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Estado de Minas VOZES DE AMÉRICA

Feminina e multinacional, banda Ladama lança álbum nesta sexta (10)

Lara Klaus (Brasil), Mafer (Venezuela), Daniela Serna (Colômbia) e Sara Luca (Estados Unidos) vivem em seus respectivos países e se encontram para fazer turnês e compor


postado em 09/07/2020 04:00 / atualizado em 08/07/2020 20:39

Lara Klaus (Brasil), Mafer (Venezuela), Daniela Serna (Colômbia) e Sara Luca (Estados Unidos) vivem em seus respectivos países e se encontram para fazer turnês e compor (foto: Yanina May/Divulgação)
Lara Klaus (Brasil), Mafer (Venezuela), Daniela Serna (Colômbia) e Sara Luca (Estados Unidos) vivem em seus respectivos países e se encontram para fazer turnês e compor (foto: Yanina May/Divulgação)
Elas são quatro: a venezuelana Maria “Mafer Bandola” (voz e bandola llanera), a brasileira Lara Klaus (voz, bateria e percussão), a colombiana Daniela Serna (voz e tambor) e a norte-americana Sara Luca (voz e guitarra). Ainda que cada uma viva em um país, desde 2016 o quarteto Ladama se reúne, anualmente para turnês. 

Oye mujer, seu segundo álbum, com lançamento nesta sexta-feira (10) pela Six Degrees Records (gravadora americana independente com elenco de artistas internacionais, entre eles as brasileiras Céu e Bebel Gilberto), foi gravado em 2019, no Rio de Janeiro.

“A gente fica parte do ano viajando e é nos meses na estrada que produzimos juntas. Quando acaba o período, cada uma vai para sua casa. Desde o início, somos uma banda que funciona tanto física quanto virtualmente. Todas as decisões, por exemplo, são tomadas via Skype”, comenta a pernambucana Lara Klaus – é prima do músico Kiko Klaus, que vive há muitos anos em Belo Horizonte.

“Quando nós quatro nos conhecemos, a proposta inicial era ir para a Venezuela para tocar e dar workshops para a comunidade de lá, especificamente jovens mulheres que estavam em dificuldades. Só que o projeto se tornou muito maior”, conta Lara. A política interna de seus respectivos países e o feminismo são questões caras às integrantes do grupo.

ALEGRIA 

Em Nobreza, o primeiro single, Lara canta, sob uma forte base rítmica, sobre as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores do Terceiro Mundo. Mesmo que trabalhe temas fortes, a música do Ladama é alegre, ainda mais por causa de sua instrumentação incomum. Misterio, interpretada em espanhol, tem certa malemolência, influências do reggaeton e do samba reggae, enquanto Inmigrante chama a atenção pelos metais. 

Maria, canção de protesto que fala sobre os blecautes na Venezuela no ano passado, é interpretada por Sara e Mafer. Nos versos, que fazem um chamado para as mulheres, elas citam nomes da música venezuelana, como Betsayda Machado e o grupo Mesticanto. Já Mar Rojo funde o rock a ritmos latinos, como a cumbia, com muitas guitarras.

O primeiro álbum foi produzido pelo próprio grupo nos EUA. “A ideia é que cada trabalho seja gravado em um país diferente. Pensamos no (produtor brasileiro) Kassin (para o segundo disco) porque ele é um cara ‘ventilado’, tem outras referências. Ficamos 15 dias no Rio com ele. Nós quatro pré-produzimos o disco com nosso baixista, que é americano. Quando chegamos ao estúdio, as músicas já estavam pensadas. Kassin foi extremamente importante, pois ele foi a pessoa responsável por dar essa ‘cola’, mostrar o que cada uma tinha a oferecer”, diz Lara.

Se no trabalho inicial todas tinham papéis estabelecidos, em Oye mujer elas saíram de sua zona de conforto. Lara, até então mais voltada para a bateria, cantou algumas canções; Maria tocou cavaquinho. “Como não somos uma banda com sonoridade específica, tentamos nos reinventar a cada trabalho”, diz a brasileira.

Kassin, que não conhecia o Ladama, impressionou-se com as garotas. “As meninas são incríveis. Maria é um fenômeno tocando bandola. Ela soa como duas pessoas tocando coisas diferentes em um instrumento de quatro cordas. Quando você olha para ela, o que ouve não condiz com a imagem, é uma virtuose”, afirma o produtor.

