Cozinha é amor à arte de servir poesia
Amanda Monteiro tem uma doce definição para sua paixão por bolos: “Eles sempre foram sinônimo de afeto, acolhida, carinho. Fazer, oferecer e compartilhar um bolo é doação, generosidade. Isso é o que importa pra mim”. Com o apoio dos amigos e da família, que sempre elogiaram os cuidados e caprichos de Amanda, há três anos ela transformou em profissão o que já fazia por hobby.
As primeiras vendas foram para amigos, que imediatamente compartilharam com outros amigos. Em pouco tempo, os bolos de Amanda ganharam as redes sociais (@contembolo), onde ela navega com a mesma atenção dedicada a seus produtos. “Instagram é a única ferramenta em que divulgo meu trabalho e os detalhes de cardápio, pedidos... Por isso, tenho muito cuidado com as fotos e com o verbo que uso em meus textos. A pessoa tem que ser impactada, provocada a ler os posts em meio a tanta informação no seu feed”, diz.
O capricho de Amanda não se restringe ao bolo, montado em um prato de papel, acompanhado sempre por uma frase e um arranjo de flores desidratadas.
Amanda não se lembra de quando fez o primeiro bolo. “Mas recordo muito bem de tentar, muitas e muitas vezes, repetir a receita do bolo de cenoura da minha mãe, Maria Pia. E nunca acertar!”
COM A PALAVRA
Amanda Monteiro, confeiteira
Cozinha é arte, amor ou poesia?
Cozinha é o amor à arte de servir poesia. Não dá para separar essas quatro palavras. É o lugar e o exercício de expressar e compartilhar nossas emoções através do alimento.
Vivemos momentos turbulentos.
Quero afagar os corações. Provocar um momento de trégua, de amor, uma prova de que a vida pode ser doce e simples. A poesia está em conseguirmos enxergar beleza nas miudezas da vida e no outro. Se você plantar e regar essa sementinha em si mesmo, florescerá. Então, tudo ao seu redor transformará.
Como é o seu processo criativo?
Ele está mais ligado ao que imagino ser o momento em que aquele bolo será compartilhado: casa de vó, aniversário, café da tarde, sobremesa do jantar, café da manhã a dois, maternidade, visita carinhosa... Quando recebo o pedido do cliente, procuro saber a ocasião, a história por trás daquele pedido. Ela vai me nortear para que possa colocar intenção no bolo. Quero que esse sabor seja de uma doce lembrança.
Você também cuida de toda a apresentação. Como surgiu a ideia do prato com frases poéticas e arranjos florais?
Colocar poesia no prato foi um insight. Estava fazendo um bolo para o coffee break de uma floricultura. Era um workshop de arranjos florais. Encantada com aquele convite, quis pôr a frase do poeta persa Rumi, que amo demais: “O amor é um jardim”. Assim surgiu o Prato Poesia. As flores vieram compor a decoração com ainda mais poesia.
A cozinha é local de boas histórias. Quais são as suas melhores lembranças?
Ah, elas vêm da cozinha da fazenda dos meus avós, Ceção e Paulo, em Itaúna. Biscoitos guardados em lata, leite na caneca direto do curral, doce de leite em cima do armário, meu avô almoçando às 11h.
Qual é a sua relação com a poesia? Fale de seus poetas favoritos
A poesia é muito nova pra mim. Essa relação se intensificou quando descobri que a Contém Bolo não era sobre bolos, mas sobre seu significado. Hoje, exercito meu olhar para enxergar poesia no cotidiano e sempre fazer dela uma inspiração para meu trabalho. Leio Pablo Neruda, Clarice Lispector, Manoel de Barros, Mia Couto, Alice Ruiz, Rumi, Valter Hugo Mãe...