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Pavilhão do Brasil em Veneza será sobre dança surgida na periferia do Recife

A swingueira, tema da videoinstalação %u2018Swinguerra%u2019, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, é praticada em quadras de escolas públicas, sobretudo nos Centros de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente, criados nos anos 1990


postado em 17/03/2019 05:14

A swingueira é praticada em quadras de escolas públicas, sobretudo nos Centros de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente, criados nos anos 1990 (foto: fotos barbara wagner & benjamin de burca/fundação bienal de são paulo)
A swingueira é praticada em quadras de escolas públicas, sobretudo nos Centros de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente, criados nos anos 1990 (foto: fotos barbara wagner & benjamin de burca/fundação bienal de são paulo)


Selecionado para representar o Brasil na Bienal de Veneza deste ano, Swinguerra mostra um retrato peculiar de uma juventude que mistura a dispersão típica das redes sociais com a criatividade e o foco na execução de sua expressão artística. O projeto audiovisual, ainda em fase de pós-produção, da brasiliense Bárbara Wagner, em parceria com o alemão Benjamin de Burca, levará ao pavilhão nacional montado na cidade italiana uma investigação sobre a rotina de alguns grupos de dança da periferia recifense, capazes de misturar essas diferentes nuances comportamentais, proporcionando a chance de, a partir daí, fazer reflexões sobre nosso contexto social.

“A swingueira é uma manifestação cultural de música e dança praticada em quadras de escolas públicas, mas que aparece também nos palcos e no Instagram. Cada grupo com que trabalhamos no filme está nessas diferentes instâncias. Ao longo de todo o ano, eles fazem três encontros semanais para ensaiar as coreografias com disciplina, rigor e sincronismos que são quase militares”, diz Bárbara, explicando um dos aspectos do título,  que mistura o nome do movimento musical com ‘guerra’. Os grupos praticantes, protagonistas em Swinguerra, também promovem competições e duelos.

Embora o processo de pesquisa tenha corrido entre outubro passado e janeiro deste ano, logo após o convite da Fundação Bienal de São Paulo, responsável pela seleção, o trabalho da dupla já havia começado desde 2015, quando filmaram outros recortes musicais de forte representação social na capital pernambucana. Naquele ano, lançaram Faz que vai, primeiro produto audiovisual do duo, até então dedicado à fotografia. Ali houve o contato inicial com o fenômeno da swingueira. Posteriormente, ainda realizaram Estás vendo coisas, que se debruça sobre o brega-funk do Recife, e Terremoto santo, dedicado à indústria do gospel.

Essa experiência levou para Swinguerra um formato de documentário que dá liberdade artística aos protagonistas, extrapolando um pouco o gênero. “O hibridismo dos nossos filmes tem a ver com o fato de trabalharmos com artistas. É documental pela investigação que fazemos das práticas artísticas. Ao mesmo tempo, elas apresentam uma dimensão ficcional. O conteúdo e o roteiro do filme são dados pelo projeto coreográfico e cênico dos dançarinos. Nos preocupamos que esses grupos se representam por eles mesmos”, analisa a artista.



ESTÉTICA


Bárbara ainda lembra que, nesse processo, há uma grande preocupação com as locações. Boa parte dos registros foram feitos na cidade de Olinda, em um Caic (Centro de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente), estrutura voltada para a educação pública criada ainda no início dos anos 1990, durante o governo Collor de Mello. “É uma escola conectada a uma quadra, ao lado de um lado um anfiteatro e de um campo de futebol. Não é aleatório que esses grupos dancem nesses espaços. A estética de cada um é diferente, então cada um pede um desses três espaços especificamente”, esclarece.

Com suas peculiaridades e variações, como o mais recente “passinho dos malokas”, em que os dançarinos se apresentam uniformizados como um time, a swingueira é mostrada no filme como uma expressão que concentra linguagens diferentes da cultura brasileira. “É um movimento que mistura música baiana, dança influenciada pelo frevo e quadrilha, e uma apresentação na quadra que tem a ver com escolas de samba cariocas, com a disputa entre elas”, pondera Bárbara Wagner. Considerando fatores como a importância do ambiente virtual para os atores desses grupos de dança, a diretora reforça também a abordagem social que Swinguerra oferece.

“É a continuidade de uma pesquisa em que a swingueira está inserida como manifestação artística. É uma feliz coincidência essa exibição em Veneza, mas são temas para uma discussão importante também em âmbito nacional. O que é o crescimento da igreja evangélica neste momento no Brasil? Abordamos isso em Terremoto santo e tentamos fazer algo parecido agora. Existe uma necessidade de observação e disputa muito grande hoje no Brasil. Tomar posições à esquerda ou à direita é muito fácil. Queremos entender o país que estamos vivendo e isso passa por compreender manifestações artísticas de outras classes sociais”, afirma Bárbara.



REALIDADES


A artista visual entende que “é preciso escutar o outro”. “O problema do Brasil, nessa polarização, é a falta de interesse na partilha, na igualdade de classe, raça, gênero. Essas questões não são discutidas didaticamente no filme, mas estão ali artisticamente nos corpos”, diz. Nesse sentido, ela reflete sobre “ter cuidado para não entender o universo digital necessariamente como um ambiente de realidades falsas”. “Essa geração dos anos 2000, com quem trabalhamos em Swinguerra, aprendeu a criar realidades para si com o acesso a essas tecnologias. Mas ela se informa, troca e produz conhecimento a partir dessas novas ferramentas. Não quer dizer que seja pior. Por mais que os dançarinos usem essa coisa individualista da selfie e dos stories, eles também constroem a experiência coletiva na quadra da escola, como mostramos no filme”, ressalta.

Em Veneza, o trabalho será exibido em forma de videoinstalação, montada em dois canais, proporcionando performances visuais diferentes e simultâneas aos visitantes do espaço. Curador da 33ª Bienal de São Paulo e da representação oficial do Brasil na 58ª Bienal de Veneza, o espanhol Gabriel Pérez-Barreiro foi o responsável pela escolha, que ele atribuiu à autenticidade e originalidade do projeto.

“Coloquei alguns critérios: queria alguém que não tivesse participado da última Bienal de São Paulo, em início de carreira e que não pertencesse a um grande coletivo, pelas limitações do espaço. Assim, cheguei a Bárbara Wagner e ao Benjamin de Burca, que tinham esse projeto em mãos, com o bônus de estarem fora do eixo Rio-São Paulo. Esse pavilhão seria o momento perfeito. A temática deles é muito brasileira e é importante que fosse um assunto brasileiro. Foi uma escolha fácil”, declara Barreiro, que diz que o processo de seleção era “totalmente livre”.

Sob o tema central “May you live in interesting times” (“Que você viva em tempos interessantes”) – referência a um ditado comum no inglês e falsamente atribuído a uma maldição chinesa – a 58ª Bienal de Veneza propõe um debate sobre a circulação de notícias falsas e a “pós-verdade” da arte. A mostra ocorrerá entre 11 de maio e 24 de novembro deste ano.



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