OYE MUJER
>> Ladama
>> Six Degrees Records (10 faixas)
>> Lançamento nesta sexta (10) nas plataformas digitais

“A gravação remota é um pouco triste”,  diz produtor Kassin

O produtor Kassin em ensaio fotográfico para seu álbum Relax, de 2017(foto: Fábio Audi/Divulgação)
O produtor Kassin em ensaio fotográfico para seu álbum Relax, de 2017 (foto: Fábio Audi/Divulgação)
De junho para cá, foram lançados dois álbuns produzidos por Alexandre Kassin: Ao redor do precipício, primeiro disco de inéditas de Frejat em 12 anos, e Baile de máscara, trabalho em que a cantora Luana Carvalho homenageia sua mãe, a sambista Beth Carvalho (1946-2019). Oye mujer, segundo álbum do quarteto Ladama, que sai nesta sexta (10), é mais um trabalho assinado por Kassin.

Entre esses discos, somente o de Luana foi produzido durante a quarentena em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Mas, nos últimos três, quase quatro meses, Kassin não parou. Vem trabalhando, ainda que remotamente, em gravações de diferentes artistas. É mais complicado? Definitivamente, mas totalmente possível.

“Dependendo do tipo de música que você está fazendo, demora muito mais. Normalmente, se você tem um grupo de pessoas tocando na mesma sala e alguém dá alguma opinião – ‘Isso podia ser assim’ – é imediato. Para a música que não é programada, eletrônica, que é tocada, é o conjunto de opiniões que faz a diferença. Agora não tem mais isso”, comenta Kassin, que também é compositor e multi-instrumentista. Como produtor, já assinou trabalhos de Caetano Veloso, Jorge Mautner, Los Hermanos, Erasmo Carlos e Adriana Calcanhotto.

“Outra coisa que dificulta muito é que, num dia normal de trabalho, você com três, quatro músicos grava muita coisa em uma tarde. A distância, eu tenho que mandar (para cada um dos instrumentistas) as músicas gravadas com violão, voz e base para daí o cara me mandar de volta o que tinha gravado. Depois, pegar o que cada um gravou para fazer a mixagem. É trabalhoso”, diz ele, comentando que foi esse o método de gravação do trabalho de Luana, que contou com vários instrumentistas.

EM CASA 

Dono do estúdio Marini, em Botafogo, que fica a cinco minutos de onde vive, Kassin tem preferido trabalhar em casa mesmo. Dessa maneira, está mais próximo da família. “Montei tudo em casa para poder trabalhar. Meu quarto está parecendo com o que eu tinha quando estava com 16 anos”, brinca.

Ele fechou o Marini em 12 de março, antes mesmo do início do período de isolamento social. Havia acabado de chegar de Portugal, onde gravou a banda portuguesa Fogo Fogo e parte do álbum do músico inglês Garry Cobain (este último teve que finalizar remotamente no Brasil). No Rio, e também a distância, vem trabalhando com o compositor, arranjador e maestro paraense Manoel Cordeiro e o cantor e pianista pernambucano Zé Manoel. Ainda prepara um trabalho com o gaúcho Frank Jorge.

“Não tenho do que reclamar. Faço bastante show, mas isso nunca foi a maior parte do meu trabalho, não conto com show para sobreviver. Só que, em casa, o tempo das coisas é diferente, minha carga horária hoje é menor, então os prazos tiveram que mudar.” Na última semana ele retornou ao Marini depois de meses fechado para realizar gravações com o guitarrista Fábio Rizental. 

“Ele queria lançar duas músicas neste ano. Como é instrumental, é uma tarde de trabalho.” Como o estúdio de Kassin tem espaços diferentes para grupos de instrumentos – a bateria, por exemplo, tem uma “casa” só para ela, com os devidos microfones – ele preferiu fazer o trabalho in loco.

“Montei a bateria, e o baterista ficou lá. Fábio entrou na outra casa para gravar a guitarra, e eu fiquei na técnica com a porta aberta e a uma distância de seis metros do engenheiro de som. Todo mundo estava de máscara, muito consciente do espaço. Acho que talvez essa seja a única maneira de gravar no próximo ano. A roda tem que continuar rodando.”

Até a pandemia, Kassin nunca havia gravado um trabalho inteiro remotamente. “Já tinha feito para algumas partes. Para cordas, é uma prática comum, tem orquestras que gravam bem em Praga (República Tcheca) e na Rússia. Não é tão mais caro (do que gravar com formações brasileiras) e algumas vezes é até mais barato. Já gravei um grupo de cordas em Praga em que acompanhava tudo pelo computador”, ele conta.

Mas nada, ele diz, substitui a presença física. “A graça do ofício da produção é justamente o encontro. Em um momento está tocando com alguém da Venezuela, da Colômbia, fazendo um disco de rock. A gravação remota é um pouco triste.”


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