Jornal Estado de Minas

TEATRO ON-LINE

Peças em cartaz no YouTube abordam a morte e a impossibilidade de sonhar



O “palco digital” se impôs às artes cênicas nestes tempos de pandemia, em que espetáculos com a presença do público foram implacavelmente interditados. As peças “O desejo do outro”, que estreia nesta sexta-feira (2/4), e “Gravidade zero”, que encerra temporada no sábado (3/4), foram escritas para o formato presencial e tiveram de se adaptar ao formato on-line.




 
“Uma crise fornece a oportunidade de uma revisão. Não necessariamente o formato de antes era o ideal, era apenas o formato que a gente conhecia. Com a crise, a gente coloca em xeque toda a estrutura de distribuição e organização da cultura”, afirma Pedro Guilherme, ator de “O desejo do outro”. “A arte do pós-guerra, por exemplo, é completamente diferente da arte de antes da guerra. A gente passa a adaptar tanto o conteúdo quanto a forma”, observa.
 
Francisco Eldo Mendes no monólogo "Gravidade zero" (foto: Cris Jatobá/divulgação)
 
 
Antes da pandemia, a peça vinha sendo ensaiada com a presença da equipe. A ideia era mesclar elementos de teatro e cinema, ou seja, a encenação de Pedro no palco com imagens no telão. A montagem que estreia hoje será como uma conversa em plataformas de videoconferência, com imagens refletidas na tela em concomitância com a performance de Pedro.
 
“O desejo do outro” se baseia quase inteiramente na realidade. Pedro tenta se aproximar do pai, falecido há 18 anos, simulando uma conversa sobre a relação dos dois e também sobre a pandemia. Pedro examina lâminas no microscópio, enquanto o telão exibe imagens de vírus, células e amostras de DNA, assim como fazia o pai dele, um pesquisador. Por meio dessas investigações, Pedro revela ao público que o pai, homossexual, era portador de HIV.




 
O processo de perda está no centro da trama. “Eu era muito jovem e perdi meu pai de forma muito abrupta, não tive com ele as conversas que gostaria para poder entender melhor as coisas que aconteceram tanto com ele quanto com a gente como família”, comenta o ator.

ZOOM No caso da versão digital de “Gravidade zero”, as filmagens ficaram por conta do diretor de fotografia Cauê Angeli e de André Kitagawa, que dirige a peça. A ideia é apresentar um teatro que se aproxima do plano cinematográfico, por meio de movimentos de câmera e zoom, a fim de captar expressões mais sutis dos atores e os mínimos detalhes do cenário.
 
“Logo de cara, falei para o diretor de fotografia: 'Não quero que você coloque a câmera no assento da plateia e simplesmente filme a peça’. Já que a gente não está no teatro, não precisamos ficar presos ao ponto de vista do espectador de teatro. A ideia é que a câmera se aproxime, seja dinâmica, como se estivesse quebrando a quarta parede”, explica André Kitagawa.




 
Escrito em 2001 por Mário Bortolotto, o monólogo, que estreou nos palcos naquele ano, traz um homem sonhador e libertário, interpretado por Francisco Eldo Mendes, que não se conforma com as regras impostas pela sociedade. Desde criança obcecado pela ideia de voar, as aspirações dele parecem não ter lugar num mundo que teima em puxá-lo para o chão frio da realidade.
 
“A reflexão que trago é que as pessoas se prendem demais aos compromissos, seja um emprego ou um casamento falido. A peça é sobre não manter as coisas que atrapalham sua vida, sobre fazer algo apenas enquanto aquilo te faz feliz”, afirma Mário Bortolotto.

*Estagiário sob supervisão da
editora-assistente Ângela Faria
 
“O DESEJO DO OUTRO”

Estreia hoje (2/4), com sessões às sextas e sábados, às 20h. Até 17 de abril. Transmissão no canal do ator Pedro Guilherme no YouTube.

“GRAVIDADE ZERO”

As duas últimas sessões ocorrerão hoje (2/4) e sábado (3/4), às 21h, no canal do espetáculo no YouTube. Após a apresentação, tem bate-papo com a equipe do espetáculo. 




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