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Dia Mundial do Rock: o gênero não se renova e está ameaçado?

Roqueiros praticantes discutem a tese de que a resistência dos velhos fãs à renovação do gênero e a diminuição do interesse de novos músicos pelas guitarras ameaçam a sobrevivência do estilo


postado em 13/07/2019 04:09 / atualizado em 13/07/2019 08:12


Em 13 de julho de 1985, o estádio de Wembley, em Londres, recebeu o megafestival Live Aid. Com o objetivo de arrecadar fundos para o combate à fome na África, subiram ao palco Queen, Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood, Elton John, Paul McCartney, David Bowie, U2, entre outros grandes ícones. Tal reunião de lendas fez a data se tornar, anos mais tarde, o Dia Mundial do Rock. Muito se discute sobre a legitimidade e a relevância da ideia, mas é fato que, basta chegar o dia, pipocam festivais ancorados no tema.

A presença majoritária de bandas cover ou referências de gerações passadas na programação do Dia do Rock em Belo Horizonte neste 2019 oferece a oportunidade de discutir se esse gênero musical tem se renovado ou não. O espaço Bud Basement sedia um festival dedicado à data, que começou na véspera (sexta, 12). Neste sábado (13), se apresentam Singles (Pearl Jam), Metallica Cover Brazil, Lurex (Queen Tribute) e Velotrol (clássicos do rock). Seu Madruga (AC/DC) e Poison Gas (clássicos do rock mesclado com autoral) foram os escalados para a agenda da abertura do festival. As únicas bandas de repertório inteiramente próprio presentes na programação são Tianastácia, que toca hoje, e o Raimundos, atração de ontem. Ambas com mais de 20 anos de estrada.

A banda Hocus Pocus, um dos principais covers de Beatles da capital, toca hoje no Boulevard Shopping. E bandas dedicadas à obra de outros artistas também são maioria na noite do Mister Rock. Seria essa a evidência da falta de reciclagem ou do interesse de jovens músicos pelo estilo, historicamente tão representativo para a juventude?

Para o baixista Canisso, do Raimundos, a “renovação continua acontecendo, nas garagens. A diferença é que o rock não entra mais no mainstream, como já entrou”. Membro fundador do grupo criado há 25 anos, ele vê algumas razões claras para isso. “Numa banda, são quatro pessoas donas do processo criativo. Compõem, tocam, vinculam a própria imagem ao som. Em outros estilos, o artista às vezes é só um intérprete. O compositor é outro; o músico é contratado. É mais fácil para um empresário controlar”, afirma. Canisso observa que “historicamente, o rock ficou associado a problemas, excessos, atrasos, TV jogada da janela do hotel. Então se tornou mais interessante para os empresários investir em outros estilos, como podemos notar em grandes festivais e na programação da TV, onde hoje o rock tem presença bem menor do que já teve”. No entanto, ele aposta que o rock como um “fenômeno social, sempre existirá, pois não é uma moda”.

Alexandre da Mata, guitarrista e vocalista do Seu Madruga, banda de BH cover do AC/DC afirma que “o rock nunca morrerá, mas, mundialmente, virou uma música de nicho”. Ele argumenta que “mesmo nos EUA ultimamente perdeu para o hip-hop e a música eletrônica. Na realidade, ele não está na grande mídia há muito tempo”. Por outro lado, Da Mata pensa que a renovação não tem de vir somente dos artistas consagrados. “Há muitas bandas de rock boas surgindo por aí, mas é preciso que sejam mais divulgadas”.

