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O arquiteto do cosmos

Reedição da autobiografia Registro de uma vivência traz textos de Lucio Costa, além de croquis, fotografias e aquarelas do homem que pôs as nuvens "dentro" de Brasília


postado em 05/03/2019 05:06

Lucio Costa em seu gabinete na antiga sede do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro(foto: Paulo Gasparini/Divulgação)
Lucio Costa em seu gabinete na antiga sede do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro (foto: Paulo Gasparini/Divulgação)


Lucio Costa (1902-1998) não era apenas o autor de projetos arquitetônicos ou urbanísticos (dizia que o arquiteto não rabisca, arquiteto risca); era um pensador humanista. O Plano Piloto é texto fundante de Brasília, a um só tempo, técnico e poético. “Ele colocou o Plano Piloto no Planalto Central com a sabedoria de um arquiteto do cosmos”, afirma o poeta Francisco Alvim. De fato, a proximidade de Brasília com a esfera celeste é um de seus legados.

Lucio sempre teve apreço pela palavra escrita. Logo na epígrafe do livro Registro de uma vivência, ele estabelece polêmica elegante com a máxima inglesa “words, words” (palavras, palavras): “Discordo do sentido pejorativo dessa sentença inglesa de uma palavra só. Daí a compilação”.

Lançado em 1995, o livro estava fora de catálogo desde 1997, quando se esgotou a segunda tiragem. Registro de uma vivência (Editora 34/Edições Sesc) ganhou terceira edição revista, com o mesmo projeto gráfico da primeira. Foi o próprio Lucio quem concebeu essa coletânea, nos mínimos detalhes.

A obra não obedece a nenhuma linha cronológica. Tem uma estrutura que a arquiteta Maria Elisa Costa, filha do autor, chama de cinematográfica. “Meu pai gostava muito de cinema”, lembra. A leitura é prazerosa. Lucio escreve muito bem, com rara precisão, fluidez, elegância e senso poético.

Não é apenas um livro teórico. Reúne textos, croquis, aquarelas, fotografias de família, projetos (construídos ou esquecidos), cartas, depoimentos, colaborações, fotos de casas e prédios numa montagem em harmonia e contraste.

É como se fosse um “cinema transcendental” sobre sua vida e obra, que pode ser lido a partir de qualquer ponto. Oscar Niemeyer, Burle Marx, Plano Piloto, Gustavo Capanema, Ismael Nery são alguns dos personagens das 648 páginas do livro.

Nesta entrevista concedida por e-mail, Maria Elisa Costa fala sobre o gosto do pai pela palavra, sua relação com as artes plásticas e o legado de suas criações.


Lucio Costa escrevia muito bem. Deixou textos sobre arquitetura, urbanismo e artes plásticas que se tornaram referências sobre os temas abordados. Quais eram os autores preferidos dele? Qual era a relação de Lucio com a palavra?
Sobre os autores preferidos dele, não sei. Mas sobre a parceria dele com a palavra, era completa: sempre buscou a palavra exata para expressar o que queria dizer. A meu ver, excelente escritor como sempre foi, lidava com a relação palavra-texto como se fosse uma partitura musical.

O livro revela que Lucio Costa não era apenas arquiteto e urbanista, mas um pensador humanista. Que aspectos foram importantes para a formação dele?
Impossível separar as coisas na sua formação. Ele nunca foi “especialista”, sua liberdade de pensamento o levava a se aprofundar mais naquilo que o seduzisse. Creio que o mais importante na formação do humanista foi a permanente curiosidade sobre o ser humano.

O livro traz desenhos e textos de Lucio Costa sobre outros artistas. Qual a relevância das artes plásticas na formação dele como arquiteto e urbanista?
Ele sempre considerou a arquitetura como uma das três artes plásticas – pintura, escultura e arquitetura –, assim como eram ensinadas na Escola de Belas-Artes, onde estudou. Como, desde menino, por iniciativa de seu pai, aprendeu a aquarelar, sua formação profissional sempre incluiu as artes plásticas, com total naturalidade.
A estrutura do livro, concebida por Lucio, não segue a linha cronológica, o que, como você escreve no prefácio da nova edição, até hoje surpreende. Como percebe a montagem cinematográfica desses textos?
Registro não é um livro sobre Lucio Costa, é Lucio Costa em forma de livro – ou, melhor dizendo, em forma de filme. Ele sempre gostou de cinema. A estrutura do seu relato foi concebida como o roteiro de um filme – com ritmo, pausas, surpresas, etc. A meu ver, para tornar o livro mais sedutor, exatamente pelo inesperado.

Clarice Lispector escreveu que os arquitetos que inventaram Brasília deixaram “espaço para nuvens”. Como percebe a interação entre arquitetura e natureza, arquitetura e meio ambiente no projeto urbanístico da cidade?

Primeiro, uma correção: o Plano Piloto de Brasília é de autoria exclusiva de Lucio Costa, ou seja, não cabe o plural relativo a arquitetos que inventaram Brasília. (Oscar Niemeyer projetou os edifícios principais obedecendo à volumetria construtiva determinada pelo projeto urbano.) Ao contrário do Rio de Janeiro, onde a presença das montanhas “comanda” a paisagem da cidade, no Planalto Central o céu encosta no chão – onde quer que se esteja. Uma das grandes qualidades do projeto urbano com que Lucio Costa ganhou o concurso para o Plano Piloto da Nova Capital foi ter percebido a necessidade de criar uma “paisagem construída” visualmente forte, incluindo nela a presença do céu – daí o Eixo Monumental. Paralelamente, para a moradia, propôs a sequência das superquadras, com seus comércios locais e equipamentos complementares ao longo do Eixo Rodoviário, solução aprovada de imediato pelos moradores.

REGISTRO DE UMA VIVÊNCIA
De Lucio Costa
Editora 34/Edições Sesc
656 páginas
R$ 150


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