um hotel na região, revela Paula Azevedo, a nova diretora vice-presidente. “O novo conselho do Inhotim será representativo, atraindo empresários de diferentes regiões do Brasil e do estrangeiro, assim como nosso programa de patronato”, afirma.

Pessôa quer ampliar o programa educativo do Inhotim, contando para isso com o novo conselho, que será formado por notáveis da área, e a nova política para captação de recursos, antes restrita a receitas operacionais e ao patrocínio do investidor Bernardo Paz.





“O convite para que eu assumisse veio de um desejo de institucionalizar o Inhotim e integrar o instituto à sociedade civil, pois ele é uma entidade privada com fins públicos”, afirma Lucas Pessôa, que foi diretor financeiro do Masp entre 2014 e 2018.

Cerca de 4,5 mil espécies de plantas formam o jardim botânico que cerca galerias do Inhotim (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


DÍVIDAS 

As obras pertencentes ao acervo do Inhotim, garante o novo diretor-presidente, estão livres de qualquer ônus e não foram dadas em garantia pelas dívidas existentes do grupo que o mantém.

Em junho deste ano, o Ministério Público de Minas Gerais, a Advocacia-Geral do Estado e o grupo Itaminas, mantenedor do Instituto Inhotim, assinaram um acordo para quitar a dívida tributária da empresa com o estado. 





QUEM SÃO


• LUCAS PESSÔA
Formado em direito pela PUC-SP com especialização em economia pela Universidade de Copenhague, foi diretor Financeiro e de Operações do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), de 2014 a 2018. De 2019 a 2021, assumiu a direção-geral da Oficina Brennand, em Pernambuco. Com experiência no mercado financeiro, trabalhou na Pátria Investimentos e Endurance Capital.

• JULIETA GONZÁLEZ
Estudou arquitetura na Universidade Simón Bolívar, em Caracas, e na École d'Architecture Paris-Villemin, em Paris. Tem mestrado em estudos culturais e teoria crítica pela Goldsmiths, Universidade de Londres. Foi curadora dos museus Tate Modern (Londres), Masp (São Paulo), Tamayo (Cidade do México), Bronx Museum (Nova York) e Jumex (Cidade do México). Organizou cerca de 60 exposições, entre elas “Memorias del subdesarollo”, no Museum of Contemporary Art San Diego.

• PAULA AZEVEDO
Coordenou o Núcleo Contemporâneo do Masp e integrou a diretoria dessa instituição até 2019. Este ano, comandou a diretoria de Relações Institucionais do Instituto Tomie Ohtake. É conselheira administrativa do Instituto de Arte Contemporânea (IAC) e sócia do projeto O Pequeno Colecionador, ao lado de Artur Lescher e Mariane Klettenhofer.