“MÚSICA DE VELHO” O festival no Bud Basement é um reforço à tese do líder do Seu Madruga. A Poison Gas é formada por quatro adolescentes, nascidos entre 2003 e 2004. No ano passado, eles lançaram Outro jovem sem noção, seu primeiro disco de músicas próprias, com 10 faixas. “Temos influências de Queen, AC/DC, Legião Urbana. Nosso rock tem um estilo próprio e damos uma modernidade às nossas interpretações e arranjos. Fazemos rock, porém com uma nova linguagem, uma nova leitura, para tentar agradar à nossa geração e para que ela entenda e goste no nosso trabalho. Nas letras, falamos dos nossos problemas e desafetos que a nossa geração enfrenta. Assim, não fica parecendo 'música de velho', como algumas pessoas costumam definir”, afirma David Leão, de 15 anos, guitarrista e vocalista.

Ele cita a banda norte-americana Greta Van Fleet, formada em 2012, como exemplo de o rock mundial dá provas de sua renovação. Com uma proposta classificada como hard rock, com clara influência do Led Zeppelin, o Greta Van Fleet atingiu algumas vezes o topo de paradas de sucesso, mas também já foi alvo de críticas. O músico e produtor inglês Steven Wilson, por exemplo, classificou-os como “uma versão boy band” da banda de Robert Plant.

Para quem lida com futuros músicos, a procura de jovens que querem aprender a tocar rock também é reveladora. Márcio Durães, professor e proprietário da Escola de Música Popular, diz que a demanda pelo aprendizado de instrumentos ainda é boa, mas “apenas 15% ou 20% o fazem pensando no rock”. Segundo ele, outras possibilidades musicais têm sido mais atraentes. “O adolescente gosta de ter um ídolo. No rock, tem pouca coisa sendo divulgada em ampla esfera. Na Billboard, no Spotify, você vê as paradas e é pouco rock”, aponta o profissional, que é fã do estilo.

Inácio Cavallieri, dono da escola de música que leva seu sobrenome, tem outra perspectiva sobre o tema. “Hoje, temos cerca de 300 alunos, e a maioria se matriculou para aprender a tocar o velho e bom rock and roll, ainda que muitos digam que seja 'música de velho', o que não procede”, afirma. Segundo ele, um elemento que falta às novas bandas é um público mais interessado. “Embora possa não parecer, o rock ainda é muito forte. O que ocorre é que as pessoas que gostam de ouvi-lo são mais conservadoras, não gostam muito de variações e o rock se ampliou, se diversificou. É preciso que elas entendam isso.”

Formada em Minas, a banda Lagum tem baixo, guitarra e bateria em sua estrutura. No entanto, o estilo de pop rock mais leve agrega outras referências musicais. Desde o ano passado, o grupo vem ganhando projeção nacional, figurando entre os mais ouvidas do país no Spotify e caindo no gosto até do jogador Neymar, que postou Deixa em seu Instagram no ano passado.

SONHO “Quando eu era criança, um dos primeiros CDs que ganhei foi do Skank, o Ao Vivo em Ouro Preto. Depois, conheci o Red Hot Chilli Peppers, que se tornou minha principal influência, junto com o Linkin Park. Na adolescência, ouvia Pink Floyd e Led Zeppelin, mas, depois que entrei para a faculdade de música, em 2013, veio uma carga muito grande de música brasileira, desde Tom Jobim, Vinicius e também do Clube da Esquina, que se tornaram minhas principais referências”, afirma o guitarrista Jorge Borges, que formou o Lagum em 2014, ao lado do amigo Pedro Calais. “Desde o nosso primeiro show, vimos que havia a possibilidade de viver o sonho de ter uma banda e viver disso com um som autoral no qual acreditássemos. Então sempre trabalhamos com muito profissionalismo em todos os aspectos para realizar esse sonho”, diz ele.

Com bem menos badalação, outros grupos se formaram em BH nos últimos anos, dispostos a tocar aquilo com que se identificam. Algumas dessas bandas estarão no festival Garage Sounds, no domingo (14), como o Evil Matchers, fundado em 2013. “Nossa ideia era fazer rock 'n' roll com influências e estética dos sons que a gente curte, na linha do punk 77, glam, garage e hard rock, e se divertir muito com isso”, afirma o guitarrista Luiz Bueno.

