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Estado de Minas

Autor de peça sobre a gripe espanhola, Mauro Alvim encara a COVID-19

Dramaturgo mineiro diz que quarentena não é novidade para escritores como ele, obrigados a trabalhar em casa por dias a fio. Porém, a pandemia atrasou o lançamento de seu novo romance


postado em 28/04/2020 04:00

O dramaturgo e escritor Mauro Alvim dedica os dias de isolamento social a pesquisas para seu novo romance (foto: Acervo pessoal)
O dramaturgo e escritor Mauro Alvim dedica os dias de isolamento social a pesquisas para seu novo romance (foto: Acervo pessoal)

Em Reencontro após a vida, um de seus últimos trabalhos para teatro, o dramaturgo mineiro Mauro Alvim abordava o espiritismo numa trama ambientada durante a pandemia da gripe espanhola, em 1918. Quando a peça dirigida por Elvécio Guimarães ficou em cartaz, há nove anos, Alvim não imaginava que fosse testemunhar – ainda neste plano – situação semelhante desencadeada pela COVID-19.

Conhecido pelos textos de comédia, o dramaturgo se diz desanimado com a atividade nos palcos desde antes do novo coronavírus. Porém, consegue tirar algum proveito do isolamento social dedicando-se à literatura.

“A quarentena forçada em casa não é novidade para quem vive de escrever. Até brinco que quem se casa com escritor tem de se acostumar com a porta fechada”, afirma. Ele é categórico: “Sou dramaturgo, mas esta crise, que vem há algum tempo, me tirou a inspiração para escrever teatro”.

Com o foco voltado para os livros, ele faz a ressalva: “Minha grande preocupação hoje é com colegas – atores, atrizes, diretores e diretoras que necessitam do público para trabalhar. Já vi notícias de que até outubro os teatros poderão ficar fechados. Muitas informações diferentes, a gente fica sem saber”.

Alvim procura manter a serenidade entre o que considera “pessimismo exagerado”, especialmente na mídia, segundo ele, e “otimismo em excesso”, citando como exemplo o presidente Jair Bolsonaro. “É difícil saber para que lado o rio corre. Então, tenho me dedicado aos meus romances”, conta o autor de Mineiríssimo, livro de contos e causos inspirados no interior do estado, lançado em 2016 pela editora Alegria.

Se não fossem os desdobramentos da COVID-19, sua bibliografia teria ganho outro título nos últimos dias. Mas, por conta da quarentena, ele se encontra “parado na gráfica”. Trata-se de um romance, também ambientado no universo interiorano mineiro, ligado às instâncias judiciais e aos tribunais.

“É um drama, diferente de tudo que já escrevi. Também sou advogado e sempre quis falar dos meandros da Justiça. A história é uma espécie de O conde de Monte Cristo, mas protagonizada por uma mulher, que foge do interior de Minas, da cidade fictícia de Mirapó, para a cidade grande, onde consegue estudar, se formar e voltar para botar ordem no município. Não posso revelar mais detalhes sem spoilers”, explica.

No compasso de espera pelo novo lançamento, há uma nova produção em curso. “Estou na fase de pesquisas muito pesadas para meu próximo livro, uma história ambientada na Segunda Guerra Mundial, especificamente na tomada de Monte Castelo. O enredo principal é um fato que minha mãe me contava desde a infância. Ela esteve na Itália cinco anos depois da guerra e conheceu um ex-prisioneiro, que havia vivido uma aventura extraordinária durante o conflito. Cresci com essa história e pretendo realizar o sonho de contá-la”, detalha Alvim.

ARTES MARCIAIS

Ao falar de seus dias de quarentena, ele diz que o pior é a academia onde pratica artes marciais estar fechada. “Sinto muita falta de fazer esportes, pois é necessário limpar a mente para a atividade literária. Por outro lado, conviver 24 horas com minha mulher e ganhar mais cafunés tem sido maravilhoso.”

Apesar do tom bem-humorado, Mauro Alvim evita traçar prognósticos ou fazer reflexões mais aprofundadas sobre o pós-pandemia. “Não consigo dizer se tiraremos grandes lições da crise. Vejo muitas ações solidárias, muita caridade, mas também vejo muita gente pensando só no próprio umbigo, mercados aumentando preços para lucrar diante da necessidade. É esperar para ver”, conclui.


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