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Estado de Minas

'Doce entardecer na Toscana' usa a palavra contra a xenofobia

Filme de Jacek Borcuch que está em cartaz em Belo Horizonte tem escritora premiada como protagonista. Papel é vivido pela atriz Krystyna Janda


postado em 15/03/2020 04:00

A atriz Krystyna Janda interpreta a protagonista no longa de Jacek Borcuch filmado em Volterra, na Itália, e falado em polonês e italiano(foto: ARTEPLEX FILMES/DIVULGAÇÃO)
A atriz Krystyna Janda interpreta a protagonista no longa de Jacek Borcuch filmado em Volterra, na Itália, e falado em polonês e italiano (foto: ARTEPLEX FILMES/DIVULGAÇÃO)
Até onde as palavras podem nos levar? A poeta Maria Linde (Krystyna Janda) acredita que não há muito mais o que falar ou escrever. Autora consagrada, a polonesa de origem judaica há muito deixou seu país natal. Na Itália, casou, teve sua filha e fez sua carreira. Já chegada aos 60 anos, mas sem se deixar levar pelo peso da idade, leva uma vida tranquila, em Volterra, vila medieval na Toscana. Recebeu, há pouco, o Nobel de Literatura.

Doce entardecer na Toscana, filme polonês dirigido por Jacek Borcuch em cartaz no Cine Belas Artes, em Belo Horizonte, se anuncia como mais uma narrativa sobre o outono de quem já viveu muito. É pelo menos esta a ideia apresentada na primeira parte da narrativa. Ora em italiano, ora em polonês e, em alguns momentos ainda em francês, o ciclo das pessoas que cercam Maria Linde nos é apresentado.

Atriz que atuou em filmes do conterrâneo Andrzej Wajda – O homem de mármore (1977) e O maestro (1980) – e no oscarizado Mephisto (1981), do húngaro István Szabó, Krystyna Janda foi a vencedora do prêmio do júri de melhor atriz no Festival de Sundance de 2019 por seu papel em Doce entardecer na Toscana.

Mulher progressista e de espírito livre que não se vê no corpo em que habita, Maria tem uma vida em família – marido, filha, dois netos – e outra fora de casa. É com o imigrante egípcio Nazeer (Lorenzo de Moor) que consegue dar vazão a sua ânsia de viver. A bordo de um Porsche conversível roda em alta velocidade pelas estradas da região.

XENOFOBIA 

Só que a camada de tranquilidade é apenas aparente. “Eles podem ser perigosos”, avisa um personagem logo no início da narrativa. “Eles” são um grupo de imigrantes que sumiram de um campo de refugiados. O desaparecimento do neto de Maria é outro foco de tensão. Quem o leva para casa é justamente Nazeer. O tratamento que o imigrante, dono de um restaurante, recebe por ter encontrado o menino mostra a força da xenofobia no Velho Continente.

A tensão explode, literalmente, no início do segundo ato do filme. Roma é assolada por um atentado terrorista que deixa muitas vítimas. O impacto no país e em seus habitantes é arrasador. Cada qual sente a tragédia à sua maneira. E Maria, que vem de um passado de perseguição, descobre que ainda tem o que dizer, mesmo que os que a cerquem vivam em uma bolha de intolerância que eles mesmos não percebem.

A entrega de um prêmio menor frente ao Nobel – mas que para a poeta tem uma importância pessoal – é a ocasião que Maria escolhe para mostrar seu incômodo frente a seu mundo de privilégios e à escalada de intolerância na Europa. O desconforto frente às palavras – tanto dos fãs da autora quanto de seus próprios familiares – vai se metamorfoseando em ódio, que ela sentirá na própria pele.

Maria tem consciência do peso do que disse. E também da falta de reflexão das pessoas, que não pensam mais por si próprias. Na parte final, a protagonista resolve discutir a própria moralidade em uma entrevista que se negava a dar antes dos acontecimentos. É uma grande sequência, seguida de outra, de forte impacto visual, pois acontece no centro de uma cidadezinha medieval que sofreu ao longo dos séculos – Volterra tem uma história de resistência frente ao cerco nazista. Tais momentos só fazem reforçar que, a despeito da passagem do tempo, ideias fascistas estão sempre à espreita.









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