Embora lamente a falta de uma divulgação mais ampla do rock autoral de BH e reconheça que o estilo “perdeu muita força nos últimos anos para se comunicar com a juventude”, em comparação com o rap e o hip-hop, ele entende que a renovação é um processo natural. “Dou graças a Deus que o ‘velho rock’ saudosista esteja morrendo! Como todo estilo musical, está se transformando e evoluindo. Desde os anos 1950 ele é recriado. O rock nunca parou no tempo. Não espere que vá surgir um novo Sabbath ou Led Zeppelin, mas temos bandas incríveis que usam dessas influências para criar coisas novas e evoluir”, diz Bueno.

No Garage Sounds, o Evil Matchers terá a companhia de outros grupos locais, como Montese, Carahter, Postura e Elizia, além de destaques da cena nacional, como a banda paulista de hardcore Hateen e a gaúcha de heavy metal Krisiun.

HOJE É DIA DE ROCK, BEBÊ!

Agenda de BH neste sábado tem shows isolados e festivais

>> Dia Mundial do Rock
Shows com Singles (Pearl Jam), Metallica Cover Brazil, Tianastácia, Lurex (Queen Tribute) e Velotrol (clássicos do rock). Sábado (13), a partir das 17h, no Bud Basement (Rua Itambé, 200, Floresta). Ingressos: R$ 40, à venda no site Sympla.

>> Dia Mundial do Rock Parte II
Shows com Kamikaze, Rockstation (clássicos do rock), Barba Negra (Dio Tributo), The Homer (Pearl Jam) e Rock and Roll Trem (AC/DC). Sábado (13), às 20h, no Mister Rock (Av. Teresa Cristina, 295, Prado). Ingressos gratuitos, com retirada no site Sympla, até as 22h de sábado.

>> Dia do Rock no Boulevard Shopping
Show com a banda Hocus Pocus (Beatles). Sábado (13), às 18h, no piso 2 do Boulevard Shopping (Av. dos Andradas, 3.000, Santa Efigênia). Entrada gratuita.

>> Garage Sounds
Shows com Gloria (SP), Zander (RJ), Krisiun (RS), Esteban (RS), Hateen (SP), Surra (SP), Molho Negro (PA), Ravel (SP) e as mineiras Montese, Carahter, Postura, Elizia, Evil Matchers, Valv, Distúbio Sub-Humano, Last Warning, Kill Movies, Raising Conviction, Riviera e Sacrificed. Domingo (14), às 14h, no Campus do Uni BH (Av. Professor Mário Werneck, 1.685, Buritis). Ingressos: R$ 60 (meia e meia social, adquirida mediante doação de livro) e R$ 120, à venda no site Sympla.
 

“Dou graças a Deus que o ‘velho rock’ saudosista esteja morrendo! Como todo estilo musical, está se transformando e evoluindo”
Luiz Bueno,
guitarrista do Evil Matchers

“Na adolescência, ouvia Pink Floyd e Led Zeppelin, mas, depois que entrei para a faculdade de música, em 2013, veio uma carga muito grande de música brasileira, desde Tom Jobim, Vinicius e também do Clube da Esquina, que se tornaram minhas principais referências”
Jorge Borges,
guitarrista do Lagum

“Historicamente, o rock ficou associado a problemas, excessos, atrasos, TV jogada da janela do hotel. Então se tornou mais interessante para os empresários investir em outros estilos, como podemos notar em grandes festivais e na programação da TV, onde hoje o rock tem presença bem menor do que já teve”
Canisso,
baixista do Raimundos

“O adolescente gosta de ter um ídolo. No rock, tem pouca coisa sendo divulgada em ampla esfera. Na Billboard, no Spotify, você vê as paradas e é pouco rock”
Márcio Durães,
proprietário da Escola de Música Popular


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