(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

De tanto bater, o coração de SÉRGIO RICARDO parou

Cantor, compositor, cineasta e escritor, responsável por uma cena histórica na música brasileira, ele morreu aos 88 anos, de insuficiência cardíaca, depois de ter contraído COVID-19 e se curado da infecção


24/07/2020 04:00 - atualizado 23/07/2020 23:01

Sérgio Ricardo deixa três filhos. Eles anunciaram que sua despedida seria restrita à família, em decorrência da pandemia do novo coronavírus
Sérgio Ricardo deixa três filhos. Eles anunciaram que sua despedida seria restrita à família, em decorrência da pandemia do novo coronavírus
 
Sérgio Ricardo teve COVID-19. Mas a causa de sua morte, aos 88 anos, ontem, no Rio de Janeiro, foi insuficiência cardíaca, segundo a informação oficial. Ele estava internado há quatro meses no Hospital Samaritano. Lá contraiu a infecção pelo novo coronavírus e também se curou dela.

Em seus 88 anos, completados no último dia 18 de junho, o coração de Sérgio Ricardo não se poupou de emoções. Atuando como cantor, compositor, cineasta e escritor, esteve em algumas das mais importantes tendências artísticas no Brasil, como o cinema novo e a bossa nova. E protagonizou algumas das cenas mais marcantes dos efervescentes anos 1960, como aquela em que destruiu em público seu violão, protestando num festival da canção. 

Nascido em Marília, no interior de São Paulo, ele deixa os filhos Marina Lufti, Adriana Lutfi e João Gurgel. A família informou que, em razão da pandemia, a cerimônia de despedida será reservada aos familiares.

Sérgio Ricardo, nome artístico de João Lufti, começou a estudar música aos 8 anos. Em 1950, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde  iniciou a carreira profissional como pianista em uma boate do antológico Beco das Garrafas. Foi nessa época que conheceu Tom Jobim (1927-1994) e começou a compor e cantar.

Na década seguinte, gravou o LP A bossa romântica de Sérgio Ricardo e alcançou sucesso com as canções Pernas, Zelão, Beto bom de bola e Ponto de partida.

BOSSA NOVA Em 1962, participou do histórico Festival de Bossa Nova, no Carnegie Hall, em Nova York, ao lado de Carlos Lyra, Tom Jobim, Roberto Menescal, João Gilberto (1931-2019) e Sérgio Mendes, entre outros.

Foi no Terceiro Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record de São Paulo, cinco anos mais tarde, que ele quebrou seu violão e jogou os destroços na plateia, após ser vaiado. A cena entrou para a história da música brasileira.

Na década de 1950, havia feito testes para trabalhos de atuação e foi contratado pela TV Tupi, onde participou de novelas e programas musicais.

Em 1961 estreou como diretor com o premiado curta O menino da calça branca. A partir daí, Sérgio Ricardo estreitou os laços com o Cinema Novo e lançou, em 1963, seu primeiro longa, Esse mundo é meu, que acompanha a vida de dois moradores de favela.

Estrelado por Antonio Pitanga, Ziraldo e Agildo Ribeiro (1932-2018), o filme deu a partida numa carreira de diretor que ainda incluiria longas como A noite do espantalho (1973), estrelado por Alceu Valença, e Bandeira de retalhos (2018), filmado no Morro do Vidigal, onde o artista morava.

No mesmo ano da estreia de seu primeiro longa-metragem, Sérgio Ricardo fez a trilha sonora de Deus e o diabo na terra do sol  (1964), de Glauber Rocha. O cineasta repetiu a parceria com o músico em Terra em transe (1967). 

“Ele (Glauber) me auxiliou na opção por uma música mais condizente com o social, com o protesto contra a ditadura, o que me fez voltar para o Nordeste, onde descobri ritmos maravilhosos”, contou o compositor ao Estado de Minas, em 2013.

Naquela época, ele se preparava para concluir seu primeiro romance (anunciado sob o título Igarandé: uma aldeia de dois caminhos), que nunca chegou a ser publicado, além de comemorar a remasterização de seus cinco primeiros discos pelo selo Discobertas.

LIVRO Antes disso, o músico publicou o livro Quem quebrou meu violão (ed. Record), em 1991, um ensaio sobre a cultura brasileira e também se dedicou a obras de poesia nos livros  Elo:ela (1982) e Canção Calada (2019). 

Nos últimos anos, o músico e cineasta vinha se dedicando à pintura (chegou a vender algumas telas para complementar o orçamento) e ao espetáculo Cinema na música, em que cantava as duas composições feitas para filmes, acompanhado pelos três filhos. O show virou CD e DVD ao vivo, com participações de Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Dori Caymmi e João Bosco. 

Num rompante contra o público que o vaiou enquanto cantava Beto bom de bola, Sérgio Ricardo destrói seu violão no Festival de Música Popular Brasileira, em 1967(foto: Agência Estado )
Num rompante contra o público que o vaiou enquanto cantava Beto bom de bola, Sérgio Ricardo destrói seu violão no Festival de Música Popular Brasileira, em 1967 (foto: Agência Estado )


LEIA A NOTA DA FAMÍLIA

''Amigos queridos,
 
hoje pela manhã partiu nosso mestre Sérgio Ricardo, nosso amado João Lutfi, aos 88 anos de muita luta e amor, muita resistência, alegria, artes e infinitas expressões. Até os mais inspiradores guerreiros precisam descansar.

Sérgio será sempre mais que Sérgio, mais que João. Estará pra sempre em toda diversidade que nos cria. Nosso compositor de múltiplos, que faz o braço ser mais que braço, a voz ser mais que voz, e o um ser ‘um mais um’.

Infelizmente, por conta da pandemia em que nos encontramos, as cerimônias serão provavelmente restritas à família. Mas estaremos todos juntos como sempre, celebrando sua memória e sua vida.

Siga sua busca, mestre!

A gente vai seguir também.

Viva Adriana, viva Marina, viva João, viva o amor de toda a família.

E, pra sempre, Viva Sérgio!''


OBRA MUSICAL
Confira a discografia de Sérgio Ricardo:

» Dançante nº 1 (1958)
» A bossa nova romântica de Sérgio Ricardo (1960)
» Depois do amor (1961)
» Um SR. talento (1963)
» Deus e o diabo na terra do sol (1964)
» Esse mundo é meu (1964)
» A grande música de Sérgio Ricardo (1967)
» Arrebentação (1971)
» Sérgio Ricardo (1963)
» A noite do espantalho (1974)
» Sérgio Ricardo / MPB Espetacular (1975)
» Do lago à cachoeira (1979)
» Flicts (1980)
» Estória de João Joana (2000)
» Quando menos se espera (2001)
» Ponto de partida (2008)
» Cinema na música de Sérgio Ricardo (2019)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)