Jornal Estado de Minas

Yuval Harari diz que inteligência artificial criou massa de 'inúteis'


Os maiores desafios do século 21 residem na inteligência artificial e em como ela está revolucionando a sociedade planetária. Como os governos e as sociedades lidam com isso vai conduzir a humanidade a um novo patamar, que pode ser catastrófico. Ou não. O alerta vem do escritor israelense Yuval Noah Harari.

Autor de Sapiens, Homo Deus e 21 lições para o século 21, Harari, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, tornou-se uma celebridade do pensamento contemporâneo ao trazer para a pauta internacional a discussão sobre o impacto da inteligência artificial sobre o futuro da humanidade.

Esse impacto, aliás, já chegou. A partir de agora, decisões governamentais para problemas como ameaça nuclear, controle da informação, mudanças climáticas e automação vão determinar como o ser humano viverá nas próximas décadas.

Harari retoma a ideia esboçada em seus dois últimos livros de que a tecnologia vai criar uma massa de pessoas sem utilidade. O avanço tecnológico está mudando todas as profissões e criando outras, por isso a capacidade de se reinventar e de aprender rapidamente determinará quem será ou não relevante neste novo mundo.

“Não é que vamos ter uma revolução de inteligência artificial em 2020 e teremos alguns anos para nos adaptar. Ela já está acontecendo agora. As pessoas vão precisar se reinventar a todo momento”, explicou, observando que o estresse psicológico dessa dinâmica pode ser insuportável para muitos.

O novo cenário, segundo Harari, vai criar uma massa de pessoas sem utilidade do ponto de vista dos sistemas financeiro e econômico.
“Se a maior luta do século 20 foi contra a exploração, a maior luta do século 21 será contra a irrelevância” disse ele. “Por isso, os governos têm de proteger as pessoas.”

No entanto, a concentração de riqueza e poder nas mãos de poucos pode fazer com que a inteligência artificial crie desigualdade sem precedentes no planeta.

INFORMAÇÃO 

De acordo com o filósofo e historiador, a informação é o bem mais valioso desta era. Se antes a terra e as máquinas constituíam as maiores riquezas e o homem passou décadas regulando essas áreas, atualmente, o valor da informação ultrapassa todas elas. Por isso, é preciso que governos preparem legislações e regulamentos para que o cidadão não seja manipulado.

Na equação de Harari, a soma do controle da biologia humana com o poder digital e da informação resultará no hackeamento de humanidade. “É possível criar algoritmos que nos conheçam melhor do que nós mesmos, que podem nos hackear e manipular nossos sentimentos e desejos. Eles não precisam ser perfeitos, apenas nos conhecer melhor. E isso não é difícil, pois muitos de nós não se conhecem muito bem”, disse o historiador.

Harari contou que ele próprio é exemplo desse desconhecimento.
Até os 21 anos, não sabia que era gay, mas tem certeza de que o algoritmo certo teria percebido o fato antes dele. Esse tipo de controle, advertiu, pode ser nefasto e resultar em ditaduras digitais, fatais para a humanidade. “Se você tem informação suficiente, pode controlar um país”, alertou.


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