Jornal Estado de Minas

MÚSICA

Multi-instrumentista toca seis instrumentos em show para festejar carreira

Para comemorar seus 50 anos de carreira, o multi-instrumentista, compositor e arranjador paulista Arismar do Espírito Santo fará a série de shows “Griô dos sons”, a partir desta segunda-feira (29/3), com transmissão pelo YouTube. As sete apresentações já foram gravadas e irão ao ar sempre às 19h. Os shows permanecerão disponíveis no canal do artista na plataforma de vídeos. 





Arismar conta que entrou no Estúdio 185, em São Paulo, e gravou sozinho todas as músicas do repertório. São canções autorais e, para executá-las, ele se revezou entre o piano, o baixo acústico e o elétrico, o violão de sete cordas, a guitarra e a bateria. 

Os episódios contam com a apresentação do jornalista e crítico musical Carlos Bozzo Júnior, para quem Arismar conta seus “causos”, entremeados pelas canções. “É um roteiro de minhas histórias, ilustrado por minhas músicas”, descreve o instrumentista.


Os encontros com outros artistas, os prêmios e as condições de produção de suas músicas são temas tratados nas conversas. Mais recentemente, o músico tem se dedicado a projetos que mesclam linguagens diversas, como poesia, teatro e artes plásticas à sua área de maior interesse, que é a música.





A série “Griô dos sons” foi aprovada pelo programa federal de incentivo à cultura via renúncia fiscal. “Confesso que não esperava (a aprovação), mas conseguimos. Minha mulher, Eni Cunha, foi quem fez o roteiro. Desde que estamos juntos, ela me acompanha em todos os projetos e é também a minha produtora.”

O instrumentista com o filho Thiago Espírito Santo, Bebe Kramer e Leonardo Amuedo, na gravação do disco 'Roda gigante' (foto: Marco Aurelio Olimpio/Divulgação )


Cada episódio apresenta de quatro a seis músicas, sempre intercaladas pelo bate-papo com o apresentador. A duração é, em média, de 1h10min. As sete apresentações já foram gravadas.

“Conto muitas histórias engraçadas, mas não pensem que vou dar um spoiler aqui, prefiro que vocês assistam à série, que ficou muito legal. Mas posso dizer que menciono muitos palcos do mundo nos quais pisei. Aliás, tenho o maior respeito pelos palcos, pois é lá que a gente cria. Falo também do tempo da música, que não tem nada a ver com o do relógio, o cronológico. O tempo da música é outra ideia."



O artista iniciou a carreira musical na adolescência. “Comecei ainda moleque, tocando violão em casa, rodas e festas. Por volta dos 14, 15 anos é que passei a aprender a tocar bateria. Já o baixo apareceu mais tarde. Aos 16 anos, já tocava profissionalmente nas noites paulistas. Comecei nos anos 1970, tocando no Baiúca, que era um restaurante muito legal em Sampa, frequentado por grandes nomes da música, como Johnny Alf (1929-2010), Amilton Godoy e César Camargo Mariano, entre outros. O local ficava lotado de segunda a segunda.”
 
Arismar do Espírito Santo com a filha Bia Goes, em registro de 2004. Hoje ela é cantora (foto: Divulgação)

INFLUÊNCIAS

Arismar foi tocar no Baiúca a convite do irmão Paulo Roberto, que era pianista, compositor e arranjador e já se apresentava lá. Na série “Griô de sons”, o artista menciona outras pessoas que o influenciaram.

“Cito o Sabá, irmão do Luiz Chaves (1931-2007), baixista que tocava no Zimbo Trio. Foi ele quem me levou para o baixo. Um grande instrumentista que toca em qualquer tipo de baixo. Ele tocava nos grupos Som Três, com César Camargo Pinheiro (piano) e o baterista Antônio ‘Toninho’ Pinheiro Filho (1938-2004) e Farroupilha. Também acompanhou os cantores Wilson Simonal (1938-2000) e Dick Farney (1921-1987). Além disso, conto como foi composta determinada música e sobre qual instrumento estava tocando na hora em que a compus”, diz.




O episódio inicial se chama “D’onde” e traz cinco músicas. “Faço ao piano ‘Aracy’, que está no CD ‘Roupa de corda’, 'Acirandado', também ao piano, do álbum ‘Estação Brasil’, e ‘Jogo novo’, do mesmo disco, mas ao violão. Em seguida, a inédita ‘Solo pra Loyola’, na qual toco baixo acústico, e ‘Tidinho’, do CD ‘Foto de satélite’, na qual toco guitarra”, descreve.

Nesse capítulo, Arismar relata suas aventuras na cidade de Santos, litoral paulista, durante a adolescência, nos anos 1960. “Vou narrando as minhas histórias, lembrando do assovio do meu avô, que me ajudou a fazer improvisos desde cedo, das rodas de choro e samba e das cantorias realizadas no quintal da casa dele, na Vila Belmiro. Falo também do amor de meus pais, Aristides e Maria.”

