Coltan é a mistura de dois minerais: columbita e tantalita. Da columbita se extrai o nióbio e da tantalita, o tântalo. Esse último é obrigatório no mundo em que vivemos, presente nos produtos eletrônicos. Smartfones, por exemplo. Estima-se que 75% das reservas de coltan estejam na República Democrática do Congo. É um dos países mais pobres do mundo – paradoxalmente, um dos mais ricos em recursos minerais.
Esse preâmbulo é para falar do imbróglio montado em The widow, série que estreou no início do mês no Amazon Prime Video. A britânica Kate Beckinsale (da franquia Anjos da noite) é a viúva do título. Georgia Wells já sofreu perdas demais na vida – reclusa, vive num lugarejo perdido do País de Gales.
Sem pensar duas vezes, Georgia pega o avião para Kinshasa para descobrir o que ocorreu. É aí que a trama tem início. A partir desse drama pessoal, The widow vai montando a teia que envolve corrupção, milícia, intriga internacional – o pano de fundo é a ganância pelo coltan.
Alguns núcleos são apresentados nos episódios iniciais, personagens que vão se encontrar à medida que a trama engata. Há um islandês cego (Ólafur Darri Ólafsson, da ótima série Trapped), sobrevivente do voo que teria matado Will. Há a adolescente de uma aldeia congolesa (Shalom Nyandiko), roubada à força de sua família para se tornar soldada de milícia.
Outros personagens importantes são o jornalista congolês (Jacky Ido), que também ficou viúvo no voo africano, a responsável pela ONG (Alex Kingston) em que Will atuava, um general do Congo metido com milícias (Babs Olusanmokun) e o antigo superior de Georgia (papel de Charles Dance, o Tywin Lannister de Game of thrones).
Com narrativa que vai e volta no tempo, entre o Congo (as locações foram na África do Sul), País de Gales e Holanda, The widow tem início promissor. Com o complicado contexto político africano em primeiro plano, a série promete uma conspiração daquelas.
São viradas demais, bem como mortes, a maior parte delas com extrema violência. Em algum momento você até se pergunta se vai sobrar algum personagem que presta até a sequência final. Kate Beckinsale não ajuda. Sem mudar as expressões e sempre com o rabo de cavalo perfeito (mesmo no meio da selva africana), a mulher alquebrada pela vida vai se tornando super-heroína. As cenas são de tamanha inverosimilhança que a acompanhamos pegar um carro e ir para os confins da África com a facilidade de quem dá um pulo até a esquina.
Para quem resistir até o final (a curiosidade acaba conseguindo segurar a audiência, pode acreditar), vale dizer: dá para resolver a charada por volta do sexto episódio. A previsibilidade e as más atuações (a personagem mais convincente é a soldada mirim) acabam por “matar” uma série que poderia ser um achado e tanto neste período de poucas novidades entre os thrillers.
THE WIDOW
• Oito episódios
• Amazon Prime Video.