Jornal Estado de Minas

Pianistas usam a criatividade para continuar a tocar para o público


Despido do polimento típico da música erudita, chegou às plataformas digitais neste mês o álbum 12 songs from home, do pianista italiano Ludovico Einaudi, que reúne algumas das principais composições do músico e foi gravado por meio de um smartphone em sua casa, na Itália, durante o auge do surto do novo coronavírus no país, que então se tornou o mais afetado da Europa.



Nesse período, como explicou em seu Instagram ao apresentar o disco, Ludovico começou a “a tocar regularmente, ao vivo, via redes sociais”. “Ligar o telefone para me conectar por 30 a 40 minutos com o mundo tem sido uma alternativa bonita e íntima à turnê de primavera que, infelizmente, tive que adiar.”

“Este novo lançamento é a memória daqueles shows ao vivo em casa, a minha memória desta época, a memória de uma atmosfera nova e estranha que nunca esqueceremos.” O álbum apresenta uma breve compilação de alguns dos trabalhos mais notáveis do pianista, como Oltremare, do disco Divenire (2006), e Nuvole bianche, presente em Una mattina (2003).

Com 1h09min de duração, o registro exala um profundo senso de solenidade e reflete o ambiente global atual de isolamento. O chiado presente nas faixas, causado pela falta de qualidade da gravação, feita sem os recursos de um estúdio; os ruídos de fundo e até a arte da capa – desenhada pelo próprio compositor – conferem ao álbum um realismo intacto e sincero, perfeito para amenizar os dias em casa.



Outro pianista que tem usado as redes sociais para agraciar os seguidores com apresentações ao vivo é o russo-alemão Igor Levit. Convidado para se apresentar na cerimônia de entrega dos prêmios Nobel deste ano, programada para 8 de dezembro, ele utilizou seu perfil no Twitter para promover mais de 50 lives diretamente de sua casa, na Alemanha, durante a quarentena.

O que começou despretensiosamente acabou se tornando um encontro marcado com o público, já que o músico entrava ao vivo sempre no mesmo horário, no fim do dia, para apresentar e comentar peças da música erudita, de clássicos de Bach (1685-1750) a trabalhos mais contemporâneos, como os de Morton Feldman (1926-1987). No último dia 4, Levit transmitiu seu 52º show – e último, por enquanto.

Embora não tenham sido transformados em disco, como fez Einaudi, os vídeos de quase uma hora de duração seguem disponíveis no Twitter. Para aqueles que preferem a qualidade das gravações em estúdio, Levit tem nove discos e um EP disponíveis nas plataformas digitais. O último deles, Beethoven: the complete piano sonatas, reúne mais de 10 horas de música.




PRODÍGIO

O pianista prodígio grego Stelios Keradisis talvez seja o mais jovem artista a produzir peças para conscientizar sobre o isolamento e homenagear os afetados pela COVID-19. Com apenas 7 anos, o garoto compôs a Valsa do isolamento, publicada em seu canal no YouTube no fim de março.

No vídeo, ele diz: “Oi gente! Sou Stelios, estou em casa também. Vamos ser só um pouquinho mais pacientes e logo estaremos nadando no mar! Estou dedicando a vocês uma peça de minha autoria”. Na descrição do vídeo, ele explica que a composição introspectiva, de cerca de 2min, é “dedicada às pessoas que sofrem e àquelas que se isolam nestes dias difíceis por causa da pandemia”.

Nas redes sociais, em especial pelo WhatsApp, o vídeo em que o pianista Massimo Giuseppe Bianchi circula sobre um caminhão pelas ruas de Bergamo, na Itália, emocionou muita gente. Curiosamente, a música apresentada no vídeo é Odeon, chorinho composto pelo também pianista e compositor brasileiro Ernesto Nazareth (1863-1934).

A ideia inspirou uma ação realizada no último dia 8 pelo pianista brasileiro Rodrigo Cunha, que percorreu ruas de São Paulo em cima de um caminhão especialmente modificado, tocando músicas compostas por Vinícius de Moraes e Tom Jobim.