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Luz sobre os sons


postado em 16/06/2019 04:12

Nós, psicanalistas, defendemos diariamente a fidelidade à presença do inconsciente em cada um de nós, e sabemos muito bem que há no inconsciente sentidos que esperam para vir à luz. Até então desconhecidos e subjacentes às palavras, são a chave daquilo que precisamos saber.

São verdades veladas até para nós mesmos, que tantas vezes nos surpreendem quando encontradas no decorrer de relatos, em sonhos, nos acontecimentos da vida. Tantas vezes nos deparamos com a estranheza do novo que surge através da sonoridade das palavras,  nos indicando caminhos diferentes dos percorridos ou repetidos.

Esses encontros ou reencontros nos anunciam a possibilidade de libertar conteúdos esquecidos, marcas e ranhuras em nossa alma, cunhadas pelos que passaram por nós do nascimento à humanização e independência. Hoje, somos sujeitos de nossa vida sem saber que o que vivemos, como sentimos, interpretamos a vida e tudo o que ocorre são como os efeitos desse vivido.

Este ido nos estruturou a partir relações com aqueles que nos acompanharam, e que também trazem suas marcas, dificuldades e afetos para nos forjar humanos. Somos soma de tudo que vivemos, seja real ou fantasiado.

Até mesmo os loucos são resultado dessas marcas e também da ausência de referências para orientar a experiência de entrada na cultura, restando para eles a experiência de um corpo sem os limites e contornos organizados. Isso porque permaneceram fundidos para sempre com um outro absoluto, que não permitiu a diferenciação, que manteve a cria pedaço de si sem apontar para um terceiro, para todo um mundo ao redor.

Assisti, recentemente, a um filme indicado por alunos para que discutíssemos o tema da doença mental em sala de aula. Menos que nada (2012), dirigido por Carlos Gerbase, narra o drama profundo de um rapaz introvertido que se apaixona por uma arqueóloga. Ele descobre ossadas pré-históricas num sítio privado a pedido da proprietária. Ele se envolve com a arqueóloga, que, a partir dos ossos, cria uma ficção sobre por que eles foram encontrados naquela disposição. Depois de sofrer grande decepção com a moça, surta.

Anos mais tarde, encontrado por uma estudiosa psiquiatra numa casa para alienados mentais, revelou-se que seu delírio era a repetição da interpretação dada à cena pré-histórica. Mesmo sem a elucidação completa do caso e tampouco resultados romanescos para os quais esperamos um final feliz – nas doenças mentais nem sempre há finais felizes –, entendemos que até nos mais alienados encontramos uma lógica inconsciente estratificada e atuada cotidianamente, porém não entendida racionalmente.

E não só nas alienações maiores, como a esquizofrenia e a paranoia, as coisas são assim. Nas neuroses também existe um formato fixo na fantasia inconsciente que nos faz repetir o vivido. Reagimos com os patrões, homens como se fossem nossos pais, desejamos as mulheres como foram nossas mães, ou seus opostos. Esperamos do mundo as mesmas considerações que tivemos em casa crendo ser nosso direito.

Cultivamos nossa fixão (não escrevi errado, é com ‘x’ mesmo). Trata-se de uma fixação criada por nós para interpretarmos o que vivemos, seja para nos encaixar no desejo do outro, para consertar as frustrações da realidade ou para nos sonharmos sem faltas.

Tal fixão, mesmo inconsciente, nos serve de parâmetro para interpretar o mundo nos lançando em desvios nos quais entendemos situações e pessoas não como elas são de fato, mas conforme nossas vivências antigas, marcas deixadas em nós. Assim, andamos em círculos, sempre repetindo essas marcas que chamamos traumas.

Nós, psicanalistas, trabalhamos atentos a essas marcas da história pregressa e a suas influências subjetivas, conseguindo, quando nos é possível, pois depende de nossa escuta e da persistência dos pacientes, ir mais além da cura do mal-estar. Ir além para compreender sua fixão e de fato fazer uma passagem para suas escolhas, agora diante de um desejo pelo menos em parte elucidado. O inconsciente nunca é todo elucidado. Mas, de fato, nem todos querem saber..

>> Convite aos leitores – Terei a honra de proferir a palestra “Júlio Verne me salvou”, em 19 de junho, às 19h30, na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes), com entrada franca.


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