“O empreendedorismo é pré-requisito para sobrevivência, mas, muitas vezes, não adianta você querer arrancar isso das pessoas“
A definição de workaholic cai como uma luva para Aninha Gutierrez. À frente das quatro unidades da BodyTech em Belo Horizonte – a mais nova, a do Ponteio, será aberta quarta-feira –, a empresária não tem a menor ideia de quantas horas trabalha por dia. “Quando me perguntam sobre isso, não sei dizer. Sou muito dedicada ao meu trabalho”, afirma, lembrando que por várias vezes depois de as luzes da academia serem apagadas os funcionários percebiam que a “chefa” ainda estava lá, em sua sala.
Mãe da pequena Maria, de 4 anos, fruto de seu casamento com Dhiego Lima, Ana, contudo, reconhece que é preciso saber equilibrar a vida profissional e a familiar. “Trabalho quantas horas forem necessárias, mas sou dona de casa, mãe, viajo, curto a minha vida. Sei que em tudo na vida a palavra-chave é equilíbrio”, pondera.
Aninha não abre mão de acompanhar a filha nos deveres de casa, faz questão de levá-la e buscá-la na escola, em tarefa que divide com o marido. “Não terceirizo a função de ser mãe com babá ou motorista. Quem faz isso sou eu.
Neta de Neném Gutierrez (famosa por uma das melhores goiabadas produzidas em Minas Gerais, na fazenda da família, em Inhaúma), filha de Angela Gutierrez (anfitriã de mão cheia), Aninha reconhece que, nesse caso, não puxou a nenhuma delas. “A culinária realmente não é uma qualidade minha, um dote. Queimo pipoca de micro-ondas. Com certeza, à vovó não puxei”, reconhece, bem-humorada. “E a mamãe é anfitriã inigualável. Adoro ter minha casa cercada de amigos.
COM A PALAVRA...
Ana Gutierrez, empresária
Por oito anos você trabalhou em setores diversos na Andrade Gutierrez, mas preferiu seguir outro caminho e ter seu próprio negócio. O que a levou à escolha?
A escolha de alçar voo solo foi uma oportunidade que apareceu de trabalhar na área fitness, que era minha escolha pessoal. Eu fui frequentadora assídua de academia de ginástica. A mulher do meu pai (Vitória Faria) era dona de uma academia de balé. Fazia aeróbica de competição também. Minha vida girava em torno da área fitness. Um amigo trouxe a ideia e eu me apaixonei.
Em fevereiro do ano que vem você completa 18 anos à frente da rede de academias. Como enfrentou aqueles desafios de início e se prepara para os novos?
No começo, havia uma grande academia na cidade, a Rio Sport Center, no Ponteio, que agora, 18 anos depois, vem a ser minha. O que eu fiz foi mudar o conceito de uma academia em Belo Horizonte. Com a Fórmula eu trouxe para BH um novo conceito de academia de ginástica. Não era uma academia de ginástica. Era um centro de saúde, qualidade de vida e bem-estar. Criei um conceito muito novo na época. Eu não queria academia para as pessoas simplesmente terem perninhas e bundinha bonitas, corpo bonito. Queria um centro de qualidade de vida.
Aos 26 anos, você encarou o desafio de abrir a franquia de uma gigante do mercado fitness, em uma época em que não se falava em empreendedorismo. O que você pensava naquela época e qual era a sua visão do futuro do empreendimento?
Realmente, aos 26 anos, encarei o desafio de trazer uma franquia de uma grande academia para BH.
Ser empreendedor hoje é quase um pré-requisito para sobreviver aos tempos atuais. Com sua experiência, o que se deve levar em conta na hora de tomar as rédeas do próprio negócio?
O empreendedorismo é pré-requisito para sobrevivência, mas muitas vezes não adianta você querer arrancar isso das pessoas. Tem gente que é empreendedor por natureza. Não adianta você querer forçar isso. Tomar as rédeas do próprio negócio requer, por exemplo, gostar daquilo que se faz. Existem casos onde as pessoas herdam ou querem seguir o que os pais fizeram e nem sempre acontece. É preciso ser apaixonado por aquilo que faz. E saber fazer. Você não precisa necessariamente botar ovo para ser dono de granja, mas tem que entender bastante o processo e ser apaixonado por ele. É preciso também ser um líder, um gestor de pessoas. Eu nunca fui formada em educação física, não tenho pé na área técnica do meu negócio. Nesse caso, se você não é especialista naquele que sua empresa faz, tem que ser especialista na gestão de pessoas. Esse é o grande lance.
Em sua opinião, qual a melhor definição de empreendedor?
Empreendedor é aquela pessoa que tem coragem de arriscar (com sabedoria, obviamente), abrir campo, e encarar desafios sempre de olho no presente e no futuro. A visão de futuro é fundamental para o empreendedor.
Sua mãe (a empresária Angela Gutierrez) é dona de acervos que ocupam três grandes museus – o do Oratório, em Ouro Preto; o de Sant’Anna, em Tiradentes; e o de Artes e Ofícios, na Praça da Estação. Qual a sua relação com a cultura? Tem intenção de dar continuidade ao trabalho de sua mãe?
Ser filha de Angela Gutierrez é realmente um grande responsabilidade. A paixão da mamãe pela cultura é quase como empreendedorismo. Isso é nato. Ela passa pela academia e brinca: Nossa Senhora, como você consegue tomar conta desses equipamentos todos? Cada macaco em seu galho. Não adianta querer desenvolver nela um amor por uma academia de ginástica, mas também não adianta arrancar de mim o tamanho da paixão pela cultura. Hoje, entendo a importância do que ela faz, do negócio dela. Um orgulho muito grande em dar sequência ao que ela faz..