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Exposição de Man Ray em BH permite reproduzir foto icônica do artista

Mostra 'Man Ray em Paris', que será aberta nesta quarta (11) no CCBB, oferece ao público a chance de se fotografar como na imagem de 'As lágrimas'


postado em 11/12/2019 04:00 / atualizado em 10/12/2019 18:59

'As lágrimas' é uma das fotografias de Man Ray mais conhecidas pelo público (foto: Man Ray/divulgação)
'As lágrimas' é uma das fotografias de Man Ray mais conhecidas pelo público (foto: Man Ray/divulgação)

É um autorretrato de Man Ray  (1890-1976), datado de 1930, que recebe os visitantes da exposição de obras do fotógrafo norte-americano, em cartaz a partir desta quarta (11), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na Praça da Liberdade. Uma espécie de camarim, com direito a adereços como perucas, chapéus, colares, luvas e até figurinos está à disposição do público da mostra Man Ray em Paris, no terceiro andar do prédio da Praça da Liberdade.

“Dessa forma as pessoas vão poder se produzir, assim como as figuras fotografadas por Man Ray, e fazer a própria selfie. Tem até pedrinhas para que quem quiser simular uma das suas imagens mais icônicas, As lágrimas”, afirma a francesa Emmanuelle de l’Ecotais, curadora da exposição e especialista no trabalho do artista,  que teve seu auge criativo quando morou na França, de 1921 até 1940. Nesse ano, Man Ray – que era filho de judeus russos – retornou aos Estados Unidos para fugir do nazismo e da Segunda Guerra Mundial.

As lágrimas, retrato de 1932, é uma das 255 obras (entre fotografias, objetos e vídeos produzidos por ele e sobre ele) que estão reunidas na mostra, cuja visitação fica aberta até 17 de fevereiro de 2020. O fotógrafo produziu duas imagens a partir de um mesmo negativo, mostrando em close-up os olhos de uma mulher bem maquiada e lacrimosa. “Essa foto traz dois enquadramentos interessantes. É uma imagem que tem uma atmosfera bem surrealista e carrega também um certo erotismo”, comenta Emmanuelle.

A mulher sempre foi muito valorizada em sua produção. Ao longo dos módulos em que a mostra foi dividida – retratos, moda, dadaísmo e surrealismo, raiografismo, nus, natureza e objetos – a figura feminina se faz bastante presente. “É um tema recorrente em sua obra, especialmente o nu. Man Ray retratou várias de suas amantes no decorrer dos anos, sendo a mais famosa delas Kiki de Montparnasse”, afirma a curadora.

É ela a musa inspiradora de outro de seus retratos mais notórios, O violino de Ingres (1924). A curadora revela que Kiki considerava a fotografia algo vulgar e relutou em ser fotografada. A pose dela lembra um dos personagens de O banho turco, tela do pintor e desenhista francês Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867). “Man Ray disse que provaria para ela que poderia fazer algo tão bonito quanto a pintura de Ingres. Foi a primeira vez que ele fez uma intervenção em uma foto. Após a revelação, ele criou aqueles dois efes em nanquim sobre as costas de Kiki, como se o corpo dela fosse um violino. Há vários simbolismos por trás dessa imagem.”

Outra foto que traz Kiki e também ficou conhecida é Preta e branca (1926), que traz uma máscara negra em posição vertical, em contraste com o rosto branco da musa, deitado sobre uma mesa. “É uma foto dele que foi feita para a revista Vogue. É uma composição estável e simétrica. Tem a dualidade de cores, de posições. Como toda a obra de Man Ray, leva à reflexão”, comenta.

Lábios de Lee Miller (1930). A figura da mulher é destaque em todas as vertentes e fases da obra de Man Ray(foto: Man Ray/divulgação)
Lábios de Lee Miller (1930). A figura da mulher é destaque em todas as vertentes e fases da obra de Man Ray (foto: Man Ray/divulgação)


DUCHAMP 

Man Ray iniciou a carreira na pintura, mas, como não obteve muito sucesso, acabou enveredando para a fotografia e se tornou um dos nomes mais importantes dessa técnica. O encontro com o pintor, escultor e poeta francês Marcel Duchamp (1887-1968), ainda em Nova York, foi decisivo em sua trajetória. “Foi Duchamp quem o convenceu a ir para Paris e defendia que lá Man Ray teria a liberdade que queria. Na fotografia, ele descobriu uma maneira inovadora de trabalhar. Suas primeiras obras eram ligadas a Marcel Duchamp, retratando o artista ou sua obra. Ambos se identificam com o dadaísmo e o surrealismo”, observa Emmanuelle.

