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Estado de Minas LITERATURA

Jornalista conta em livro como foi se perder e se achar em Buenos Aires

Flávia Péret lança neste sábado (31/07), 'Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças', disponível gratuitamente em e-book


31/07/2021 04:00 - atualizado 30/07/2021 20:25

A escritora Flávia Péret em frente a uma das 10 pinturas em muro da capital mineira previstas como ação de lançamento de seu livro (foto: Bianca de Sá/Divulgação)
A escritora Flávia Péret em frente a uma das 10 pinturas em muro da capital mineira previstas como ação de lançamento de seu livro (foto: Bianca de Sá/Divulgação)

“De uma cidade não aproveitamos as suas sete ou setenta maravilhas, mas as respostas que nos dá a nossas perguntas.” A citação de “As cidades invisíveis”, de Italo Calvino, abre “Instruções para montar mapas, cidades e quebra-cabeças” (Guayabo Edições), livro da escritora e pesquisadora Flávia Péret

A epígrafe traduz a jornada da autora, em 2005, quando, em crise profissional, pegou um ônibus de Belo Horizonte rumo a Buenos Aires, onde decidiu passar uma temporada. Jornada esta que ela revive tantos anos depois, por meio da memória. 

Em essência, é um livro de contos. Mas eles vêm fragmentados, podem ser lidos de forma independente. Há um viés também de guia de viagem – só que às avessas, pois nada é óbvio na incursão dela pela metrópole argentina. 

Neste sábado (31/7), Flávia participa de um debate virtual para o lançamento do livro. A obra, gratuita, está disponível em e-book, livro impresso e audiolivro – a edição é bilíngue, com tradução para o espanhol pela escritora argentina Paloma Vidal, criada no Brasil, onde seus pais se exilaram. 

MUROS 

O projeto, contemplado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, ainda abrange intervenções urbanas em muros da região Leste de Belo Horizonte com as frases “As pessoas têm memória” e “As pessoas não têm memória”. Sete das 10 pinturas previstas já foram realizadas. 

“Vivemos em luto constante neste país. Pelos mortos e desaparecidos da ditadura militar, pelo genocídio da população negra, pelos índices estarrecedores de violência contras as mulheres e agora pelos 550 mil mortos da pandemia. Deveríamos começar a entender que não temos memória porque algumas pessoas decidem o que deve ser lembrado e o que não deve. Mas como são duas frases, há também o outro lado: lembramos. Estamos aqui lembrando o tempo todo e também são muitas as pessoas que estão lutando diariamente para que a memória não desapareça”, afirma a autora, sobre as intervenções.

Ainda que a narrativa seja ambientada 16 anos atrás, Flávia escreve, em vários momentos, relatos que se relacionam com o tempo de hoje. Na época da viagem, ela tinha 29 anos, era uma jornalista desencantada com a profissão, que pediu demissão e foi para a Argentina,  estudar cinema e literatura na Universidade Livre Madres da Plaza de Mayo. Sustentou-se como garçonete, viveu em uma casa com estudantes estrangeiros e descobriu não só uma cidade, como também as pessoas.

Flávia não circula pelos lugares óbvios do turista profissional, como ela chama. Em San Telmo, em vez da tradicional visita à feirinha da Praça Dorrego, ela ajuda uma velhinha que, perdida, chora na rua. Quando o tema é a Recoleta, ela não fala sobre outro ponto obrigatório, o cemitério, onde repousam argentinos célebres – de Eva Perón a Bioy Casares, passando por vários ex-presidentes. É a Villa 31, favela datada dos anos 1930 que vem recebendo, ao longo do tempo, operários e imigrantes.

“O que posso dizer então para as pessoas que buscam conhecer a cidade a partir de outra forma? Que criem pequenos planos de fuga diante de tantos cities tours e que inventem seus próprios percursos: mais lúdicos, mais aleatórios, mais políticos: o que toda indústria do turismo esconde e o que ela simultaneamente revela sobre uma cidade? Que procurem pontos de observação incomuns e que, principalmente, se percam”, diz Flávia.

Muitos dos textos também nasceram de observações, que citam o lado passional dos argentinos, mas principalmente sua incapacidade de esquecer. O livro é dedicado para as mães e avós da Praça da Maio, o símbolo maior de um povo que se recusa a deixar um passado de abuso e morte para trás.

“É surpreendente e louvável a forma como os argentinos lutam, com as mais diversas ações, para que a memória coletiva, especialmente em relação à última ditadura militar, não seja destruída ou esquecida. Eu escrevi sobre uma experiência vivida há 16 anos. A nossa Comissão Nacional da Verdade foi criada em 2011. No livro, tentei fugir da tradicional rivalidade e das comparações entre nós e eles, mas acredito que os argentinos jamais elegeriam como presidente uma pessoa que nega que existiu uma ditadura militar em seu próprio país”, finaliza Flávia.

“INSTRUÇÕES PARA MONTAR MAPAS, CIDADES E QUEBRA-CABEÇAS”
Livro de Flávia Péret. Guayabo Edições, 112 páginas. A obra, gratuita, está disponível no site guayabo.com.br/mapas em e-book, audiolivro e formato impresso (neste caso, será cobrada uma taxa de R$ 7,50 pela remessa). Neste sábado (31/07), às 18h, a autora conversa com Diana Klinger, Estela Rosa, Luciana di Leone e Paloma Vidal pelo YouTube.


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