Nós (2016) e Outros (2018), espetáculos mais recentes do Grupo Galpão, são fruto da parceria iniciada em 2014 com o diretor carioca Márcio Abreu, referência das artes cênicas no país e fundador da Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba. Apesar de uma não ser sequência, mas “consequência “ da outra, como frisam os integrantes da trupe mineira, não há como negar que há diálogo entre as peças. Se na primeira montagem o grupo olhava para si próprio, propondo uma leitura sobre as relações interpessoais, partilhando angústias e esperanças, na segunda o olhar se alonga e o Galpão foca na escuta, na busca pelo outro e aprofunda a reflexão sobre o hoje e o lugar do artista e da arte nos tempos atuais. “São peças irmãs, são vinculadas. Outros traz um desdobramento das inquietações e questionamentos iniciados no processo de criação do Nós. As duas dramaturgias têm um diálogo muito forte com a performance, mas de maneiras diferentes”, analisa Márcio.
Pela primeira vez o público poderá conferir as produções numa mesma temporada, de hoje (30 de maio) a 9 de junho, no Teatro Francisco Nunes. Às sextas-feiras (31/05 e 07/06), as sessões terão interpretação em libras. “Apesar de formarem um díptico, elas são independentes.
A atriz Inês Peixoto defende que houve amadurecimento de um trabalho para o outro e diz que há até um aprofundamento da relação entre o diretor e os atores. “É como se fosse um namoro. É muito interessante, porque essa temporada vai mostrar justamente como foi esse casamento, que une a linguagem do Galpão com o Márcio”, pontua. Mesmo não tendo feito parte do elenco de Nós, Inês ressalta o processo de criação do diretor e como o Grupo se sentiu extremamente instigado em experimentar facetas. “Foram duas pesquisas que falavam entre si, mas, ao mesmo tempo, resultaram em espetáculos bem distintos.
ADAPTAÇÃO Ela acabou abrindo mão de Nós porque teve de se dedicar a outros projetos. Um deles o público vai conhecer a partir da terça-feira (4), a adaptação em quadrinhos de um dos espetáculos mais impactantes do Galpão, Os gigantes da montanha (2013), fábula que narra a chegada de uma companhia teatral decadente a uma vila mágica, povoada por fantasmas e governada pelo Mago Cotrone. Escrita pelo dramaturgo e poeta italiano Luigi Pirandello (1867-1936), a peça é uma alegoria sobre o valor do teatro e, por extensão, da poesia, da arte e sua capacidade de comunicação com o mundo moderno, cada vez mais pragmático e voltado aos afazeres materiais. A produção celebrou o retorno da parceria com o diretor Gabriel Villela, que assina também a direção de obras marcantes do grupo, como Romeu e Julieta (1992) e A rua da amargura (1994).
O que era presente virou quadrinhos
Durante apresentação da montagem na Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo, em 2015, o artista plástico multimídia Carlos Avelino – grande admirador do Galpão – se encantou tanto com o que viu que decidiu dar um presente especial ao elenco. “Quando eles surgiram no palco, eu já associei a personagens de quadrinhos, de animação, por causa da riqueza do figurino, daqueles bordados cheios de detalhes, bem barrocos e ao estilo do Gabriel Villela. E ainda o cenário e a iluminação. Era um prato cheio para qualquer desenhista”, ressalta. No dia seguinte, Avelino chegou em casa, buscou várias imagens da peça e desenhou cada um dos 12 personagens com o nome dos respectivos atores.
Inês Peixoto ficou tão apaixonada pelos desenhos, que já vislumbrou utilizá-los de alguma forma. “Avelino conseguiu colocar nas ilustrações toda a estética do Gabriel, deu uma personalidade a cada um dos personagens e captou até o nosso processo de criação. Ficou maravilhoso. Quando me reuni com o resto do Grupo, a gente decidiu que tinha que fazer alguma coisa. Foi aí que nasceu a ideia de produzir uma publicação”, conta. O próprio Carlos Avelino, especialista em cinema de animação, se viu diante de um desafio, já que nunca tinha feito nada em quadrinhos. “Foi uma experiência nova pra todo mundo. Criei desenhos digitais, mas aproveitei meu trabalho como aquarelista também. É minucioso, bem artesanal e tive liberdade total”, celebra.
Foi a própria Inês – na produção, a condessa Ilse – quem adaptou a peça para a versão em HQ, condensando os diálogos, ao criar fusão entre as descrições e os personagens de Pirandello. “Foram quase quatro anos de muita troca. Eu fazia o roteiro e ia mandando pra ele. Acho que o mais bacana desse projeto é possibilitar novas maneiras de abordar o teatro, porque certamente vai ampliar o público através dessa linguagem dos quadrinhos”, acredita.
Lançamento de Os gigantes da montanha, com noite de autógrafos e abertura da exposição Os gigantes da montanha – Grupo Galpão em: Do teatro aos quadrinhos. Casa Fiat de Cultura. Praça da Liberdade, 10, Funcionários, (31) 3289-8900. Terça (4/6), às 19h. A mostra ficará em cartaz até 14 de julho.
O espaço funciona de terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábado, domingo e feriados, das 10h às 18h.
Enquanto isso...
...Exposição revela bastidores
Mas o projeto não para por aí. O processo de criação da HQ e o da peça estarão na exposição Os gigantes da montanha – Grupo Galpão em: Do teatro aos quadrinhos, de terça (4) a 14 de julho, na Casa Fiat de Cultura.
Mostra especial Márcio Abreu
NÓS
Quinta (30) e sexta (31), às 20h. Sábado (1º/6), às 17h e 20h. Domingo (2/6), às 19h.
OUTROS
De 5 a 9 de junho. De quarta a sábado, às 20h. Domingo, às 19h.
Teatro Francisco Nunes (Avenida Afonso Pena, 1.377, Parque Municipal). Às sextas-feiras haverá sessão com interpretação em libras. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Vendas antecipadas pela internet no www.sympla.com.br/grupogalpao. No dia da apresentação, na bilheteria do teatro, uma hora antes do espetáculo, somente em dinheiro. Informações: (31) 3277.6325/ www.grupogalpao.com.br
GIGANTES DA MONTANHA
Editora Nemo
104 páginas
R$ 49,80
>> O livro será vendido no Café da Casa Fiat de Cultura durante a exposição, além de estar em plataformas digitais, site do Grupo Autêntica e livrarias.