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A pintora do povo

Mostra em SP destaca a importância de Djanira e corrige equívocos sobre sua obra, tachada de primitiva. "Para ela, pintura era compromisso socia", diz a curadora Isabella Rjeille


postado em 09/03/2019 05:06

Vendedora de flores, obra de 1947, faz parte da exposição em cartaz no Masp (foto: MASP/DIVULGAÇÃO)
Vendedora de flores, obra de 1947, faz parte da exposição em cartaz no Masp (foto: MASP/DIVULGAÇÃO)


A artista paulista Djanira da Motta e Silva (1914-1979) costumava dizer poderia até ser ingênua, mas sua obra certamente não o era. A declaração vinha em resposta a quem caracterizava sua pintura dessa forma. Djanira começou a fazer desenhos quando ficou internada por causa de uma tuberculose. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, nos anos 1930, matriculou-se num curso noturno no Liceu de Artes e Ofícios, onde estudou por pouco tempo, pois precisava trabalhar.

A carreira dessa importante artista brasileira é lembrada em grande exposição no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), na capital paulista. A memória de seu povo abre um novo ano temático na instituição, com o eixo Histórias das mulheres, histórias feministas.

“A partir de abril, a exposição da Djanira vai poder ser vista com outra sobre Tarsila do Amaral e Lina Bo Bardi. A ideia é ter o trabalho dessas três mulheres em exibição ao mesmo tempo, cada uma com a sua ideia de popular”, explica Isabella Rjeille, uma das curadoras.

Rodrigo Moura, outro curador da mostra, ressalta a forte recorrência de temas afro-brasileiros na obra de Djanira. “Ela se debruçou de maneira muito profunda sobre o candomblé e sobre a cidade de Salvador, onde viveu nos anos 1950.”

A exposição faz um percurso quase cronológico sobre o legado da pintora, dividindo-se em núcleos temáticos, todos relacionados à ideia do popular. “Alguns temas são mais recorrentes em determinadas épocas, têm a ver com a vida dela”, explica Rjeille. “Nos anos 1940, eram assuntos que estavam muito ao redor dela, alguns autorretratos. Nos anos 1950, ela começa a viajar, circula mais, então há predominância maior de outras paisagens, não necessariamente do Rio.”

Entre as viagens, há uma para Nova York, onde Djanira chegou a expor. Na década de 1960, a pintora foi presa pela ditadura militar. Chegou a visitar a União Soviética e mantinha relação próxima com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), interesse em comum com o escritor Jorge Amado. Em 1954, pintou Candomblé para o apartamento dele, no Rio de Janeiro. Pela primeira vez, o quadro será exibido num museu.

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Nos anos 1950 a 1970, Djanira se voltou para cenas de trabalhadores, com destaque para a série sobre exploração mineral em Minas Gerais, com forte caráter político e social. “Para ela, pintura era compromisso social”, afirma Rjeille.

O curador Rodrigo Moura destaca a importância de Djanira. Sua formação, longe do ensino acadêmico europeu, torna esse trabalho único. “Uma coisa muito rica do modernismo brasileiro é o lugar das fontes populares, dos artistas autodidatas e inspirações afro-brasileiras”, analisa. “Todas essas características fazem de Djanira uma autora muito grande desse cenário. Temos certeza, olhando outros autodidatas que vieram depois, que ela foi muito influente.”

Djanira não se acomodou, lembra o curador: “Ela se reconstrói várias vezes ao longo da carreira. Está sempre experimentando, corre riscos. Seu trabalho reflete uma série de influências modernas, mas ela não está ligada a nenhum grupo moderno.”

Outro destaque na carreira de Djanira é o fato de ser mulher independente, autodidata e de origem simples, numa época de muitos preconceitos. “Se você começa a ler os textos escritos sobre ela, vários são bastante machistas”, observa Rjeille. “Os críticos sempre a desenharam como ingênua, deslumbrada, primitiva, naïf, algo muito diferente do interesse social e político que ela tinha. Houve um equívoco da classificação inicial da Djanira, dentro de uma linha com a qual ela não se identificava”, defende a curadora. (Estadão Conteúdo)


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