É também no episódio desta segunda (29/3) que o multi-instrumentista lembra de quando ganhou o primeiro violão (aos 11 anos já sabia tocá-lo) e das rádios que gostava de ouvir, Cacique e Atlântica. 





“Na vitrola, ouvia basicamente, fado, jazz e salsa. Falo também da fanfarra do colégio, dos meus primeiros cachês. No segundo, já tocando bateria, na TV Excelsior. Os casos são divertidos e vou lembrando do meu emprego em uma livraria, na qual trabalhei dos 14 aos 17 anos, sempre sintonizado na Rádio Eldorado, ouvindo Cartola (1908-1980), Bituca e Zé Kéti (1921-1999), além dos grandes pianistas da época. Falo também dos ensaios com os trios e grupos de jazz e de como fui aumentando e diversificando o meu repertório.”

O segundo episódio ganhou o nome de “Chegança” e inclui seis músicas. “Entre outros assuntos, falo da São Paulo dos anos 1970, lembrando fatos de quando eu tinha 16 anos”, conta. O terceiro, “Ao criar livre”, traz quatro músicas e abarca as memórias do músico na São Paulo dos anos 1980. “Foi quando comecei a tocar baixo e acompanhei várias feras pelos palcos do mundo.”

“Música pela música” é o título do quarto episódio, com quatro músicas e relatos de quando o instrumentista tocou com artistas consagrados, como Hermeto Paschoal, Sebastião Tapajós, Eduardo Gudin, Amilson Godoy, Jane Duboc e Luiz Eça (1936-1992). “Lembro-me também de quando comecei a fazer jingles publicitários.”




 

PARCERIA

O quinto dia de shows, “Sobrevindas”, tem quatro composições e remonta aos anos 1990, com citações à sua parceria com a gravadora Maritcaca. “Falo da criação autoral e do lançamento de meus CDs, além de vários shows, alguns deles com João Donato, Suely Costa e Raul de Souza.”

O episódio de número seis, “Mundo afora”, tem quatro músicas e um papo centrado na produção paulista, nas oficinas de criação e nas turnês pelo exterior. O encerramento, com “Pra onde o vento me levar”, tem seis músicas e assuntos mais gerais, como o Brasil, a natureza e as características dos estados que visitou.

Sobre a escolha do nome “Griô dos sons” para a série, ele cita o significado do termo griô, originário da África, como sendo o que mais o atraiu. “É o cara mais velho da tribo, que vira o contador de histórias. Ele fala de colheita, plantação, do dia a dia, se o dia está bom para cantar, de como está a terra para o plantio. É aquele que tem sabedoria. Gostei desse nome.”





Nos 50 anos de carreira, Arismar do Espírito Santo lançou 14 CDs, sendo nove de composições autorais e cinco de parcerias, fazendo duos com Leo Amuedo, Toninho Horta, Edsel Gomes e Jane Duboc. O primeiro álbum solo, em formato LP, se chamava “Arismar do Espírito Santo” e foi lançado em 1993. Em 2003, foi relançado em CD, mas com o nome de “Arismar do Espírito Santo: 10 anos”. 

Em janeiro passado, o artista lançou seu 15º álbum, “Cataia: da folha ao chá”, o primeiro no qual não toca baixo. O álbum, que está nas plataformas digitais, traz 14 composições autorais e contou com as participações de Glauco Solter (baixo) e Mauro Martins (bateria). Esse álbum foi gravado ao vivo, em 2019, nos estúdios da Gramofone %2b, em Curitiba.

Durante a gravação, o músico se alternou entre o piano acústico e o violão, com solos vocais, acompanhado de Solter e Martins. Ele explica que Cataia é uma planta nativa da mata atlântica, em especial do Vale do Ribeira, litoral Sul paulista, cuja folha serve para uso medicinal e também para o preparo de uma cachaça, conhecida como ‘uísque caiçara’. 





Pai dos também músicos Thiago Espírito Santo (contrabaixista) e Bia Goes (cantora), Arismar já ministrou masterclasses em universidades no país e no exterior. Ele editou em 2012 o livro “Caderno Acre” (Prêmio Funarte de Música), que é o resultado de um trabalho de criação musical e oficinas ministradas naquele estado. Lançou também “Alegria nos dedos” (Ed. Passarim, 2014), songbook no qual cada uma das partituras vem acompanhada por análises e textos de músicos, como Léa Freire, Amilson Godoy, Toninho Horta, Heraldo do Monte, Gabriel Grossi e Filó Machado, entre outros.
 
“GRIÔ DOS SONS”
Shows de Arismar do Espírito Santo em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Desta segunda (29/3) a domingo (4/4), sempre às 19h, em seu canal no YouTube.

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