Jornal Estado de Minas

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Uma artista e o ladrão de suas obras se entendem em documentário 


Um homem furta uma obra de arte em um museu. A autora do quadro roubado pede que o caso seja investigado, mas acaba se tornando amiga e quase se apaixona pelo autor da contravenção. Esse poderia ser o enredo de um drama ou de uma comédia, mas trata-se de uma história real contada no documentário “A artista e o ladrão”, que acaba de chegar às plataformas digitais no Brasil. O longa venceu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Sundance do ano passado.





O projeto de “A artista e o ladrão” surgiu quando o cineasta noruguês Benjamin Ree, de 31 anos, se deparou com a notícia do furto de duas pinturas da artista plástica tcheca Barbora Kysilkova da Galeria Nobel, em Oslo, em plena luz do dia, em 2015. 

Ree, que já era fascinado por casos de roubos de arte, teve a ideia de fazer um curta documental, entrevistando a pouco conhecida artista, que teve os quadros “Chloe & Emma” e “Swan song” roubados. 

Essa abordagem inicial é coerente com a dúvida da pintora sobre por que alguém roubaria suas obras. Ela declarou ao diário britânico “The Guardian”: “Não sou uma artista conhecida por quem valha a pena infringir uma lei e roubar. Eu não sou o Picasso”. Tudo mudou no momento em que Barbora teve o primeiro contato com o Karl-Bertil Nordland, identificado pelas câmeras de segurança e processado pelo furto. 





Enquanto a filmagem de Ree acompanha apenas a artista, ela confessa sua curiosidade em relação às motivações do ladrão e decide encontrá-lo. A produção muda seu rumo quando Nordland também topa ser filmado e dar seu depoimento. 

Babora contou à “Variety” que não era sua ideia tornar-se amiga do homem que roubou seus quadros, mas mudou sua percepção sobre ele assim que o viu no tribunal. “O que vi lá não era o criminoso. Na verdade, vi uma pessoa muito vulnerável e destruída sentada no tribunal.”

Ao longo do filme, ela consegue estabelecer um diálogo com ele a partir da pintura. "Você será meu modelo de graça", diz, em uma cena na qual propõe pintá-lo enquanto conversam. 

A questão objetiva sobre o que o motivou a furtar as obras não é respondida de pronto no documentário de pouco 1h40, embora a pergunta seja feita por Barbora muitas vezes. Nordland afirma não se lembrar de nada e diz que estava sob efeito de entorpecentes quando cometeu o ato. 




 
“A artista e o ladrão” cria uma narrativa sobre fragilidade humana, escuta e acolhimento. “As questões que gostaria de explorar aqui são: o que os humanos fazem para serem vistos e apreciados e o que é preciso de nós para ajudar e ver os outros?”, disse o diretor ao “Guardian”. A ideia fica clara ainda no começo do longa, quando Karl-Bertil cai em prantos, ao ver seu belíssimo retrato pintado por Barbora.

O homem de aproximadamente 30 anos e braços repletos de tatuagens não hesita em compartilhar seus dramas pessoais, assumindo-se dependente químico e falando sobre todos os prejuízos que o vício lhe causava. Nas conversas com Barbora, ela entende que Karl possui traumas desde a infância que o prejudicaram, arruinando uma carreira promissora que ele chegou a ter como educador. 

ENCONTROS

As cenas do documentário acompanham mais de um ano de encontros e conversas entre os dois e o aumento da amizade e da relação de confiança entre eles. Nesse processo, ela também expõe problemas pessoais, como um relacionamento abusivo no passado. Em alguns momentos, Barbora aparece conversando com o seu atual namorado, que muitas vezes questiona os riscos da abertura dada ao autor do roubo.

Karl, por sua vez, segue uma vida de altos e baixos. O filme aborda mais um grave problema que ele tem de enfrentar, mas a amizade com Barbora se faz ainda mais fundamental para ele, ampliando o foco da produção em torno da troca e do bom entendimento entre as pessoas.  O documentário está disponível nas plataformas de vídeo sob demanda Now, Vivo Play, Sky Play, iTunes, Apple TV, Google Play e YouTube. 




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