Jornal Estado de Minas

Confinamento faz pianista viver a vida em 'dois planos'

Fernanda Gomes*

“A gente vive em dois planos: um é o dia a dia em casa; e o outro é essa nuvem que paira sobre a gente, com essa tristeza toda”, desabafa a pianista e professora de música Berenice Menegale, de 86 anos, sobre o isolamento social. Ela confessa estar bastante preocupada com as pessoas que contraíram ou que ainda vão contrair o coronavírus.



Berenice é uma das fundadoras, professora e diretora-executiva da Fundação de Educação Artística (FEA). Mesmo estando acostumada a uma rotina intensa, a pianista conta que não está achando muito difícil ficar em casa, já que isso é algo de que gosta.

“Muita coisa que eu não tinha tempo para fazer antes, como cozinhar, ler, organizar as minhas coisas, conversar com as pessoas no telefone e estudar, estou fazendo agora”, explica. Apesar disso, ela conta não manter uma rotina fixa. Mas procura, todos os dias, tirar um momento para relaxar, tocar piano e ligar para os amigos.

Mesmo pessimista sobre o futuro do Brasil, Berenice ressalta que é possível tirar coisas boas até mesmo da quarentena. “Uma coisa muito boa nesta quarentena são as amizades na vizinhança. Eu tenho grandes amigos aqui. Hoje mesmo veio uma vizinha trazer uma canjica, e ela cozinha muito bem", conta a pianista, que mora sozinha.


AULAS ON-LINE

 “A Fundação está fechada e muitos dos professores estão dando aulas on-line. As coisas estão indo muito bem. Alguns já tinham feitos isso antes, e outros estão começando agora e gostando bastante”, diz ela sobre a situação da FEA.

Apesar de grande parte dos alunos continuar pagando a mensalidade e de a Fundação estar conseguindo pagar seus compromissos, Berenice ressalta que a situação não é das melhores."O estado normal da Fundação já é de dificuldade financeira.”

Muitos planos que ela tinha para a Fundação tiveram que ser adiados ou cancelados, devido ao isolamento. A FEA já lançou talentos como Chico Amaral, Trio Amaranto, Grupo Oficcina Multimédia e Marco Antônio Guimarães.



Apaixonada pelos livros, Berenice aproveita para pedir que as pessoas leiam a obra de Rubem Fonseca, que morreu na última quarta-feira (15), de infarto. “Qualquer livro dele eu indico. É uma coisa muito forte! Pode não ser minha preferência como literatura, mas gosto e admiro muito”, comenta. Ela também indica o livro Maquinação do mundo, de José Miguel Wisnik (Companhia das Letras), que relaciona a obra de Carlos Drummond de Andrade e a história da mineração no Brasil. “É um livro maravilhoso! Estou lendo com um interesse enorme”, diz.

*Estagiária sob a supervisão da editora Silvana Arantes