Jornal Estado de Minas

Longa sobre romance gay gera protestos na Geórgia


O longa-metragem E então nós dançamos, em cartaz em Belo Horizonte (Cine Belas Artes 2, 19h20), é sobre um jovem aspirante a integrar o Balé Nacional da Geórgia. O grupo não é apenas depositário de uma tradição de dança. É também responsável pela manutenção de valores tradicionais – a virilidade dos bailarinos está acima de qualquer discussão.Não há espaço para discussões de gênero. Ou o cara é macho, ou está fora. Merab (Levan Gelbakhiani) tem um envolvimento com uma garota da companhia, mas logo chega um novo bailarino, Irakli (Bachi Valishvili), e a relação entre os dois, que inicialmente é de rivalidade, evolui para um tórrido romance. Embora tenha concorrido a uma indicação para o Oscar pela Suécia, país natal do diretor Levan Akin, o filme foi rodado na Geórgia, terra de seus ascendentes."Foi o primeiro filme de temática LGBTQ rodado no país, e não foi nada fácil. Tentamos conseguir apoio para a produção, mas, tão logo souberam do nosso roteiro, os dirigentes do Balé Nacional fizeram de tudo para complicar nossa vida. Houve pressão sobre nossos atores e bailarinos. Foi preciso contratar seguranças", afirma o diretor.O filme estreou na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, com boas críticas. Em Tbilisi, a capital da Geórgia, foi diferente. "Houve protestos de manifestantes que gritavam 'Vergonha' e 'Viva a Geórgia'. Chegaram a queimar bandeiras com a representação do arco-íris. Estão muito atrasados na questão dos direitos individuais e na discussão de gênero."



PROTESTOS 

Akin esclareceu que a legislação antigay foi banida em 2000 e que os protestos de grupos de direita e da Igreja Ortodoxa – que considerou o filme uma afronta aos valores cristãos e familiares – não foram encampados pelo governo. Para ele, o filme é sobre tradição versus modernidade, sobre o direito de ser e estar no mundo, "e isso é universal, ultrapassa rótulos".

Aos 40 anos,  Levan Akin tem em E então nós dançamos seu terceiro longa. Ele é diretor também de séries para a TV. Na entrevista, anterior ao anúncio dos pré-selecionados para o Oscar de Melhor Filme Internacional, feito na noite de segunda-feira passada (16), o diretor afirmou ter poucas expectativas de ver seu filme, representante da Suécia na corrida pela estatueta, entre os 10 escolhidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

De fato, E então nós dançamos, assim como o representante brasileiro A vida invisível, de Karim Aïnouz, ficou fora da disputa. Mas, segundo Akin, a campanha pela indicação já trouxe dividendos.  "Você conhece muitas pessoas interessantes, há muita troca de informação, e só o fato de pleitear a indicação já abre portas para possíveis produções. Já tinha ouvido falar num efeito Oscar, e é verdade."