O fotógrafo norte-americano elevou a fotografia a um outro padrão. Sua paixão por esse ofício vem desde garoto, quando começou a frequentar museus. Ele inovou com várias técnicas, como a solarização, que não foi idealizada por Man Ray, mas aperfeiçoada por ele. O procedimento é uma inversão dos valores tonais de algumas áreas da imagem fotográfica. O efeito é obtido por meio da rápida exposição à luz durante a revelação na sala escura. “Esse retratos solarizados acabaram sendo uma de suas assinaturas. É como se formasse uma aura ao redor das pessoas fotografadas, uma espécie de idealização do personagem.”

Outra marca sua é a rayografia, termo criado em uma referência a si mesmo. A técnica – que é um prato cheio para a imaginação, como ele desejava – consiste em pôr objetos diretamente sobre um papel sensível e expô-los à luz durante alguns segundos. Em seguida, ao revelar normalmente o papel, obtém-se uma imagem cujos valores se encontram invertidos. É uma maneira de dar nova aparência aos objetos. “Foi dessa forma que ele inventou a fotografia surrealista. Man Ray sempre inovou, buscou o relevo, a terceira dimensão, e para alcançar isso começa a usar a rayografia. Ela é tida como a primeira impressão fotográfica a obter junto ao público um valor equivalente ao da arte e provou que a fotografia pode ser também inventiva e criativa.”

Várias personalidades, como estilistas, pintores e escritores, também posaram para as lentes de Man Ray. A curadora aponta que o artista foi um dos poucos de sua época a ganhar dinheiro com seu trabalho – sobretudo com as fotos de moda – e chegou a ter dois ateliês funcionando ao mesmo tempo em Paris. “E era ele quem cuidava de todos os detalhes das fotos, seja para as revistas de moda ou não. O enquadramento, o figurino, a iluminação, a produção”, relata.

Retrato de Tristan Tzara e René Crevel (1922). Vivendo em Paris de 1921 até 1940, Man Ray se aproximou do dadaísmo(foto: Man Ray/divulgação)
Retrato de Tristan Tzara e René Crevel (1922). Vivendo em Paris de 1921 até 1940, Man Ray se aproximou do dadaísmo (foto: Man Ray/divulgação)


CONTADOR DE HISTÓRIAS 

Man Ray em Paris tem ainda uma sala com imagens feitas para uso pessoal de paisagens e situações parisienses. É nesse ambiente que se encontra uma das raríssimas fotografias dele em cor, Borboletas (1935). A curadora também quis trazer objetos produzidos por ele, sendo a maior parte feita a partir de técnicas de colagem. “A maioria desses objetos desapareceu durante a Segunda Guerra. Graças às fotografias que o próprio Man Ray tirava, eles puderam ser reeditados a partir dos anos 1960”, conta.

Emmanuelle, que sempre foi fascinada pelo trabalho do fotógrafo, ressalta que, ao longo de suas pesquisas, se impressionou também com sua personalidade e diz que ele era um contador de causos. “Ele adorava contar e, principalmente, inventar histórias. Man Ray mentia demais, e acho isso muito interessante. Costumava dizer que inventou várias coisas, gostava de afirmar que era adepto de um estilo que não trabalhava, que era low profile. E isso não era verdade. Muito pelo contrário. É um aspecto curioso e divertido dele.”
Preta e branca (1926), com Kiki de Montparnasse, a musa mais significativa na carreira do artista, produzida para a revista Vogue (foto: Man Ray/divulgação)
Preta e branca (1926), com Kiki de Montparnasse, a musa mais significativa na carreira do artista, produzida para a revista Vogue (foto: Man Ray/divulgação)

Boa parte do acervo que veio ao Brasil – e que pertence a coleções particulares – é praticamente centenário, mas nem por isso menos atual. “Mesmo após quase 100 anos, essas fotografais ainda são modernas, fora do comum e até chocam em alguns casos. Essa é a força de Man Ray.”

Man Ray em Paris
 
Em cartaz desta quarta (11) a 17/2, de quarta a segunda, das 10h às 22h, no Centro Cultural Banco do Brasil – Praça da Liberdade, 450, Funcionários. (31) 3431-9400. Entrada franca. Mais informações: https://culturabancodobrasil.com.br/portal/belo-horizonte.


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