Sou a feliz proprietária do livro Os banquetes do imperador, de autoria de Francisco Lellis e André Boccato, que faz parte da exposição histórica Menus da Belle Époque – a coleção de menus de D. Pedro II e a Belle Époque de Paris (coleção particular de André Boccato), que desde ontem está sendo apresentada em Tiradentes e que virá também para a capital. A mostra pode ser visitada na Galeria do Sobrado Ramalho, na cidade histórica, e é composta de cardápios de restaurantes e jantares do século 19, reproduzidos em painéis fotográficos, colecionados por D. Pedro II e, posteriormente, por André Boccato. Em 11 de julho, a exposição será inaugurada em BH, na sede do Iphan. Os cardápios impressionam não só por sua riqueza de detalhes e beleza gráfica, mas por serem um retrato da sociedade de uma época. São verdadeiros documentos que revelam costumes, gostos e padrões estéticos, entre outros aspectos, além das origens da gastronomia brasileira.
A mostra é baseada na pesquisa que André Boccato realizou por nove anos, o que resultou em sua própria coleção de menus parisienses da Belle Époque, e no livro Os banquetes do imperador, uma alusão a D. Pedro II, também um grande colecionador de cardápios.
Os menus no Brasil são documentos que extrapolam a curiosidade estética e tronam-se testemunhos históricos do nascimento da cultura gastronômica brasileira. São cardápios que incluem banquetes de estado, inaugurações de estradas de ferro e eventos sociais no Rio de Janeiro, em São Paulo e em outros estados. Um exemplo é o Menu Abolicionista, no qual ocorre a primeira citação que se tem notícia do “churrasco do Rio Grande” e do famoso “banquete da Ilha Fiscal”.
Nos menus brasileiros, nota-se uma autêntica luta por reproduzir o que já era sucesso na Europa, ainda que existissem tentativas de valorização de ingredientes locais. Nesta época, foi editado O cozinheiro nacional, um livro que propagandeava, nos jornais cariocas, uma cozinha finalmente liberta das influências europeias.
Fotógrafo, jornalista, chefe de cozinha experimental e editor de livros de gastronomia, André Boccato iniciou sua carreira em jornais alternativos da década de 1970, até abrir sua primeira editora em 1980, especializada em poesia e arte. Ainda na década de 1980, foi diretor do MIS – Museu da Imagem e do Som de SP, e diretor das Oficinas Culturais Oswald de Andrade. Nos anos 1990, foi professor de fotojornalismo na PUC- SP e, na ECA-USP, de editoração. Recentemente, lecionou antropologia da alimentação na Universidade Estácio de Sá, em São Paulo. Representou o Brasil em grandes eventos internacionais, como Ano do Brasil na França, e Brazilian Taste Festival, durante a Copa do Mundo na Alemanha.
A convite da Câmara Brasileira do Livro (CBL), para a Bienal do Livro de São Paulo, como curador de gastronomia, criou o evento Cozinhando com palavras, também apresentado na Feira do Livro de Frankfurt (outubro de 2013) e no Salão do Livro de Paris (março de 2015). É também colecionador de menus franceses do período da Belle Époque, tendo feito exposições e publicações sobre o tema. É diretor da Editora Boccato, com mais de uma centena de publicações, várias delas premiadas no Brasil e no exterior, dentre as quais Os banquetes do imperador – Prêmio Jabuti 2014 (melhor livro de história e gastronomia) e Cookbook Gourmand Awards 2014.