Jornal Estado de Minas

Prêmio da Música Brasileira 2019 é cancelado por falta de patrocínio


Foi uma luta para não jogar a toalha desde que a estatal Petrobras, em abril, anunciou a saída de cena como patrocinadora. Agora, José Maurício Machline anuncia, depois de meses em silêncio para não atrapalhar negociações que poderiam salvar seu projeto, que não fará a edição do Prêmio da Música Brasileira em 2019.

O produtor que fez do prêmio uma causa de 29 edições, com direito à inegociável noite de gala no Teatro Municipal do Rio, atraiu para a festa duas vertentes nem sempre contempladas em um mesmo projeto, novatos e veteranos, e já havia deixado a aura mais decorativa dos primeiros anos para ganhar relevância curatorial e de resistência de uma classe rompida com o poder público em um nível que não se via desde o regime militar.

Machline conta que a busca por patrocinadores, depois da saída da Petrobras, acabou não sendo frutífera. “Havia boas intenções, mas sem nenhuma verba.” Quando saiu a notícia de que havia risco de o prêmio não ser realizado, o governo estadual de São Paulo o procurou para que o evento fosse transferido para a capital paulista. “São Paulo viabilizou o teatro, mas não conseguiria ter a verba para fazermos da maneira como o prêmio sempre foi realizado. Seria então um prêmio menor, mas não acho que teria a cara do que sempre foi”, explica. O Rio de Janeiro também fez uma proposta, mas Machline sentiu a mesma limitação e preferiu não fechar. “Além das limitações, prefiro fazer sempre com dinheiro privado”, argumenta.

O tempo foi passando, as negociações não se concluíram e a noite de gala que depende de lançamentos concentrados em um determinado período do ano foi chegando a seu prazo de validade. Mesmo se conseguisse patrocinador hoje para fazer como quer, Machline teria problemas cronológicos.
“O ano letivo da validade dos lançamentos vai até 31 de dezembro de 2018. Muitos artistas já estão com discos novos lançados depois deste dia, com shows novos”, explica. Para evitar um prêmio frio, ele resolveu anunciar a desistência da festa.

Machline diz não saber se conseguirá manter o prêmio em 2020. Se conseguir, não imagina se será no Rio ou em São Paulo. “Há a indefinição das próprias leis de incentivo, as pessoas não sabem no que vai dar”, comenta, referindo-se a prováveis patrocinadores. “O momento é complicado em termos culturais, estamos com muitas mudanças.”

SHARP

Quando surgiu, em 1988, o evento era patrocinado pela empresa de eletrônicos Sharp, com o nome de Prêmio Sharp de Música Brasileira. A companhia era comandada por Mathias Machline (1933-1994), pai de José Maurício.
Em 1999, o mundo sofreu um abalo econômico e o grupo não conseguiu seguir com o projeto.

Em 2002, um novo patrocinador fez a noite retornar como Prêmio Caras, assumido pela revista Caras. Mas por apenas dois anos. Depois, o nome mudou para Prêmio TIM de Música, honrando o contrato com a operadora telefônica TIM, parceria que durou até 2008. Em 2009, houve uma edição histórica, a versão independente do prêmio, que contou com o apoio da classe artística.

Em 2009, na vigésima edição, ele ganhou o nome de Prêmio da Música Brasileira. Mesmo em 2010, tendo a empresa Vale como patrocinadora, o nome não foi alterado.

Machline informa que não havia ainda um nome definido para ser o homenageado em 2019. Nas edições anteriores, o prêmio foi dedicado a Clara Nunes (em 2009), Maria Bethânia (2015), Ney Matogrosso (2017) e Luiz Melodia (2018). (Estadão Conteúdo)
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