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Museu Mineiro recebe exposição sobre inventário de rios do Serro

Espaço abriga também intervenção 'Estadia', com a qual coletivo de professores da Escola de Belas Artes promove diálogo de obras com as mostras de longa duração


postado em 15/05/2019 05:11

Até as pedras secaram, instalação em barro e madeira, faz parte da exposição InventaRios(foto: Collectif EthnoGraphic/DIVULGAÇÃO)
Até as pedras secaram, instalação em barro e madeira, faz parte da exposição InventaRios (foto: Collectif EthnoGraphic/DIVULGAÇÃO)

 

Estão em cartaz no Museu Mineiro as exposições InventaRios e Estadia. A primeira integra o projeto Fazer Viver, realizado pelo Collectif EthnoGraphic, de Émilie Renault, Ghislain Botto e Letícia Panisset, no município mineiro do Serro, localizado na região Central da Serra do Espinhaço.

“Trata-se da construção dos sentidos da existência de um rio”, explica Letícia. Estadia é uma derivação da ideia de residência. “O propósito é estabelecer intervenções entre o nosso trabalho e o acervo exibido nas exposições de longa duração”, diz Rodrigo Borges Coelho, um dos integrantes do Grupo Grassar: Ações Continuadas em Arte, responsável pela realização de Estadia.

O grupo, explica Borges, é formado por artistas, professores e pesquisadores da escola de Belas Artes da UFMG, onde ele leciona. “Além de mim, participam Andrea Lanna, Dayse Turrer, Elisa Campos, Fernanda Goulart, Liliza Mendes, Patrícia Franca-Huchet e Roberto Bethônico, todos reunidos com o objetivo de promover práticas artísticas a partir das experiências compartilhadas em pesquisas, exposições, colóquios, publicações e edições”, diz.

Rodrigo Borges conta que o Grassar vem investindo na noção de estadia desde o aparecimento do grupo, em 2015. “Grassar deriva do latim grassare, que significa desenvolver-se, alastrar-se, propagar-se progressivamente. Um dos usos do verbo no Brasil é andar, trilhar”, observa. Em 2018, o grupo realizou a intervenção Estadia no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. “Na época, tivemos a oportunidade de colocar em convívio realidades de ordens diversas, a partir da potência sutil dos pontos de contato entre as práticas artísticas do grupo e o próprio Museu.”

O artista e professor afirma que, “ao operar com a noção de estadia e suas interferências no que é passageiro, no que está em movimento, damos ênfase ao desejo de trabalhar a partir de uma premissa de alargamento espaço-temporal, real e simbólica, ou seja, tocar camadas da memória, da história e da arquitetura”.

“Agora, no Museu Mineiro, buscamos construir um novo exercício de presença e contato, reforçando nossos encontros com acervos museológicos. Por familiaridade ou oposição, o estabelecimento de contatos será sempre a marca da diferença no instante do toque, no encontro de corpos, físicos e simbólicos”, ressalta Rodrigo.

INVENTARIOS Letícia Panisset conta que o projeto InventaRios teve início em 2017, com “o propósito de significar o rio a partir dos relatos e das nossas vivências”. Segundo Letícia, “InventaRios trata de inventariar a bacia do Capivari e reescrever o mapa com os moradores. A mostra reúne instalação, desenho, cerâmica e barro, paisagem sonora e uma publicação com relatos dos moradores, desenho dos cursos d’água e fotografias”. Há ainda uma mesa de edição, “na qual as pessoas podem montar o seu próprio livro; é um trabalho interativo”, diz Letícia.

Quando os integrantes do Collectif EthnoGraphic começaram a visitar o Serro, perceberam, nos relatos dos moradores, a preocupação com a disponibilidade da água. “Em nossa última viagem, pedimos que nomeassem os córregos anônimos no mapa da região. Disso resultou uma rica discussão que derivou nesse projeto”, diz ela. Em 2018, Letícia Panisset e o fotógrafo Paulo Baptista passaram cinco dias seguindo o curso do Rio Capivari, acompanhados por vários moradores locais. “Seguir o curso do rio acompanhada por eles me fez entender de forma muito profunda como um rio faz parte da vida”, conta.

