A volta ao mundo pela Netflix inclui algumas paradas especiais. Na escala italiana, duas produções se destacam: Gomorra e Suburra, que incluiu recentemente sua segunda temporada no cardápio da plataforma de streaming. Ambas são séries policiais realistas, violentas e conectadas com a realidade local. No caso, Roma é a protagonista.
A segunda temporada de Suburra, que começa três meses depois do desfecho do ano de estreia, afunda-se na lama de uma tríade poderosa: Vaticano, Parlamento e a versão sem caricatura da Máfia. São esses os elementos que movem o roteiro.
A continuação da série abordou um tema explosivo da agenda europeia: a imigração e o fortalecimento do discurso conservador.
Nos últimos anos, o aumento acentuado de postulantes a asilo na Europa criou uma crise humanitária e abriu intenso debate no continente. Todos os anos, pessoas morrem no mar durante travessias em barcos precários e superlotados. Esse fenômeno favoreceu a agenda dos partidos nacionalistas de extrema-direita.
Em Suburra, o discurso de ódio que move setores da classe política europeia em franco crescimento é o combustível de oportunistas instalados no coração do poder. A conta é simples para esses trambiqueiros: serão acolhidos 512 imigrantes (e pagos 35 euros por cada um deles).
O trio de marginais que luta contra todos ganha mais um componente: o político que era de esquerda e trocou de lado no espectro ideológico ao perceber que os ventos estavam mudando. A história, porém, anda em círculos e avança pouco no teatro de operações do submundo do tráfico romano.
A crítica europeia trata a atração como “a resposta italiana a Narcos”, série latina que fez sucesso em 190 países. De fato, existem paralelos, mas Suburra ganha em densidade e interpretação.
Baseada no livro de Giancarlo De Cataldo e Carlo Bonini, a série já rendeu um filme de mesmo nome, em 2015, produzido pela Netflix e dirigido por Stefano Sollima. Sollima, a propósito, também comandou o seriado Gomorra. (Estadão Conteúdo)