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Estado de Minas

Historiadora garante que corrupção não faz parte do DNA do brasileiro

Lilia Schwarcz diz que desvios de recursos públicos são apenas a 'ponta do iceberg' da crise brasileira. Na quarta-feira (21), ela participará do projeto Sempre um papo, em BH


postado em 20/08/2019 06:00 / atualizado em 20/08/2019 11:06

(foto: Daniel Bianchini)
(foto: Daniel Bianchini)

A única saída é apostar na educação. É a única que tem capacidade de diminuir o gatilho da desigualdade

Lilia Schwarcz, historiadora


Coautora de Brasil: uma biografia (2014) e vencedora do Prêmio Jabuti com As barbas do imperador (1999) e O sol do Brasil (2008), a escritora e historiadora Lilia Schwarcz é especialista nas enfermidades sociais de nosso país. Embora alerte, logo na primeira frase, que “história não é bula de remédio”, seu novo livro, Sobre o autoritarismo brasileiro, traz um diagnóstico sobre os impasses nacionais. Tema da conversa de quarta-feira (21) no projeto Sempre um papo, a publicação desconstrói a imagem de nação gentil, tolerante, cordial e pacífica, evidenciando a realidade violenta, injusta e opressora, latente desde os tempos de colônia.

Fruto de desdobramentos da pesquisa feita para Brasil: uma biografia, escrito com a mineira Heloisa Starling, e de colunas publicadas no jornal eletrônico Nexo desde 2014, o livro mostra que o autoritarismo no Brasil não é produto de um único governo centralizador. “Não cito o nome do Bolsonaro no livro. Nomear seria criar um bode expiatório, como se a culpa recaísse sobre uma única pessoa. Penso que a eleição de 2018 foi mais um sintoma do que acontece. É mais importante entender por que ele foi eleito e não ele em si”, afirma Lilia. Segundo ela, um traço determinante da história brasileira é a abnegação presente há tempos em nossa cultura.

“O Brasil fui o último país a abolir a escravidão, naturalizou isso e a gente fala sobre democracia racial e harmonia. Essa abnegação está muito presente nos dias de hoje. Pesquisas que fizemos na USP mostram que 97% das pessoas dizem não ter preconceitos, enquanto 96% afirmam conhecer alguém que tem. São contradições muito fortes. O termo feminicídio só entrou em nosso vocabulário em 2015. Temos a Parada Gay e, ao mesmo tempo, somos o país que mais mata a população LGBT. E isso também é visto em relação ao autoritarismo”, explica a historiadora, citando ainda o trecho do livro que define “nosso presente assombrado pelo passado”.

Valendo-se de estatísticas, ela observa como a violência, um dos traços marcantes que sustentam o autoritarismo no país, endereça-se a grupos específicos mais vulneráveis – incluindo as mulheres, vítimas de outras desigualdades históricas.

CORRUPÇÃO

 
A autora evidencia as relações de poder controversas, desde a colônia, e a dificuldade de zelar pelo que é público. A corrupção – “não está no DNA do brasileiro, como algumas pessoas costumam dizer”, frisa a historiadora – ocupa espaço considerável da narrativa. “Ela é a parte mais visível, a ponta do iceberg. Ninguém se orgulha de ser corrupto. As pessoas se orgulham de ser harmoniosas, pacíficas. Não fica bem a ideia de ser uma população odiosa, que mata mulheres, mata transexuais. Por isso, passamos muito tempo sob a ideia da cordialidade. A pergunta é: por que os brasileiros, que nunca foram cordiais, não querem mais se representar como cordiais?”.

No capítulo final, dedicado “aos fantasmas do presente”, o autoritarismo brasileiro é discutido como parte de um fenômeno global contemporâneo. Ela ressalta que o fenômeno tem a ver com o surgimento de crises. “Crise quer dizer decisão. Todo momento de crise é um momento de tomada de decisão. Hoje, temos uma crise política, de valores, humanitária, econômica, financeira, cultural e educacional. Todos esses elementos potencializam o termômetro da intolerância”, observa.

2013

 
Nesse contexto, Lilia destaca a ascensão de grupos minoritários e de novos agentes sociais, além do consequente surgimento de “revoluções pela manutenção ou aumento dos direitos”, como teria ocorrido em 2013. Porém, as guinadas em momentos de recessão, historicamente, podem vir acompanhadas do fortalecimento de totalitarismo e intolerância.

Ao comentar os mecanismos para corrigir mazelas históricas brasileiras e caminhar em uma direção socialmente mais justa, Lilia Schwarcz aponta dois caminhos. “A curto prazo, fortalecer as instituições. É hora de Legislativo e Judiciário controlarem o Executivo. Cada poder vigia o outro. Já vimos contradições, o Executivo atuar como Judiciário, e também o Judiciário se agigantar de tal maneira que fica difícil ver o que vai acontecer, mas o projeto seria o fortalecimento. A longo prazo, a única saída é apostar na educação. É a única que tem capacidade de diminuir o gatilho da desigualdade”, defende.
 
  • SOBRE O AUTORITARISMO BRASILEIRO
  • De Lilia Moritz Schwarcz
  • Companhia das Letras
  • 237 páginas
  • R$49,90
  • R$34,90 (e-book)

SEMPRE UM PAPO
Com Lilia Schwarcz. Quarta-feira (21), às 19h30. Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca. Informações: (31) 3261-1501. 


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