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Estado de Minas CINEMA

Francês faz 'Thelma & Louise' do século 21 com protagonistas rebeldes

Com trama em que mulheres buscam se afirmar num meio hostil, 'Mulheres armadas, homens na lata', de Allan Mauduit, em cartaz em BH, consegue ser crítico e divertido, mas também vulgar e grosseiro


postado em 14/08/2019 04:00 / atualizado em 13/08/2019 19:14

Cécile de France, Audrey Lamy e Yolande Moreau são as protagonistas de Mulheres armadas, homens na lata, em cartaz em Belo Horizonte(foto: Imovision/Divulgação)
Cécile de France, Audrey Lamy e Yolande Moreau são as protagonistas de Mulheres armadas, homens na lata, em cartaz em Belo Horizonte (foto: Imovision/Divulgação)
No original, elas são “rebelles” e você não precisa saber francês para entender – rebeldes. No Brasil é que o título ganhou acréscimo sem descolar da trama – Mulheres armadas, homens na lata. Um crítico já definiu o filme como Thelma & Louise para o século 21, acrescentando que a dupla famosa está de volta como trio. Seria acurado se o longa de Ridley Scott não colocasse suas heroínas pré-feministas na estrada, e a comédia dramática de Allan Mauduit não fosse um filme localizado num meio preciso, quase claustrofóbico. Antes de mais nada, Mulheres armadas é um filme de atrizes – Cécile de France, Yolande Moreau, Audrey Lamy. A bela Sandra (Cécile de France) foi miss em Toulouse sur Mer e agora está de volta. Levou pancada do marido, ou amante, e volta para o camping para recomeçar a vida. O assistente social a adverte, quando vai procurar emprego – não é questão de arrumar um emprego adequado para ela, mas sim um emprego, qualquer que seja. Bem-vindos ao mundo das economias liberais.

Ela vai trabalhar numa fábrica de conservas de peixe, e é onde entram os homens, ou o homem, na lata. Sandra conhece a dura realidade do assédio. E logo vai se envolver com um policial que também vai investigar o desaparecimento do chefe dela. O cara que sumiu tinha uma mala de dinheiro do crime. As operárias mal pagas veem no dinheiro uma oportunidade para a grande virada. Mas são mulheres, e têm de enfrentar os homens.

GROSSEIRO 

Como descrição de um meio social opressivo, o filme poderia ser de Ken Loach, e seria outro. Mulheres e regeneração. Allan Mauduit segue outra via. Não teme ser grosseiro nem vulgar. Cécile, belíssima, vira um caco. Audrey Lamy, muito popular na TV francesa, é aquela mãe fracassada a quem o próprio filho diz que sobraria dinheiro em casa se ela não se drogasse tanto. E Yolande Moreau, maravilhosa atriz, faz a mulher que já perdeu toda a esperança, mas segura, mesmo assim, as pontas de uma família disfuncional.
 
Confira o trailer do filme:
 
 
O que fazem essas mulheres? Mulheres armadas, homens na lata é uma fábula sobre o empoderamento feminino, sem heroísmo – nenhuma delas é uma Mulher-Maravilha – mas também é sobre o que pode ser o inverso, ou reverso, dessa moeda. Mulheres poderosas, homens castrados? A castração pode ser real, ou metafórica. Numa fábrica de sardinhas, faz sentido que as mulheres armadas coloquem o homem na lata – mesmo que seja de sardinhas.

Mauduit não embeleza sua fábula. É tudo muito sórdido. Quando Sandra encontra o pai, ele não vale nada, mas os laços de sangue sempre contam – lição que também se encontra em outro filme francês em cartaz, A última Ioucura de Claire Darling, de Julie Bertuccelli, com Catherine Deneuve. Aliás, aproveitando a referência, Mulheres armadas termina bem melhor que Claire Darling, e também que O professor substituto, outro longa francês – de Sébastien Marnier, com Laurent Lafitte – em cartaz. Essas mulheres enfrentam maridos, filhos, pais, até um policial íntegro (mas não tanto) para se afirmar no mundo hostil. Chegam vivas, comemorando, no final, sem enfrentar o suicídio de Thelma & Louise, no desfecho do Ridley Scott, de 1991. Há quase 30 anos, mulheres podiam se afirmar, reproduzindo a trajetória dos homens no mundo masculino, mas ainda terminavam punidas. No terceiro milênio, não tem homem que segure Sandra e suas amigas.

Na França, Mauduit é conhecido principalmente por Kaboul kitchen, minissérie (em 17 capítulos) sobre um restaurante em pleno Afeganistão conflagrado. O dono é um cínico que está ali para ganhar dinheiro e não se importa nem um pouco com o horror além da porta de seu estabelecimento. Quem se importa é sua filha, que tem preocupações, digamos, humanitárias. Tudo a ver com Mulheres armadas, homens na lata. Preste atenção no discurso moral do policial. Há que estar atento contra os que se valem das tábuas da lei para nos enganar. Mauduit acerta o tom e, com suas atrizes, logra um filme crítico e divertido. (Agência Estado)



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