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Estado de Minas SENSIBILIDADE

Fotógrafo mineiro ressalta olhar sobre povos indígenas em novo livro

O fotógrafo e indigenista Renato Soares, de Carmo do Rio Claro, está lançando livro de arte e fotografia da Coleção Ameríndios do Brasil


17/09/2021 15:23 - atualizado 17/09/2021 20:18

(foto: Renato Soares)
 
Natural de Carmo do Rio Claro, no Sul de Minas, onde mora atualmente, o fotógrafo e indigenista Renato Soare, está lançando "Yawalapíti", primeiro livro da Coleção Ameríndios do Brasil, focado nas etnias indígenas brasileiras.

Ele explica que a criação do livro começou há quase 20 anos. "Foi ao participar de um kuarup, em 22 de julho de 2003, que compreendi que a essência de se fotografar o outro é buscar o que nele há de mais belo. O sorriso, gestos e alegria mostrando toda sua integridade. Neste dia, iniciei a construção deste livro 'Yawalapíti' é o resultado de cerca de vinte anos registrando a alma dessa gente e a minha homenagem ao povo do Tucum.”

O povo Yawalapíti, do tronco linguístico aruak, vive na Terra Indígena Xingu, no estado de Mato Grosso, na região conhecida como Alto Xingu. A publicação, no formato 17x23 cm, com 144 páginas e capa dura, traz 80 fotografias que mostram o cotidiano na aldeia e rituais como o Kuarup, celebração em homenagem à mortos ilustres e texto do antropólogo Adelino Mendez.


Trajetória


Renato iniciou sua carreira na fotografia no final da década de 1980 e, desde então, realiza viagens para retratar as diferentes formas de expressão cultural dos grupos indígenas brasileiros.

A fascinação que vem desde a infância pelos povos originários se consolidou logo nos primeiros contatos com tribos em áreas remotas do Amazonas e também através da profunda amizade que manteve com o sertanista Orlando Villas Bôas. Sua obra fotográfica já figurou em importantes exposições como “O Último Kuarup”, no Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 2006, e na mostra itinerante “A Última Viagem de Orlando Villas Bôas”, que percorreu 12 capitais brasileiras. Seu talento também foi reconhecido em Paris, em uma coletiva no Palais de la Découvert.

(foto: Renato Soares)


ENTREVISTA
Quem é o povo fotografado? 
O Yawalapíti  é uma nação indígena dentro das 305 etnias do Brasil que quase desapareceu no último século. Eles foram reagrupados nos anos 1940 pelos irmãos Villas-Boas, antes até da construção do Parque do Xingu. Do nascimento do primeiro homem depois do reagrupamento deles, nasceu Aritana, o Cacique Aritana, que morreu de COVID no ano passado.

Você se inspirou em que para fazer a mostra?
Não me inspirei especificamente em ninguém. Eu trabalho com fotografia já tem 36 anos e, para fazer a construção desse livro, foi um projeto meu. A inspiração vem da própria convivência com o outro porque a fotografia é retratar o outro

Qual a importância de ter um trabalho voltado para o povo indígena?
Toda e qualquer documentação no mundo é de grande importância. No Brasil, na atualidade, é muito importante sim mostrar quem é a população. Os íindígenas estão aqui bem antes da chegada dos europeus. Nós invadimos, tomamos, nos misturamos, mas não os respeitamos e isso é um grande problema. Então, é, sim, importante mostrar o povo brasileiro e sua diversidade. A grande beleza da humanidade está na sua diversidade.

Por que você escolheu os yawalapíti? 
Na verdade não são só os yawalapíti  Eles são os primeiros da série "Povos Originais". O Brasil tem 306 etnias e 274 línguas. Vamos tentar mostrar a população indígena para o mundo. Porque o projeto pretende em 10 anos publicar 100 livros. Em 20 anos vamos tentar mostrar as 305 etnias do Brasil.

O que  você pensa (e os indígenas retratados) das discussões sobre o Marco Temporal (PL 490)?
A sociedade tem para com os índios uma dívida impagável, incalculável. O Marco Temporal é um retrocesso no processo de remarcação das terras. Quando os fazendeiros dizem que têm pouca terra para plantar. Pouca terra para a ganância. Vamos lá: a monocultura não sustenta o Brasil, quem ganha dinheiro com monocultura são poucos. Os mais ricos do Brasil e os pobres continuam pobres. Eu não como soja em casa. A maioria come feijão. Arroz com feijão, e isto está ficando caro. De que adianta você ter uma grande plantação de soja se você não tem uma diversidade. Então é complicado. O Marco Temporal tira todos os direitos das terras indígenas, todos os direitos conquistados pelas terras. E os índígenas, mais do que ter uma cultura própria, cuidam destas florestas de uma maneira que nós não temos nem ideia. Quando alguém diz assim: tem pouca terra para muito índio, eu digo que tem pouco índio para cuidar de tanta terra, para protegerem, na verdade, todo o mundo.

Qual a sua ligação com Carmo do Rio Claro?
Eu sou mineiro de Carmo do Rio Claro, eu nasci lá, faz 55 anos e trabalho viajando o Brasil todo e por outros lugares do mundo divulgando a cultura indígena e mostrando que é possível respeitar o outro. Todo trabalho dedicado ao indígena, 36 anos. Todo livro que eu faço, um terço do valor volta para a comunidade fotografada. Esses livros vão para as escolas e as crianças acabam conhecendo o indígena, que ele existe, é múltiplo e diverso. O que eu penso das políticas atuais é uma política de retrocesso, nós estamos vivendo um retrocesso muito grande no Brasil. Essa briga entre pessoas defendendo políticos de estimação, defendendo coisas obscuras, o Brasil. Nós estamos retrocedendo muito nas questões ambientais, estamos atrasando o Brasil como um todo. Nós não merecemos o que está acontecendo por conta de vaidade política, por conta de manipulações de poder, as pessoas estão brigando umas com as outras se esquecendo do que realmente importa para o ser humano que é a felicidade. E felicidade não é coisa para alguns. É para todos.


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