Jornal Estado de Minas

CINEMA

Longa 'DNA' tem protagonista em busca de suas raízes após a morte do avô

Parente é serpente. No caso da família do melodrama “DNA”, em cartaz no UNA Cine Belas Artes, em Belo Horizonte, literalmente. Só adiantando um pouco a fita, em dado momento do filme há um almoço familiar que é realizado enquanto todos os convivas comem com cobras enroladas pelo corpo. 





Mas, até chegar lá, muita coisa acontece no filme, escrito, dirigido e protagonizado por Maïwenn – é o quinto longa-metragem assinado pela francesa. Entre risos e lágrimas, o drama acompanha os descendentes de Emir Fellah (Omar Marwan). O patriarca emigrou para a França na década de 1960. Lá se estabeleceu profissionalmente e criou uma família com muitos descendentes. 

Pois, no início da história, ele não tem ciência do que acontece ao seu redor. Vivendo em um asilo e sofrendo de Alzheimer, Emir conta com uma dedicação assombrosa dos filhos e netos. A mais ligada a ele é Neige (Maïwenn), mãe solteira de três filhos, que produziu um livro para ajudar na memória do avô e servir como testemunho de sua trajetória para os que vieram depois dele.

CAOS 

A morte de Emir desencadeia o caos na família, já que era ele quem apaziguava as diferenças. A primeira parte de “DNA” se passa em um formato de montanha-russa. As desavenças, que parecem profundas, aparecem por motivos banais, antes mesmo do funeral.





Uma discussão de altíssima rotação sobre qual caixão (madeira ou papelão, já que ele será cremado?) e a cor do forro da urna funerária (branco ou amarelo?) leva o espectador, invariavelmente, ao riso.


FUNERAL 

A sequência reúne vários dos descendentes de Emir. Caroline (Fanny Ardant), a mãe de Neige, tem uma rivalidade de anos com a primogênita. E ela parece também à beira de um ataque de nervos, ainda mais quando o debate gira em torno do local do funeral. Uma mesquita? Mas como, se ele era ateu? Ninguém parece (ou está interessado em) se entender.

Sempre às rusgas com o mundo, Neige parece se acalmar apenas com o amigo François (Louis Garrel), cuja única função na história é servir como um alívio para as cenas de tensão. A segunda parte do filme deixa os parentes de lado e se concentra basicamente na busca empreendida pela protagonista.





Com a morte do avô, ela fica obcecada por suas raízes argelinas. Compra todos os livros e assiste aos filmes disponíveis sobre o país de seus antepassados. Em depressão e sofrendo de bulimia, recorre a um discutível teste de DNA via internet. Quer saber a proporção de seus genes. 

Abrindo um parêntese: ainda que esteja longe de ser uma narrativa autobiográfica, o filme traz uma porção da vida da própria Maïwenn, que tem ascendência bretã, vietnamita, francesa e argelina, pelo lado do avô materno.

A partir do tal teste, o filme envereda por outro terreno, concentrando-se na protagonista. Personagens que tinham alguma função na parte inicial da trama simplesmente somem, e o filme deixa o lado bem-humorado de lado. Como que para se sentir viva, Neige precisa se sentir argelina. Pouco importa se o avô, um ateu devoto, abraçou a França ao longo de sua vida.





A busca de Neige vai aproximá-la da irmã distante e separá-la, em definitivo, da mãe – em uma das cenas mais intensas do filme, Fanny Ardant diz a que veio discutindo com Maïwenn no meio da rua. A narrativa vai se encaminhando para um final catártico e, quando ele chega, você fica em dúvida se a jornada da personagem não passou de uma viagem em torno do próprio umbigo da diretora/autora/protagonista. 

“DNA”
(França, 2020, 90min, 14 anos, de Maïwenn, com Maïwenn, Fanny Ardant e Louis Garrel) – A morte de um homem argelino, idoso, causa uma comoção em uma família na França. Neige, uma de suas netas, entra em uma crise de identidade, o que intensifica sua difícil relação com os pais. Em cartaz às 16h e às 17h50, no UNA Cine Belas Artes

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