“Desses 81 anos, quase 82, você tira uns 15, divide, e o resto é só de fotografia”, brinca um dos principais fotógrafos do país, o carioca Walter Firmo. O jeito alegre e descontraído de levar a vida sempre se refletiu no seu trabalho. O ingresso na arte de retratar se deu por meio do fotojornalismo. O primeiro emprego foi em 1957, no extinto jornal Última Hora, do Rio de Janeiro. “Atuei como repórter fotográfico não de uma forma precisa como demanda o jornalismo fotográfico. Atrás da verdade intrínseca custe o que custar, aquela coisa meio obtusa. Eu chutava o balde; queria a poesia. Sem poesia não poderia viver”, ressalta.
Firmo – que é autodidata – sempre buscou a melhor luz, observava o ambiente em volta, tentando mostrar não apenas o massacre, as chamas de um avião que caiu, o homem que tenta matar o outro ou o incêndio que consome um prédio.
A mostra inclui retratos clássicos de grandes figuras brasileiras, como Pixinguinha, Cartola, Pelé, Clementina de Jesus e Arthur Bispo do Rosário, assim como registros de anônimos. Na abertura que ocorre logo mais, às 19h, Walter Firmo participa de um bate-papo com o público. “Embora eu tenha só um pouco de tinta negra (risos) e, por isso, muitos me consideram apenas mulato, eu sou negro.
A exposição, que foi aberta em março de 2018 no Maranhão, percorrerá outros espaços culturais patrocinados pela Vale no Brasil. Walter é filho de dois paraenses – o pai, José Baptista, era de Monte Alegre, no interior, e a mãe, Maria de Lurdes, era de Belém – que se conheceram na Cidade Maravilhosa. É um apaixonado pelo Brasil. Entre os estados em que se sente mais à vontade está Minas Gerais. Não é à toa que a exposição reúne um núcleo mineiro com imagens de Ouro Preto, Serro, Congonhas e Januária. “Minas é muito latente na minha produção desde os meus primórdios”, pontua.
A curadora da mostra, Paula Porta, afirma que nas imagens das Geraes a figura do negro é especial. “O próprio Walter comenta que aí o negro é menos expansivo do que em outras regiões do país e com uma forte carga de emoção”, analisa.
Foi Paula quem batizou a exposição de O Brasil que merece o Brasil. Não deixa de ser uma adaptação da música Querelas do Brasil, de Aldir Blanc e Maurício Tapajós, e que traz os versos “O Brazil não merece o Brasil/O Brazil tá matando o Brasil. “A gente olha para essas pessoas da foto e tem a certeza de que elas merecem o Brasil, apesar de o Brasil não tratá-las como elas merecem. É interessante que o público faça essa reflexão também. Essa exposição faz uma dupla homenagem: ao povo negro brasileiro e a um dos maiores fotógrafos desse país”, destaca.
Sem deixar o velho filme
Desde que Firmo começou no ofício, no fim dos anos 1950, a fotografia passou por uma revolução. Ele diz que acompanhou as mudanças, apesar de não ser muito adepto dessas “novidades cibernéticas”.
Pelo fato de ser filho único, Walter Firmo acredita que sempre preferiu estar, e, sobretudo, trabalhar sozinho. No início da carreira, almejava ser como o xará, o fotógrafo e cineasta paraibano Walter Carvalho. “Queria fazer a fotografia no cinema. Mas eu nunca achei que ia dar certo. Imagina um diretor me dando bronca na frente de um monte de gente? Não ia dar certo (risos). Sozinho, eu sigo o caminho que quero, sem interferências”, justifica. Mas ele chegou a sentir um pouco o gostinho de trabalhar com a sétima arte. Um amigo, o ator, cineasta e produtor Zózimo Bulbul, o convidou para ser o diretor de fotografia de um dos seus filmes, Pequena África (2002). “Ele sempre soube que eu queria ter essa experiência e aí me chamou. Por nós dois sermos negros foi muito importante e significativo fazer parte desse projeto, que tinha a escravidão e a negritude como temáticas”, revela Walter, que segue em plena atividade, viajando pelo país para novos registros, palestras e oficinas.
Exposição de fotografias
O Brasil que merece o Brasil e bate-papo com Walter Firmo. Hoje, às 19h, Memorial Vale (Praça da Liberdade, 640, esquina com Gonçalves Dias). Entrada gratuita, sujeita à lotação do espaço, com distribuição de senhas para o bate-papo. Mostra em cartaz até 30 de junho. Terças, quartas, sextas e sábados, das 10h às 17h30, com permanência até 18h. Quintas, das 10h às 21h30, com permanência até 22h. Domingos, das 10h às 15h30, com permanência até 16h.
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