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Helvécio Carlos


postado em 07/04/2019 05:09



‘‘O mais absurdo é não acreditarem que meu nome é Efe’’


Quem vê Efe Godoy jura que ele é um garoto de seus 18, 20 anos. Mas não, o rapaz tem 30 e é dono de uma trajetória de sucesso nas artes plásticas. Prova da boa repercussão desse trabalho é a prorrogação até 20 de abril de sua nova exposição, Estranho familiar, em cartaz na galeria Celma Albuquerque, em BH.

A mostra é uma síntese da obra do artista, que ama o desenho e a performance no embalo dos escritores favoritos. “Murilo Rubião surgiu na minha vida muito recentemente, há quatro anos. Sinto-me próximo dele e de sua escrita real fantástica. Gosto muito de ler as poesias de Manoel de Barros, que me trazem imagens do mundo ordinário traduzidas em beleza simples”, revela.

Efe tem escrito algumas coisas. “Quem sabe nasce um livro ainda este ano? É uma vontade”, comenta, em meio a aquarelas e desenhos de Estranho familiar, que integra a quinta edição do projeto Circuito 10 Contemporâneo.

A galerista Flávia Albuquerque aponta a facilidade de Efe para circular por várias propostas. “Além de o trabalho dele ser excelente, é um artista que passa por vários meios. É ligado à escrita e à poesia, faz performance, esculturas e objetos, além de desenhar”, observa.

Ela também destaca o fato de Efe receber os espectadores de forma generosa. “Isso é importante para a interação entre o público, o trabalho e o próprio artista”, comenta. Efe passa o dia na galeria. Às vezes, dorme lá. Às segundas-feiras, das 17h às 19h, ele recebe o público para a Mesa de desenho.


Com a palavra
Efe Godoy,
Artista plástico

Como é a receptividade do público à sua nova exposição?

É bem divertido estar com o outro, com aquele que observa. Me observam enquanto fico ali observando quem observa meu mundo real fantástico. Estar aqui dentro da galeria, que agora vira casa-ateliê, é um delírio para todos, inclusive pra mim. Produzo onde estou. Produzir numa vitrine dentro do espaço expositivo intriga algumas pessoas. Elas ficam me perguntando como é isso de fazer com gente vendo, o que acho bem tranquilo. Em meio a tudo, o mais absurdo é não acreditarem que meu nome é Efe.

O que mais chamou a sua atenção em relação ao público? E o que mais chamou a atenção do público em relação a seu trabalho?

Tenho conversado com todos, me disponho ao bate-papo informal, mostro meus caderninhos de desenho, diários de bordo. Conto das experiências recentes em residências no Brasil e fora do país. Todos acham que sou meganovo, mas acabei de completar 30 anos, inclusive no instagram meu nome é @efegodoy_retornando_de_saturno. Acredito nos astros e levo isso a sério. Ao conversar com algumas pessoas, estou percebendo que meu trabalho passa muito por esse lugar da narração das histórias e memórias afetivas. Seja nos objetos que vou recolhendo ou mesmo nos desenhos híbridos, somos uma misturança danada. Na abertura, chorei muito. Emoção mesmo. Vi pessoas chorando também. Estou mostrando o lado de dentro da minha cabeça para todos que quiserem entrar nela. É uma mistureba de intimidade com exposição, estou em estado de exposição. Isso de dormir aqui na galeria, morar aqui por um tempo, tem gerado um burburinho. Alguns acreditam que está de fato acontecendo, outras pessoas acham que é loucura, mentira, balela. Venham conferir para entender de perto.

Como funciona a Mesa de desenho, às segundas-feiras?

Sempre chamei pessoas pra desenharem comigo. É um hábito lindo o desenhar coletivamente, aqui em BH já aconteceram mesas com formato parecido. O Binho Barreto fazia uma noite de desenho no ateliê dele, no antigo Edifício Almeida, que acabou fechando as portas. Quis levar a ideia pra frente. Levei a Mesa de desenho para São Paulo no período em que fiz residência no Bairro de Perdizes. Não é aula nem oficina, mas um encontro para bater um papo esperto, conversar sobre tudo, trocar experiências seja em torno do desenho ou não, e escutar uma musiquinha, beber uma cervejinha. Enfim, um encontro livre, para quem desenha e para quem não desenha. Somos democráticos, vem quem quer. O objetivo é a troca. Desenhar com o outro é transformador.

A mostra reúne peças criadas em residências artísticas das quais você participou nos últimos dois anos. O que elas representam para você?

Tenho me metido em residências, o que acho uma necessidade no mundo da arte. Até coloquei na exposição a faixa “Artista precisa de residência”. Essa ideia precisa ser difundida, a gente precisa de lugar pra trabalhar/morar e continuar pesquisas e fazeres. É minha bandeira desde já. Teve um convite muito chique de participar da residência do Viaduto das Artes. Fica lá no Barreiro, espaço incrível. Quem não foi tem de conhecer. Fui com Marci Silva, minha amiga e colega de trabalho, artista e arte-educadora, para Montevidéu residir por dois meses no Espacio de Arte Contemporâneo (EAC), um antigo cárcere que hoje dá espaço a um museu de arte contemporânea. Experiência maravilhosa, toda custeada pelo governo uruguaio, um intercâmbio belo. Viver em outro lugar nos atravessa de forma intensa. Até hoje estou carimbado pelos acontecimentos vividos, pelas pessoas que conheci, pelos lugares onde dormi.

O Menino capivara é seu trabalho preferido? Qual o significado dele à época da criação e agora?

Tenho um carinho muito grande pelo Menino capivara, sinto que ele chegou na minha vida pra entender as populações à margem. Surgiu como desenho e virou performance por causa do grupo de teatro de bonecos Pigmaleão, que me ajudou a construir a máscara que até hoje me acompanha. Fui recentemente aprovado com a performance chamada Engulo histórias para um encontro de performers na Cidade do México. A performance está diretamente ligada ao meu trabalho de desenho, não a vejo separadamente.

Como foi a sua vida em Sete Lagoas até chegar a Belo Horizonte?

Sete Lagoas é um lugar maravilhoso, uma cidade mágica. Quando tinha 7 anos, dei uma entrevista na rádio falando do nome da cidade como a lenda da índia que chorou sete lagoas. Talvez daí tenha nascido meu amor pelos contos fantásticos. Estudei no Grupo Escolar Arthur Bernardes, na orla da Lagoa Paulino, onde minha mãe lecionou até se aposentar. Depois fui para o colégio estadual (E. E. Maurilo Jesus Peixoto). Vim para BH estudar na Escola Guignard. Hoje, vivo de residência em residência. Preciso da experiência de estar em outro lugar, a gente também é um lugar. Minha família sempre me apoiou, mas não somos ricos, quero dizer, nossa riqueza está no amor e união. Tudo o que consegui até agora foi devido a projetos e editais que me dão possibilidade de expor, vender, viajar e continuar vivendo arte. Mas não é fácil, pensei em desistir várias vezes. Todos os meus empregos foram na área da arte, como arte-educador no Inhotim e como estagiário no Palácio das Artes. Depois disso, vi que poderia viver apenas do meu trabalho. Mas, como disse, é um trabalho de persistência, de todo dia desenhar e continuar.


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