Ela diz que os relatos das pessoas sobre sua vivência com a água expressam uma linguagem íntima do lugar e da água. “É desse tipo de sentido do local e da natureza do rio que nossas imagens na exposição InventaRios querem falar.” Para a autora do projeto, “ao inventariar os cursos d’água anônimos no mapa oficial e construir esse outro olhar sobre a água, InventaRios cria uma paisagem sensível, que pode alimentar a utopia de outras maneiras de viver hoje. E desse lugar, contesta a destruição selvagem e prevalente de recursos naturais e vidas hoje”.

Para esse trabalho, o trio que compõe o EthnoGraphic foi acrescido do fotógrafo e pesquisador Paulo Bapista, “que também é professor de fotografia e cinema da Escola de Belas Artes da UFMG e um profundo conhecedor da região”, diz Letícia, e de Pedro Panisset, que fez uma instalação sonora. Os demais integrantes do coletivo são franceses – a designer gráfica Émile Renault e o fotógrafo Ghislain Botto.

ETNOGRAFIA IventaRios mescla as abordagens etnográfica e artística. “Tenho formação em etnografia e em cerâmica, que aprendi quando morei na Suíça. Sou apaixonada pelo pessoal do Serro, onde tenho uma casa. Conheço bastante a região e o modo de vida que levam por lá. Essa foi uma das razões para que eu fizesse um trabalho a respeito”, conta Letícia.

“O pessoal da região falou muito da relação com a água do Rio Capivari, que nasce no Pico do Itambé e deságua no Jequitinhonha. Desde setembro do ano passado, acompanho os 56 afluentes do Capivari, como nascentes e córregos. Por isso a exposição tem o título InventaRios, que é uma conversa das pessoas sobre a água e sua relação com ela, com a natureza e com o rio.”

Letícia diz que captou mais de 60 maneiras de falar sobre a água e adjetivá-la. “O nome InventaRios tem a ver com o fato também de que, no mapa oficial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), somente cinco afluentes do Capivari têm nomes. Assim, inventariamos todos esses afluentes. Isto nos mostra que é sintomático o distanciamento deles com a água”.

O fotógrafo Paulo Baptista comenta que o trabalho de Letícia é mais amplo do que o dele. “A verdade é que ela me chamou para fazer uma expedição pelo Rio Capivari, o que achei muito interessante. Fomos lá e fotografei rios e nascentes, além de paisagens. A expedição foi mapeando e recolhendo causos, histórias e agora o trabalho está sendo mostrado em forma de cartões-postais”, diz.

“As fotos estão no tamanho postal e trazem textos. O legal é que as pessoas podem retirar as folhas e montar o seu próprio bloco ou álbum. Além das fotografias minhas e do Ghislain impressas”, conta o fotógrafo. Na universidade, Paulo desenvolve há algum temo um trabalho de pesquisa sobre os cursos d’água de Minas Gerais.

INVENTARIOS E ESTADIA
Exposições em cartaz no Museu Mineiro, na Avenida João Pinheiro, 342, Centro (31) 3269-1103. Visitação de terça a domingo, de 10h às 19h, sábados e domingos, de 12h às 19h. InventaRios permanece em cartaz até 30 de junho e Estadia, até 14 de julho. Entrada franca.

“Buscamos construir um novo exercício de presença e contato, reforçando nossos encontros com acervos museológicos. Por familiaridade ou oposição, o estabelecimento de contatos será sempre a marca da diferença no instante do toque, no encontro de corpos, físicos e simbólicos”

Rodrigo Borges, do coletivo Grassar, responsável pela intervenção Estadia


O pessoal da região (do Serro) falou muito da relação com a água do Rio Capivari, que nasce no Pico do Itambé e deságua no Jequitinhonha. Desde setembro do ano passado, acompanho os 56 afluentes do Capivari, como nascentes e córregos. Por isso a exposição tem o título InventaRios, que é uma conversa das pessoas sobre a água e sua relação com ela, com a natureza e com o rio”

Letícia Panisset,do Collectif EthnoGraphic, responsável pela exposição IventaRios


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