No próximo fim de semana, a atriz Nathalia Timberg apresenta, pela primeira vez em Belo Horizonte, o espetáculo comemorativo de seus 90 anos, o documentário cênico Através da Iris. A peça, que tem texto de Cacau Hygino e direção de Maria Maya, faz homenagem à nova-iorquina Iris Apfel, ícone da moda que, aos 97 anos, é empresária, designer de interiores e uma das referências mundiais na arte pop e no universo fashion. Após a sessão que fará no domingo (14), Nathalia participará de bate-papo com o público, uma prática que tem se tornado cada vez mais comum nas produções teatrais do país. Só para citar alguns exemplos, foi assim com Os guardas do Taj, com Reynaldo Gianecchini e Ricardo Tozzi, que se apresentaram recentemente no Cine Theatro Brasil Vallourec; com Pi – Panorâmica insana, estrelado por Cláudia Abreu e Leandra Leal, encenado no Sesc Palladium no fim de março, e com Baixa terapia, protagonizado por Antonio Fagundes e que esteve no ano passado na cidade.
Aliás, não é de hoje que Fagundes tem colocado o público mais próximo de suas produções, convidando-o a participar de ensaios abertos ou permanecendo para debates após a encenação. Na ocasião, o ator chegou a dizer ao Estado de Minas que essa participação do espectador acaba enriquecendo o trabalho dos artistas. “Em Baixa terapia, chegamos a ter mais de 800 pessoas acompanhando todo o processo de criação. O público acaba se tornando um integrante da produção, ainda mais na comédia, em que as pessoas interagem mais. E, no fim dos espetáculos, eles fazem perguntas, a gente debate.
Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade, a peça Banho de sol, novo espetáculo da Zula Cia. de Teatro – que tem sessão hoje, às 19h – também tem promovido, após as apresentações de sábado, debates sobre questões levantadas pela produção. A montagem aborda a vida de mulheres do sistema prisional e é fruto do projeto A arte como possibilidade de liberdade, composto, entre outras atividades, por aulas de teatro que foram realizadas em um complexo penitenciário feminino ao longo de um ano, durante o banho de sol das detentas.
Mariana Maioline, uma das atrizes em cena ao lado de Gláucia Vandeveld, Kelly Crifer e Talita Braga, acredita que pelo próprio processo de construção do espetáculo era importante realizar essas conversas com a plateia. “As pessoas que convidamos para debater são ligadas a essa temática e há um interesse e um desejo do público de conhecer mais sobre a realidade dos presídios femininos. Claro que surgem questões sobre o fazer teatral, dúvidas sobre a peça mesmo, e essa curiosidade e essa troca são muito válidas”, analisa.
A atriz acredita que há um interesse das pessoas em refletir e discutir sobre o que estão assistindo e cita como exemplo o saudoso avô, que, sempre após uma sessão de cinema ou de teatro com a família, soltava: “E aí, vamos comentar?”. “A gente acha que a plateia não vai se interessar por esses bate-papos, que o espetáculo fala por si, mas muita gente tem permanecido e participado. E isso nos surpreendeu.
TENDÊNCIA O diretor Marcos Malafaia, do Giramundo, vê com bons olhos essas ações. O grupo encerra hoje, também no CCBB, a temporada de O pirotécnico Zacarias, montagem adaptada de contos do escritor Murilo Rubião, e que chegou a fazer na última quinta um debate com a plateia. Malafaia explica que instituições culturais como o próprio Centro Cultural do Banco do Brasil e o Itaú Cultural têm adotado como protocolos esse tipo de atividade justamente pensando na formação e na qualificação do público. “E é uma tendência também das leis de incentivo criar mecanismos de interação mais intensa entre espetáculo e espectador, para que não se torne um entretenimento passivo, mas sim algo que provoque discussão, transmita conhecimento, transfira know- how”, ressalta.
E essa interação e inclusão do público não se limitam aos debates. O Giramundo promove outras manifestações de troca, como workshops. Marcos Malafaia destaca que pelo fato de o grupo ter nascido dentro de uma universidade – a UFMG – e tendo a maior parte dos integrantes vindos desse meio, as atividades sempre foram atreladas a projetos de educação. “Estar próximo à academia acaba estimulando o pensamento científico, crítico. Esse é o nosso viés e isso acaba indo para dentro dos espetáculos”, frisa o diretor, que torce para que, com o passar do tempo, eventos, produtores e agentes culturais incorporem essas medidas como desdobramento do processo de produção de um espetáculo.
ALÉM DA CORTINA Ele ressalta ainda que um programa de entretenimento não pode e não deve ser uma diversão pura e simples.
PROGRAME-SE
O pirotécnico Zacarias, com o Grupo Giramundo.
(31) 3431-9400. Ingressos: R$ 30 (inteira)
e R$ 15 (meia).
Através da Iris, com Nathalia Timberg. Sábado (13), às 20h, e domingo (14), às 19h, no Teatro Sesiminas (Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia. (31) 3241-7181). Ingressos: plateias 1 e 2 R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Bate-papo com a atriz após a sessão de domingo (14), com mediação da jornalista Cris Guerra.
Banho de sol. De sexta a segunda, até 22/4, às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450, Funcionários. (31) 3431-9400. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Bate-papo sábado (13), com Natália Martino (jornalista e pesquisadora) e Leo Drummond (fotógrafo), autores do livro Mães do cárcere; Andreia de Jesus, deputada estadual; e Cida Falabella, vereadora.
segurança pública..