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Naufrágio coletivo

Obras viscerais transformam Bienal de Veneza numa instigante reflexão sobre as barreiras que se erguem diante do novo êxodo mundial de populações, cuja representação é a morte


postado em 12/05/2019 05:07

(foto: FOTOS: Tiziana FABI/AFP )
(foto: FOTOS: Tiziana FABI/AFP )

 

A Bienal de Veneza, aberta ontem, começou como um convite para refletir sobre as migrações, um dos fenômenos do século 21. Antes disso, na última terça-feira, já era possível ver os restos do maior naufrágio no Mediterrâneo e uma instalação em referência ao muro entre o México e os Estados Unidos.

Os destroços da embarcação do mais grave naufrágio do Mediterrâneo, ocorrido em abril de 2015, no qual cerca de 800 imigrantes perderam a vida no Canal da Sicília, permanecerão ancorados nas águas do Arsenal, imenso estaleiro veneziano onde se exibem obras de arte de artistas renomados de todo o mundo, em homenagem à memória e aos imigrantes que fogem de suas terras em busca de refúgio e uma vida melhor.

“Os restos foram instalados em um lugar calmo, longe do barulho, um convite ao silêncio e à reflexão”, explicou o presidente da Bienal, Paolo Baratta. Sob o título Barca Nostra, o artista suíço Cristoph Buchel, solicitou autorização do Ministério da Defesa italiano, ao Comitê em 18 de abril, que representa as vítimas, e às autoridades da cidade siciliana de Augusta para expô-los por um ano em Veneza. Depois esses destroços retornarão à Sicília para fazer parte do Jardim da Memória, um monumento coletivo sobre a migração.

O navio pesqueiro de madeira, que quase perdeu as cores azul e vermelha e que tinha capacidade para apenas 20 pessoas, percorreu em uma balsa o grande canal de Veneza com o imenso buraco visível que provocou seu dramático colapso. A imagem pareceu surreal entre os elegantes palácios bizantinos e as pontes da bela cidade de Marco Polo.

A recuperação a 370 metros de profundidade, em uma operação que custou cerca de 9 milhões de euros ao Estado italiano, permitiu resgatar um elevado número de corpos que haviam ficado presos.

“É um símbolo universal”, resume o jornal local Il Gazzettino, que lembrou a equipe de médicos coordenados pela doutora Cristina Cattaneo, que identificou muitos corpos com o desejo de dar-lhes uma identidade. Na jaqueta de um dos corpos, descobriu costurado no bolso as qualificações de uma escola de um menino africano. Foi o seu passaporte para o primeiro mundo.

MUROS E NAUFRÁGIOS Essa não será a única obra ou instalação dedicada aos dramas do mundo moderno exibida na competição veneziana. Sob o título Que você viva em tempos interessantes, o curador da Bienal, o norte-americano Ralph Rugoff, convidou 79 artistas para dar sua visão dos tempos em que vivemos. O trabalho da mexicana Teresa Margolles sobre a violência em seu país desencadeada pelo narcotráfico gera impotência, raiva e indignação.

A artista expõe um de seus muros em Ciudad Juárez, formado por blocos de cimento de uma escola, com buracos onde quatro pessoas foram baleadas. Um muro com arame farpado, uma clara alusão ao “muro de Trump” contra os imigrantes e o que isso implica.

Surpreendem, ainda, as obras com forte conteúdo social, impregnadas de pensamentos críticos, como a do coreano Lee Bul, com uma instalação dedicada a outro naufrágio, ocorrido em 2014, nas águas da Coreia do Sul, quando 304 estudantes morreram. A montanha de trapos velhos que se inflam representa dor, medo, perplexidade e impotência.

“Nestes tempos, a arte desempenha um papel fundamental”, afirmou Rugoff, ilustrando os sacos de lixo preto de mármore do artista albanês Andreas Lolis colocados na entrada principal do pavilhão central. (AFP)


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