(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

À mestra, com carinho

O compositor Paulo Costta musicou os poemas de sua professora Mabel Velloso, irmã de Caetano e Bethânia. Meu Recôncavo traz o registro do show dele com Moreno, outro integrante da família


postado em 04/03/2019 05:08

Baiana do Recôncavo, Mabel Velloso, de 85 anos, é professora, poeta e cordelista(foto: Acervo)
Baiana do Recôncavo, Mabel Velloso, de 85 anos, é professora, poeta e cordelista (foto: Acervo)

Durante 10 anos, o músico baiano Paulo Costta tentou concretizar o projeto mais pessoal de sua carreira. Sarau-show que virou CD em 2016, e agora lançado em DVD, Meu Recôncavo é mais do que um produto de entretenimento. Trata-se de um mergulho na infância e na trajetória de Paulo. Parceria com o cantor, compositor e produtor Moreno Veloso, o projeto homenageia Mabel Velloso, de 85 anos, irmã de Caetano Veloso e tia de Moreno.

“Costumo dizer que ela foi o primeiro adulto, tirando meus pais, em quem tive confiança total. Mabel foi a minha primeira professora, me alfabetizou. A pessoa que me ensinou a dar os passos iniciais em direção à arte”, ressalta Paulo Costta.

Parceria do Canal Brasil com a gravadora Biscoito Fino, o projeto reúne poemas musicados da educadora, escritora, compositora e cordelista baiana. Costta, que morou em Paris por vários anos (onde ficou conhecido como “embaixador da bossa nova” na França), conta que nunca se esqueceu da maneira como a poesia se faz presente na vida de Mabel. Também é fascinado pelo jeito dela de ensinar.

“Naquela época, se a gente passasse de ano, continuava com a mesma professora. Às vezes, Mabel me protegia para que continuasse sendo aluno dela”, brinca.

PROVOCAÇÕES Paulo sempre teve contato com o talento literário de Mabel, mas só se deu conta disso quando morava na Europa. Certo dia, assistindo pela internet ao programa Provocações, comandado pelo diretor e ator Antônio Abujamra (1932-2015), deparou-se com Circo, poema de sua antiga professora.

“Ao mesmo tempo, era muito triste e belíssimo. Foi então que resolvi fazer uma homenagem a essa figura tão importante para a minha formação como cidadão e artista. Transformei aqueles versos em uma composição”, recorda.

A canção emocionou Mabel. Tempos depois, os dois se reencontraram em Salvador, quando Paulo veio ao Brasil para se apresentar no projeto Ano da França no Brasil. “Ela acabou me levando para Santo Amaro (cidade natal da família Veloso), onde haveria a festa de celebração dos 102 anos e dois meses do nascimento de sua mãe, dona Canô. Depois dos 100, ela queria comemorar todos os meses”, diverte-se.

Durante os festejos, Paulo Costta apresentou ao vivo, pela primeira vez, o poema-canção composto para a irmã de Caetano e Bethânia.

“Foi ali que Mabel me entregou outros poemas. E me incentivou a fazer um disco seguindo aquela linha de poesia e música. Encarei o desafio como a lição de casa passada pela professora. Então, tinha de concluir aquilo – e de uma maneira muito benfeita”, diz.

ESCOLAS Inicialmente, Paulo Costta pensava em algo para ser distribuído nas escolas públicas, justamente porque se tratava de tributo a uma educadora. Tentou patrocínio para o projeto. Sem sucesso, decidiu bancar tudo do próprio bolso.

“Moreno acabou entrando no projeto. Foi de uma gentileza, de uma generosidade... Quando ouviu as faixas, ele se encantou, disse que já estava pronto. Convidou uma turma de amigos, músicos talentosíssimos: Domenico Lancellotti, Jacques Morelenbaum e Bebê Kramer. O resultado ficou maravilhoso”, celebra.

Dirigido pelo cineasta e roteirista Paulo Fontenelle, o DVD, além do making of, traz o registro do show. O cenário reúne obras do artista plástico Odamar Versolatto e as malinhas da exposição dedicada aos 50 anos de carreira de Maria Bethânia, criadas pela artista plástica baiana Vitória Viera. Há também a performance de uma bailarina, representando os orixás e a dança do Recôncavo.

A banda do DVD foi escolhida a dedo por Moreno: Domenico Lancellotti (bateria), Bruno di Lullo (baixo), Zero Telles (percussão), Paulo Mutti (guitarra), Joana Queiroz (clarinete e flauta), Lu Dias e Karol Antunes (vocais). A cantora Illy Gouveia é a convidada especial.

“Agora que a gravadora Biscoito Fino entrou, a gente não só fez o DVD, que, inclusive, é o primeiro da minha carreira e do Moreno, mas o novo lançamento do CD. Ainda quero muito que esse projeto seja distribuído como material pedagógico voltado para iniciação musical. Seria uma forma de democratizar a poesia brasileira, particularmente a do Recôncavo Baiano”, salienta.

BERÇO Por falar no Recôncavo, Paulo Costta – santoamarense por adoção, como escreveu Caetano Veloso, que, aliás, tem a canção Genipapo absoluto no projeto – diz que a região é realmente especial. Não por acaso é berço e inspiração de tantos artistas.

“Como dizia o Vinicius de Moraes, o samba nasceu na Bahia. Veio do Recôncavo, pois ali tinha o samba de roda, a chula que deu origem a tudo isso. O Recôncavo é cheio de charme, música e ritmos”, destaca Paulo Costta. Nascido em Itapetinga, no Centro-Sul do estado, ele se mudou ainda pequeno para Santo Amaro.

No final de fevereiro, o DVD Meu Recôncavo ganhou show de lançamento no Rio de Janeiro. Na sexta-feira que vem, será apresentado em São Paulo. Isso ocorrerá no Dia Internacional da Mulher justamente para lembrar Mabel Velloso.
“Nossa ideia é rodar o país. Mas como é uma produção de alto custo, com cenários e muitos músicos, ainda estamos negociando. Foi uma batalha realizar o projeto, mas valeu muito a pena. Estou muito feliz e realizado”, conclui Paulo Costta.

MEU RECÔNCAVO
DVD
Moreno Veloso e Paulo Costta cantam poemas de Mabel Velloso
Biscoito Fino e Canal Brasil
19 faixas
Preço médio: R$ 40

 

 

 

O CIRCO

Eu sou como um circo de lonas estragadas
Onde o palhaço já não faz mais rir
Onde o trapézio há muito está parado
porque o medo foi morar ali.

Eu sou como um circo de lonas estragadas
Em que a banda já não quer tocar
Onde as jaulas se restaram abertas
porque nem bicho se deixou ficar.

Eu sou como um circo de lonas estragadas
Sem ter mais público para aplaudir
Temendo aqueles que atiram facas
Temendo tudo que lhe quer ferir.

Eu sou como um circo de lonas estragadas
Sem alegria qualquer, sem emoção.
No entanto, existe aquela corda bamba
Onde balança o meu coração.

Poema de Mabel Velloso


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)