Jornal Estado de Minas

Musa da Nouvelle Vague, Anna Karina morre em Paris

O casal Jean-Luc Godard e Anna Karina no Marrocos, em 1963 (foto: afp)

 
Diva da Nouvelle Vague, Anna Karina, conhecida por seus papéis nos filmes de Jean-Luc Godard, morreu no sábado (14), aos 79 anos, em Paris, em decorrência de um câncer. “O cinema francês ficou órfão. Perdeu uma de suas lendas”, lamentou o ministro da Cultura da França, Franck Riester, no Twitter.


 
Francesa de origem dinamarquesa, a atriz de rosto pálido e grandes olhos azuis fez sete filmes com Godard na década de 1960. Ela também se destacou no mundo da música ao lado do lendário Serge Gainsbourg.
 
A atriz em cena de Made in USA, filme de Godard lançado em 1966 (foto: Pathé/reprodução)
 
 
“Era uma artista livre e única”, afirmou o agente da atriz, Laurent Balandras. De acordo com ele, o diretor americano Dennis Berry, marido de Anna Karina, estava com ela no momento da morte.

CARONA A sensibilidade ímpar de Anna Karina foi gestada ainda na infância dela, na Dinamarca, entre a mãe distante, a avó falecida muito cedo e o avô que adorava. Menor de idade, a bela dinamarquesa chegou a Paris depois de pedir carona, já com o propósito de ser atriz. Rapidamente, estreou como modelo. Foi Coco Chanel quem mudou seu nome verdadeiro, Hanne Karin Bayer, para Anna Karina.


 
Godard a descobriu em um anúncio e lhe propôs um pequeno papel em Acossado, com Jean Seberg e Jean-Paul Belmondo. Mas a jovem modelo rejeitou o convite para esse longa-metragem, que se tornaria um dos ícones da Nouvelle Vague.
 
Cartaz de Uma mulher é uma mulher (foto: Reprodução)
 
 
Meses depois, o diretor a chamou para ser a protagonista de O pequeno soldado, filme sobre a guerra da Argélia. Nos bastidores, Karina e Godard iniciaram o romance que duraria vários anos.
A parceria rendeu sete filmes – entre eles, Uma mulher é uma mulher, que deu a Karina o prêmio de melhor interpretação no festival de Berlim em 1962, Viver a vida e O demônio das onze horas, no qual ela contracenou com Jean-Paul Belmondo.



CIGARRO Em uma de suas entrevistas, Anna Karina revelou que o relacionamento com Godard foi “complicado”. “Nós nos amávamos muito, mas era difícil viver com ele. Era alguém que poderia dizer 'vou buscar um cigarro' e voltar depois de três semanas. Naquela época, não havia smartphones nem secretárias eletrônicas”, contou.
 
 
 
O relacionamento dos dois foi marcado por uma tragédia: a perda de um filho. A última vez que o casal mítico se viu foi há mais de 20 anos. Desde então, não houve contato. “Ele está na Suíça e não abre a porta”, revelou a atriz em entrevista à agência AFP em 2018. “Não, não fico triste. Afinal, é a vida dele”, garantiu.
 
Atriz fetiche de Godard, Anna Karina trabalhou com o cineasta Jacques Rivette (A religiosa), mas não filmou com Claude Chabrol e François Truffaut, outros nomes de ponta da Nouvelle Vague. “Era a mulher de Jean-Luc. Isso certamente lhes dava um pouco de medo”, admitiu ela.
 
Em 1973, a atriz dirigiu seu primeiro filme, Vivre ensemble, história de amor em meio a drogas e álcool. “É um retrato da minha juventude. Vi pessoas ao meu redor afundarem e morrerem”, comentou.
Depois de Godard, a atriz se casou com os cineastas Pierre Fabre, Daniel Duval e o americano Dennis Berry, marido dela desde 1982.
 
Como cantora, fez sucesso, em 1967, com Sous le soleil exactement, de Serge Gainsbourg, tema do telefilme musical Anna, dirigido por Pierre Koralnik.