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Novos costumes


postado em 12/06/2019 04:19

Durante muito tempo da minha adolescência aproveitei de um papel importante na época: era “pau de cabeleira” das primas e irmãs mais velhas que saíam com namorados. Naquela época, mesmo que o carinho admissível fosse mãos dadas ou um beijinho rápido na face, namorados não saíam desacompanhados, a família não permitia, as línguas ferinas não poupavam. E esse papel me levava a matinês (quase sempre das 14h e quase sempre no Metrópole, que era o cinema chique da época) e, algumas vezes, até as “missas dançantes” do Minas Tênis, que ocorriam nas manhãs de domingo. As adolescentes adoravam esse papel que os namorados detestavam ter que aguentar, mas se era para o bem de todos e o bom nome das famílias, era preciso suportar. Os mais afoitos conseguiam engambelar seus “paus de cabeleira” a preço de sorvetes, picolés, docinhos variados. No fim, tudo se ajeitava no retorno ao sagrado lar da tradicional família mineira.

Nos meus tempos, dos poucos e raros namorados que tive, passei longe de acompanhantes que já não usavam mais. Os namoros se desenrolavam no meio do dia, nas saídas da escola, com o namoradinho esperando no passeio para dar uma caminhada pela Avenida Afonso Pena até o ponto do bonde ou no vaivém noturno aos domingos, na Praça da Liberdade. Onde um lado era destinado à moçada fina e o outro às domésticas e seus namorados – a discriminação era mais do que evidente. Havia também os namoros que começavam na porta da casa, nos passeios e, posteriormente, quando duravam mais, podiam passar para a varanda. As janelas da casa ficavam abertas, as luzes acesas e a família de olho em qualquer avanço. Longe vão aqueles tempos em que os romances juvenis raramente terminavam com dramas sexuais ou desavenças familiares, uma vez que, naquela época, a cidade era pequena e todos se conheciam.

A violência da civilização, a moradia em apartamentos, a dificuldade de circular em paz e segurança mudaram todos os modos e costumes de antigamente. E hoje, em lugar de manter “paus de cabeleira” tomando conta dos namorados, os pais preferem vê-los dentro de casa, debaixo de seus olhos, em segurança. Houve época em que namorar dentro do carro era moda, mas também essa facilidade passou. E os pais seguraram o coração, guardaram suas tradições, aceitaram as novidades e, em lugar da violência física contra os filhos namoradores, preferiam tê-los em segurança. O primeiro espanto que levei, anos atrás, foi quando um pai me contou que quando a filha fez 15 anos deu a ela de presente uma caixa de pílulas anticoncepcionais. Meu queixo caiu, porque as figuras pertenciam à mais tradicional família mineira. Assunta daqui, assunta dali, descobri que essa novidade não era tão rara assim: “Prefiro dar a ela as pilulas do que ter filha grávida sem casa”. Pronto, estava aberta pelos novos tempos uma nova mania de namorar.

E as pílulas levaram a um novo comportamento, que é aceito por muitos pais conhecidos, que preferem a segurança da família à violência das cidades. Com isso, o quarto da filha – ou do filho – transformou-se em quarto de encontro dos namorados. Dormem juntos, sem o menor problema, para descanso dos pais, mas ninguém avalia o que sofrem os corações paternos tradicionais. Esse comportamento tornou-se tão comum que não são só os namorados que dormem na casa das namoradas. Algumas delas dormem na casa dos namorados, com a maior desenvoltura. E café da manhã tomado com a família, na maior cordialidade e amor. Essa mudança de valores faz parte do mundo atual, onde pior do que ter filhos dormindo com namorados em seus quartos é tê-los assaltados ou feridos em lugares públicos. Os pais modernos aceitam, os mais antigos se entregam aos novos tempos – e o Dia dos Namorados tem nova leitura. Que só não deixa de lado o carinho e até o possível amor.


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