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Estado de Minas LIVES

Especialista prevê novo perfil de artistas e público pós-lives

Shows virtuais em tempos de pandemia reforçam ambiente de conectividade e de entretenimento a distância e podem mudar comportamento de astros e do consumidor


postado em 12/07/2020 04:00

Os shows ao vivo passaram a se chamar apenas “live” e aconteceram incontáveis vezes. E os lançamentos, por meio de singles, EPs e até discos inteiros, mas nas plataformas digitais. Em quase 120 dias de quarentena, a música se valeu de formatos já conhecidos para buscar novos caminhos até os ouvidos do público socialmente isolado. Porém, o mergulho mais profundo nas ferramentas virtuais de “consumo musical” traz reflexões e questionamentos sobre a relação dessa cadeia produtiva com a população.

O professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e pesquisador do CNPq Jéder Janotti Jr publicou recentemente o e-book Gêneros musicais em ambientações digitais (Editora Fafich/Selo PPGCOM/UFMG). No ensaio, fruto de seus estudos que já renderam outros livros, ele aborda a complexidade de uma relação cada vez mais digitalizada com a música e seus aspectos acentuadas na pandemia.

Essas novas possibilidades a produtores e artistas, animadoras para uns e preocupantes para outros, transformaram a música em instrumento socializador na quarentena. Especialmente por sua capacidade de conectar o público, o que professor destaca não ser de hoje, apesar da modernidade das plataformas. “O YouTube permite transmissões ao vivo desde 2013. Mas isso ganhou força agora. Dentro desse ambiente da cultura digital existe um papel muito forte e preponderante da música, que é o da conectividade”, interpreta.

Para Janotti, as tecnologias à disposição do consumo virtual de música se potencializam no cenário atual pela “possibilidade de estar junto, de alguma forma”. Vale o exemplo da banda inglesa Radiohead. Sem fazer uma “live” na pandemia, disponibilizou apresentações antigas e memoráveis na íntegra, com exibição única em horário específico nas plataformas digitais.

Outro case foi uma das lives da cantora carioca Teresa Cristina, que no Dia dos Namorados promoveu o “Cristinder”, espécie de “correio elegante” entre a audiência durante o show. “Me chamam atenção justamente essas emulações ou substituições. A ideia funcionou de tal maneira, que o show virou um lugar de encontro virtual, como é com a música ao vivo presencial, em que muitos vão para se encontrar ou para paquerar. Isso mostra que não escutamos mais música, se é que já escutamos, só por escutar, mas acentuamos traços presentes da conectividade, ao associar a música a outras narrativas”.

MAPEAMENTO  
Como detalha em sua publicação, Janotti lembra que a facilidade oferecida pelas plataformas digitais tem um preço: os dados de navegação dos usuários. A segmentação do público, revelada nas escolhas musicais, vira informação valiosa para empresas de tecnologias com foco publicitário. “Por isso o Spotify cria playlists de ‘músicas para ouvir na piscina’, ‘músicas para fazer yoga’. São informações valiosas para empresas de tecnologia sobre nossos hábitos”, detalha.

Em meio à complexidade das formas modernas, para artistas ou fãs, o pesquisador evita traçar tendências, mas vê novos padrões emergindo. “É uma época de muita incerteza. Mas se acentua uma transformação no modo hegemônico, especialmente na música ligada à juventude ou a certa forma de estar no mundo, como é o rock, por exemplo. Isso vai desde uma relação mais forte de cobrança em redes sociais sobre coerência, postura, comportamento dos músicos, até a percepção do público de que é possível viver com menos, consumir música ao vivo e parte das sensações que ela traz sem ter de sair e gastar tanto dinheiro. Fica a pergunta sobre o quanto estaremos dispostos depois que a urgência inicial de sair de casa passar”, questiona Janotti.


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