Jornal Estado de Minas

Série irlandesa 'Derry girls' mantém o pique na segunda temporada




– Faremos isso pela paz, OK, Mary? – avisa Erin.

– A paz de pegar aqueles protestantes – emenda Michelle.

– Nossa, como você é hipócrita, Erin – critica Clare

– Não sou, não. Só não vejo problemas em haver relações... – responde Erin

– Sexuais – completa Michelle.

– Comunitárias – reage Erin.

– Esses protestantes manjam o que estão fazendo, sabe? Não são leigos em sexo como nós – afirma Michelle.

A segunda temporada de Derry girls dá o ar da graça (literalmente) na Netflix, embora a divertida série irlandesa fique meio escondida entre as ofertas americanas, espanholas, argentinas, brasileiras, chinesas, coreanas e afins. É uma opção para quem gosta de se aventurar além da zona de conforto das campeãs de audiência.

No início da segunda rodada, o quinteto de adolescentes da pequena Londonderry, na Irlanda do Norte, desce a ladeira rumo ao encontro de fim de semana com os “ex-inimigos” protestantes, armado pelo caretíssimo colégio de freiras. Aquela Irlanda dos anos 1990 – palco do racha político que dividiu protestantes e católicos – experimentava o processo de distensão. O acordo de paz foi selado em 1998, encerrando três décadas de violência.

Mas, para aqueles cinco jovens católicos, o “pacto ecumênico” é outro... E não vale spoiler sobre o convescote “give peace a chance”. Certo é que Derry girls mantém a pegada ao acompanhar a turma e respectivas famílias, enquanto a polícia vigia as ruas e o Exército Republicano Irlandês (IRA) espalha suas bombas.

Na primeira temporada, acompanhamos a explosão de hormônios de Erin (Saoirse-Monica Jackson), Orla (Louisa Harland), Clare (Nicola Coughlan), Michelle (Jamie-Lee O' Donnel) e do bendito fruto James (Dylan Llewellyn) no colégio comandado por uma figuraça, a freira Michael (Siobhan McSweeney).
O coitado do James é o único homem no colégio feminino. Foi o jeito que arranjaram para proteger o inglesinho da ira dos garotos irlandeses. Cabe a ele passar as duas temporadas jurando que não é gay.

O quinteto enfrenta bullying, brigas em família, a tensão nas ruas e, claro, o desafio da iniciação sexual. Todo mundo é meio “fora da caixa”. Escrita por Lisa McGee – que viveu na verdadeira Londonderry e levou o British Screenwriter's Awards, em 2018, com sua série –, Derry girls dispensa clichês bobões sobre adolescentes. E, melhor de tudo, não estica o chicletes. Os episódios das duas temporadas têm, no máximo, 24 minutos.
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